Por Gabriela Nascimento e Rodrígo Olivêira

No último dia 25, em uma coletiva de imprensa da seleção da Zâmbia, em pré-jogo contra a Espanha, um assessor da FIFA interrompeu a coletiva após perguntas indiretas sobre o escândalo dentro da seleção africana. A situação atípica ocorreu após duas jornalistas espanholas terem contornado as condições dadas pelo assessor da entidade ao abordarem sobre a goleada contra o Japão, mas ao mesmo tempo incluírem o escândalo de suposto abuso que eclodiu sobre a seleção africana.

A primeira pergunta foi vetada, mas Bruce Mwape, técnico da Zâmbia, respondeu ao segundo questionamento sobre se seria bom para o time a sua saída do time, e ele respondeu: “Qual ambiente está afetando o time em particular? Sobre o que você está falando? Eu gostaria de saber, porque não há maneira de eu deixar o cargo sem razão. Talvez sua razão seja o que você está lendo na imprensa, mas a verdade irá aparecer”, afirmou o técnico.

Após a sua resposta, outra jornalista espanhola fez uma pergunta direta a Barbra Banda sobre as jogadoras terem feito reclamações e pedido a saída do atual técnico à Federação. Foi nesse momento que o assessor FIFA encerrou a coletiva.

Os fatos

Toda a repercussão em torno da seleção da Zâmbia dá-se pelo fato de que no início do mês, poucos dias antes do início da Copa do Mundo Feminina, o jornal inglês The Guardian, publicou uma matéria em que uma jogadora, que não quis se identificar, faz um depoimento o acusando diretamente de praticar assédio sexual contra as jogadoras da seleção. Segundo ela “se ele quiser dormir com alguém, você deve dizer ‘sim’. É normal que o treinador durma com as jogadoras do nosso time”, afirma a jogadora.

Bruce Mwape está no cargo desde 2018, quando levou a seleção africana à sua primeira Copa Feminina. No entanto, desde setembro de 2022, a Associação de Futebol da Zâmbia, afirma ter levado à FIFA uma denúncia de assédio sexual, que segundo fontes na Federação do país, havia sugerido que os acusados seriam Mwape e Kaluba Kangwa do Sub-17. Ainda de acordo com o jornal inglês, as jogadoras são ameaçadas de punição caso falem algo sobre o caso, e a federação do país tem feito vista grossa por conta dos bons resultados da equipe.

No mês seguinte, em outubro, o presidente Andrew Kamanga disse que o caso estava nas mãos da polícia e da FIFA, para que a federação não fosse acusada de “tomar qualquer partido”. No entanto, esse tipo de abuso sexual, não se restringe a apenas ao caso da Zâmbia. Em outros esportes, mundo afora, é recorrente as acusações de assédio sexual contra as mulheres, que após muito tempo do ocorrido, reúnem coragem para denunciar os abusos sofridos.

Grace Chanda foi cortada da seleção da Zâmbia. Imprensa suspeita de retaliação por denúncias de abuso. Foto: Getty Images

Outros casos

Além dos problemas de desigualdade entre as modalidades, as atletas enfrentam casos de violência e assédio. A assessora da equipe feminina do Boca Juniors, Florencia Marco, acusa o treinador Jorge Martínez, por importunação sexual. Além disso, Florencia afirma ter sofrido diversas atitudes que configuram assédio, e intimidação. E também afirma ter sido apalpada pelo treinador.

De acordo com a imprensa argentina, a denúncia foi feita na 22ª Promotoria Nacional Criminal e Correcional, a denúncia foi caracterizada como “abuso sexual simples”, e o caso está em total sigilo. Após a denúncia, a assessora entrou de licença por um protocolo do clube, porém Martínez continuou comandando normalmente o time feminino. Com isso, Florencia apresentou uma queixa contra o treinador na justiça comum. Ela afirmou ter sofrido assédio desde a sua contratação em 2022, porém essa denúncia veio à tona neste ano, quando se comemora o aniversário de 118 anos do clube. Com a grande repercussão, o Boca anunciou o afastamento do treinador.

“Como consequência da denúncia de conhecimento público apresentada contra o treinador da equipe feminina de futebol, Jorge Daniel Martínez, o Boca Juniors informa que o afastou das suas funções até que seja tudo esclarecido e se apurem responsabilidades”, escreveu o clube argentino em comunicado divulgado no site oficial.

Assim como a assessora Florencia, as jogadoras do time Chicago Stars fizeram uma série de denúncias de assédio sexual contra o técnico Rory Dames. Mas apesar das inúmeras denúncias, a federação de futebol não deu importância ao ocorrido. A partir disso, foi feita uma carta das jogadoras para a presidente da federação de futebol e o vice-presidente. Na carta, as jogadoras criticam a postura da entidade e cobram uma investigação do caso.

“A Federação Norte-Americana de Futebol tem a obrigação de defender as suas jogadoras, mas não fez nada em relação aos abusos, que continuaram. Deveria ter imediatamente tirado a licença dos treinadores acusados de agressão. Em vez disso, permitiu que essas pessoas continuassem a exercer (a função). Não garantiram a nossa segurança ou de outras atletas menores que jogam nas equipas de formação”, afirmaram.

Em sua grande maioria, as medidas de afastamento são realizadas após grande repercussão nas mídias. Dessa forma, a carta gerou o aumento de denúncias contra o técnico, que recebeu acusações de diferentes épocas. Os casos foram realizados em 1998 e também em 2018.

Com informações de reportagem de Rafael Reis para o UOL, além de The Guardian, Terra e Globo Esporte.

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Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube