Espaços do Greenwashing: agrizone, espaço Vale, espaço Hydro
Como espaços corporativos usam estética verde para encobrir danos e fabricar uma narrativa de sustentabilidade
Por Chris Zelglia
Nos anos recentes, grandes empresas começaram a investir em centros de experiência, locais interativos que funcionam como demonstrações de inovação, sustentabilidade e responsabilidade social. Agrizone, Espaço Vale e Espaço Hydro são exemplos significativos dessa abordagem. O que eles têm em comum é a construção de uma narrativa cuidadosamente elaborada para reposicionar empresas com histórico ambiental questionável como promotores de um futuro sustentável. Contudo, frequentemente, esses espaços atuam mais como ferramentas de disfarce do que como verdadeiros agentes de mudança.
O greenwashing funciona como uma economia afetiva: uma maneira de gerenciar o impacto emocional das empresas sobre o público. Ao criar ambientes imersivos, visualmente atrativos e tecnologicamente fascinantes, as corporações geram um afeto verde, uma sensação de segurança, esperança e pertencimento a uma agenda sustentável. Entretanto, essa estética oculta práticas que continuam a causar sérios danos sociais e ambientais.
No Agrizone, o discurso sobre inovação no agronegócio enfatiza eficiência, tecnologia e responsabilidade. Contudo, ignora a precarização das condições de trabalho rural, a dependência química do solo e o impacto sobre as comunidades tradicionais. A promessa de um agro inteligente coexiste com culturas que esgotam os recursos naturais e concentram a riqueza.
O Espaço Vale apresenta uma narrativa de regeneração, apostando em museus de alta tecnologia para demonstrar seu compromisso com a segurança e a inovação. No entanto, a memória recente dos desastres de Mariana e Brumadinho ainda resiste ao esforço de apagamento, lembrando que nenhuma curadoria tecnológica consegue eliminar a violência estrutural de um modelo extrativista.
O Espaço Hydro, por outro lado, oferece ao visitante uma experiência futurista que visa reforçar a noção de mineração sustentável. Entretanto, a contaminação por rejeitos, as denúncias de impactos nas comunidades e a vulnerabilidade das áreas amazônicas demonstram que a promessa de sustentabilidade é, muitas vezes, apenas retórica.
Esses centros não operam de maneira neutra: eles moldam subjetividades. A psicanálise nos ensina que as histórias criam mecanismos de defesa. Ao estetizar o dano e transformar a disputa em uma experiência interativa, esses locais funcionam como defesas coletivas contra a ansiedade ecológica. Eles são monumentos à repressão ambiental, espaços onde a realidade é suavizada para evitar o enfrentamento.
Para criar espaços que realmente promovam um futuro sustentável, seria necessário reconhecer a complexidade dos impactos, incluir as vozes dos afetados e revisar os modelos de exploração. Enquanto isso não se concretiza, Agrizone, Vale e Hydro continuam agindo como fachadas de um futuro sustentável que na verdade não existe, pelo menos não da maneira como é apresentado.



