Entrevista a Andrés Arauz, candidato à presidência do Equador
Confira a entrevista à Andrés Arauz, economista e candidato à presidência da nação sul-americana pelo Centro Democrático, o Partido do ex-presidente Rafael Correa.
O Equador está se preparando para as eleições gerais programadas para esse domingo 7 de fevereiro. Denis Rogatyuk entrevistou Andrés Arauz, economista e candidato à presidência da nação sul-americana pelo Centro Democrático, o Partido do ex-presidente Rafael Correa.
Denis Rogatyuk (DR): Quais são as medidas que vocês planejam para resolver o desemprego e promover a recuperação econômica no Equador?
Andrés Arauz (AA): Nossa principal e quase única prioridade a curto prazo é a recuperação econômica, mas agora isto também depende da recuperação da saúde. Se não tem vacina, podemos fazer muitas coisas mas necessitamos que a atividade econômica retorne, por isso, consideramos também que a vacina é uma prioridade.
Agora, nós sabemos que até que o Equador vá se vacinando, até que se vá gerando fontes de trabalho, até que o Estado recupere sua força para retomar as obras públicas, necessitamos dar uma ajuda imediata, e para isso, propusemos U$ 1.000 a um milhão de famílias equatorianas na primeira semana do nosso governo. Dessa maneira, ajudamos a impulsionar a economia familiar, pode-se pagar alguma dívida, compram medicamentos, alimentos, roupas e também se sobre algo, é possível empreender, mas o importante é que com isso reativamos toda a economia nacional porque a mãe de família vai ao mercado, a venda, ao comércio local e começa a dinamizar a economia, começa a ter mais circulação, mais dinheiro e isso melhora a situação.
DR: Qual é o seu plano principal para renegociar tanto a dívida como o acordo com o FMI?
AA: Nós vamos primeiro usar os recursos que já existem no Equador, mas que o atual governo tem permitido que saiam e se escondam no exterior, em Miami, no Panamá, na Suíça. Este dinheiro tem que voltar ao Equador para financiar nosso desenvolvimento, nossos interesses, não aventuras de guerra de outros países.
Agora, diferente deles, nós estabeleceremos condições dignas com nosso plano econômico soberano, que busca o crescimento econômico, que busca resolver o problema do desemprego, gerar trabalho, gerar novamente construção e serviço público e, se esse plano equatoriano o FMI quiser nos ajudar, seja bem vindo, mas assim como está agora o acordo com o FMI, nós não vamos cumprir.
DR: Qual será o grande legado que ficará na história e levará a marca de Andrés Arauz?
AA: O grande desafio que nós temos é sair com êxito da pandemia, nós vamos mostrar que é possível ter um governo digno. Lamentavelmente agora nós não podemos ter grandes feitos porque temos que sair primeiro de nossa crise.
E serei sincero, o grande feito que vamos ter em nosso governo é mostrar que se pode ter um governo que respeite a dignidade das pessoas, que não aproveite a crise para dar mais poder aos mais ricos, que não aproveite a crise para bater nas pessoas quando estão na lona, nós, ao contrário, vamos demonstrar que se pode ter um governo do povo e quando sairmos da pandemia, os primeiros anos, talvez dois anos dependendo das condições normais, ai sim, vamos por em prática algo muito importante que é recuperar o futuro e por no centro da transformação da sociedade a educação.
Meu desejo e meu sonho é que possamos ter o melhor sistema educativo da América Latina através da ciência, tecnologia, inovação, do conhecimento, da conectividade universal, da internet, e que os jovens equatorianos sejam protagonistas de sua sociedade e mudança que nosso país requer.
DR: Você se sente parte dos povos originários do Equador? Como se sente sobre a ideologia de Sumak Kawsay e de que maneira você aspira aplicar os princípios disso em seu futuro governo?
AA: Me sinto parte do Estado Plurinacional e Intercultural que está posto constitucionalmente, porque toda nossa América Latina é Plurinacional e Intercultural e é importantíssimo que saibamos reconhecer o que diz a Constituição, é importante que reconheçamos os diversos atores que fazem parte das nossas culturas. Temos que sair da lógica colonial ou neocolonial e começar a reconhecer nossa diversidade como nossa principal riqueza.
Eu tenho tido mais proximidade com os povos indígenas, com as nacionalidades indígenas de nossa pátria, mas também com os povos afro, com o povo montubio do Equador porque precisamos fazer um chamado já para a unidade. Este país não aguenta mais broncas entre políticos, já não aguenta mais políticas repressivas que causaram tanta dor e dano a nossa sociedade como foi em outubro de 2019.
Precisamos nos reconciliar como país sobre a base de um projeto de futuro como é a Constituição do Bem Vivir, essa utopia que deve dar rumo a todo o Equador, independentemente de povo ou nacionalidade a que pertençamos, necessitamos construir essa unidade e podem contar comigo para isso, não para as broncas, cotoveladas nem para armadilhas, mas sim para dar soluções ao nosso povo.
DR: Como você vê o futuro da relação com a Conaie e outros movimentos indígenas?
