Por Tamara Louise

Adrian Teijido é um dos mais renomados diretores de fotografia do Brasil, com uma carreira de mais de três décadas dedicadas ao cinema e à televisão. Seu portfólio abrange uma ampla variedade de projetos aclamados, como Gonzaga: De Pai para Filho, Medida Provisória, O Palhaço e Marighella. Reconhecido por sua estética sofisticada e narrativa visual envolvente, Teijido já recebeu diversos prêmios, incluindo o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, o Prêmio ABC de Cinematografia e distinções internacionais, como Melhor Fotografia no Festival de Huelva (Espanha) e no Tiburon Film Festival (EUA). Sua contribuição para a cinematografia nacional e internacional consolida seu nome como uma referência no setor.

A Colaboração com Walter Salles

Trabalhar com Walter Salles era um desejo antigo de Teijido. Ele sempre admirou a singularidade do trabalho do diretor e buscava uma oportunidade de colaborar com ele. “Eu sabia que ele era um dos diretores com um trabalho diferenciado. Sempre tive esse desejo de trabalhar com ele e até batalhei um pouco para que isso acontecesse”, contou. Quando a chance surgiu com Ainda Estou Aqui, Teijido não teve dúvidas de que estava diante de um projeto especial. “Ao ler o roteiro, ficou evidente que estávamos fazendo um filme importante. O set era muito emocionante, pois estávamos filmando uma história fundamental para o Brasil.”

Adrian Teijido e Walter Salles durante as gravações de “Ainda estou aqui” – Arquivo pessoal

O Ambiente de trabalho e a direção no set

A experiência e a precisão técnica de Adrian Teijido encontraram no set de Ainda Estou Aqui um ambiente propício à imersão total no projeto. Sob a liderança de Walter Salles, a produção se destacou pela seriedade e pelo compromisso com a narrativa, criando uma dinâmica de trabalho que permitiu a todos se dedicarem ao máximo.

Teijido ressaltou como essa atmosfera influenciou positivamente o resultado final do filme. “O set não era disperso. Pelo contrário, não era tenso, mas intenso. Isso fez toda a diferença para o desempenho da equipe.” A concentração e o cuidado com cada detalhe da fotografia garantiram que a estética do filme fosse construída com profundidade, sem distrações que comprometessem a imersão na história.

Construção estética e referências visuais

A construção visual de Ainda Estou Aqui foi um processo de intensa colaboração entre Adrian Teijido e Walter Salles. O diretor já tinha referências muito claras em mente, mas sempre abria espaço para contribuições e ajustes. “O Walter tinha muitas coisas bem definidas na cabeça, mas também havia espaço para sugestões e ajustes. Ele tinha memórias e sensações muito claras do que queria. Por exemplo, a primeira fase do filme precisava ser muito solar, refletindo o Rio de Janeiro.”

Além das referências cinematográficas, Salles incentivou Teijido a explorar novas influências artísticas. Um exemplo marcante foi o livro sobre o pintor dinamarquês Vilhelm Hammershøi, que o diretor presenteou ao diretor de fotografia. “Foi interessante, porque a casa no filme se transformou em um personagem. Filmamos os ambientes influenciados por essas pinturas, com profundidades e ausências marcantes.” Esse cuidado na construção dos espaços fez com que a luz e os cenários tivessem um papel narrativo essencial no filme.

Experiência e influências de Marighella

A experiência de Teijido em Marighella também teve um impacto significativo em seu trabalho em Ainda Estou Aqui. Ele já havia pesquisado profundamente o contexto da ditadura militar e pôde aplicar esse conhecimento para enriquecer a fotografia do novo filme. “Meu conhecimento prévio foi muito útil. Já havia trabalhado em Marighella, um filme que também aborda a ditadura militar, e o contexto histórico é semelhante. A pesquisa visual feita anteriormente foi essencial para entender as atmosferas e contextos que se repetem aqui.” A possibilidade de resgatar e aprofundar esse estudo ajudou a criar uma identidade visual autêntica e coerente com a época retratada no filme.

Família Paiva e Fidelidade Histórica

Para garantir ainda mais realismo à narrativa, Adrian teve acesso a registros fotográficos da família Paiva, o que contribuiu para a construção visual do filme. “Tínhamos muitas fotos originais, que pudemos analisar e até reproduzir. Essas informações foram fundamentais para a construção visual.” A precisão na recriação desses elementos ajudou a manter a fidelidade histórica e emocional da história, permitindo que o público mergulhasse na trajetória dos personagens.

Foto: Arquivo Pessoal/Globoplay

Desafios técnicos no set

Como em qualquer produção cinematográfica, Ainda Estou Aqui teve seus desafios técnicos. Entre eles, as cenas filmadas dentro de um carro no Rio de Janeiro exigiram soluções criativas para manter a qualidade da fotografia. “Essas sequências são sempre complicadas. Às vezes, a Nanda estava dirigindo, às vezes não. O barulho do carro e a luz nem sempre ajudavam. Ou algo que não deveria ser enquadrado em cena. São fatores imprevisíveis que fazem parte do set e fogem do nosso controle.”

Outro grande desafio foram as cenas aquáticas, que exigiram técnicas raramente utilizadas nos dias de hoje. “Filmamos em 35mm dentro d’água, o que já não se faz mais, mas fizemos. A água estava muito gelada, e a Nanda estava sem neoprene. Foi duro. Às vezes, ela tremia, com os dedos e a boca batendo.” Mesmo com essas dificuldades, o comprometimento da equipe garantiu que cada cena fosse capturada com excelência.

Um Projeto no momento certo da carreira

Ao olhar para trás, Teijido reconhece que sua participação em Ainda Estou Aqui aconteceu no momento certo de sua trajetória. Ele acredita que todo o seu conhecimento acumulado em filmes anteriores foi essencial para esse projeto. “Fiz esse filme neste momento da minha vida por causa de toda minha vivência. Os projetos anteriores, especialmente os que trabalhei em película, ajudaram muito nesse processo. Foi interessante resgatar essas informações. Foi um grande desafio, mas algo que já estava no meu DNA.”

Por fim, ele destacou sua confiança na atuação de Fernanda Torres desde o início, prevendo o reconhecimento que ela receberia por sua performance. “Eu sabia que a Nanda iria arrasar. Ia ganhar prêmio, ia ser reconhecida. Eu não tinha dúvida disso. A performance dela estava indiscutível.”

Foto: Arquivo Pessoal

Com um olhar apurado e uma trajetória marcada por projetos de grande relevância, Adrian Teijido reafirma seu compromisso com a narrativa visual e a autenticidade cinematográfica. Ainda Estou Aqui não é apenas mais um trabalho em sua carreira, mas um projeto que dialoga profundamente com sua experiência e sensibilidade. A dedicação da equipe, a parceria com Walter Salles e a potência da história contada no filme fazem desta obra um marco, tanto para o cinema nacional e mundial quanto para a trajetória do diretor de fotografia.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.