AA: Muito boa, eu vejo excelentes oportunidades de poder construir e implementar o Estado Plurinacional e Intercultural, com a Conaie, mas também com cada um dos povos e nacionalidades indígenas de nossa pátria, com as bases das organizações, com as comunidades que estão em cada um dos territórios porque temos que avançar em matéria de risco, de projetos produtivos, de crédito, de apoio a cooperativas indígenas de poupança e crédito de nosso país, em matéria de poder ter um sistema educativo de altíssima qualidade que preserve nossas línguas ancestrais.
Vamos declarar em emergência as línguas ancestrais no primeiro dia do nosso governo, para preservar um sistema de justiça indígena não só para atos políticos mas para ajudar nos trâmites administrativos de nossas comunidades e que não tenham que viajar a capital para resolver seus problemas.
Existem muitas oportunidades e nosso governo não só buscará implementar o Estado Plurinacional e Intercultural, mas sim, terá uma equipe plurinacional e intercultural.
DR: Você acredita que a sabotagem eleitoral contra sua candidatura tenha debilitado sua campanha? Se sim, de que maneira?
AA: Creio que tentaram debilitar nossa campanha, nossa força com o povo equatoriano, mas ao contrário, não conseguiram isso. O povo equatoriano tem tido uma imensa solidariedade e simpatia com esta proposta que representa a maioria do povo equatoriano. Nossa identidade é primeiro patriótica, logo democrática e progressista, então eu acredito que quem tentou colocar armadilhas agora está muito arrependido porque não fizeram mais que nos projetar ainda mais ao coração dos equatorianos e agora estamos em primeiro nos corações, em primeiros nas cédulas e o povo equatoriano se pronunciará com contundência neste 7 de fevereiro, para que possamos começar a trabalhar pelo futuro do nosso país, pelos equatorianos, pelos latinoamericanos que nos veem, a partir de 8 de fevereiro como presidente eleito.
DR: Eu vi que o povo equatoriano tem um coração rebelde também…
AA: Com certeza, e é uma rebeldia totalmente justificada por séculos de opressão, de um governo nefasto que nos vem maltratando. Eu quero agradecer a uma coisa do governo Moreno, que despertou novamente essa energia, essa indignação juvenil que esteve escondida durante vários anos e que em outubro do ano passado voltou a surgir
Agora existe uma consciência mais crítica do rol da política em nossa sociedade e isso vai nos permitir que junto com a juventude, com os povos, com as mulheres de nossa pátria, com os trabalhadores, vamos recuperar o futuro e a dignidade.
DR: O atual ministro da saúde tomou a vacina antes inclusive de todos os que estão na linha de frente de combate à pandemia. O que você pensa sobre isso?
AA: É realmente indignante, não só ter trazido apenas 8 mil doses, que são 4 mil vacinas, como não dedicá-las às pessoas da linha de frente, e sim a seus amigos, familiares, numa grande trapaça ao povo equatoriano. Isso é imperdoável, isso eu acredito que vai trazer consequências duras por ter trapaceado o povo equatoriano, por ter abusado da confiança, por ter violado seu próprio juramento como médico (que é o ministro) de defender primeiro a vida e a dignidade humana, isso é imperdoável e terá que enfrentar as consequências em nosso futuro governo.
Creio que precisamos avançar muito mais em matéria de vacina, nossa prioridade é que o povo equatoriano tenha a vacina primeiro, nosso pessoal da saúde, nossos soldados, nossa polícia, nossos professores, nossos docentes para que a juventude, a sociedade e, sobretudo, em sociedades como a nossa que precisam se reequilibrar os papéis do homem e da mulher, porque as mães de família estão virando as professoras, enfermeiras, as cuidadoras, as reitoras, as zeladoras, as administradoras, além de seus trabalhos em seus empregos e cuidado de suas famílias.
Por isso a vacina é indispensável, por isso que nós começamos essas ações com antecedência, e não só pensando como lamentavelmente pensa este governo, só com os critérios geopolíticos de que só iam trazer a vacina dos Estados Unidos porque era que permitiam seus chefes. Nós necessitamos diversificar o fornecimento da vacina, e temos feito os esforços iniciais com a vacina de Oxford, produzida na Argentina, para que possa chegar a todo território equatoriano. A vacina da Pfizer requer refrigeração de pelo menos 70 ºC, só disponível em Quito e Guaiaquil, com a vacina da Argentina e as outras que se desenvolvem pelo mundo que podem chegar a todas as províncias do Equador porque só precisam de refrigeração convencional, que está disponível em nossos centros de saúde de todo o país, os centros de saúde que construiu a Revolução Cidadã.
DR: Uma das principais críticas que ouvimos da oposição é que você é um clone de Rafael Correa. O que você pensa dessas comparações?
AA: Bom, clone nós não somos. Rafael é um amigo, um companheiro, concordamos politicamente nas necessidades de nosso país, mas nós somos uma versão melhorada, eu sou de uma nova geração, temos esse princípio de renovação geracional, vamos injetar energia, juventude, inovação, criatividade, contemporaneidade, a proposta política da Revolução Cidadã. Então, clones não, mas a versão melhorada para poder contribuir com nosso país.
DR: Se eleito, quem vai governar, você ou Correa?
AA: Em 24 de maio quando eu jurar respeitar a Constituição do Equador e fazê-la ser cumprida, vou respeitar o que diz a Constituição, que diz que quem toma as decisões é o presidente da República. O presidente da República serei eu, Rafael será um de meus principais assessores.
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