Por Ricardo Soares

Entre os dias 4 e 9 de setembro, no cinema do Teatro do Parque, em Pernambuco, acontecerá o Cine PE 2023, festival que chega à sua 27ª edição com 752 filmes inscritos, superando a edição anterior.

Entre os filmes selecionados para a mostra competitiva nacional de longa-metragem, “Entrelinhas”, do cineasta Guto Pasko, fará sua estreia no festival com uma produção inspirada em fatos reais.

O filme acompanha a história das irmãs Ana Beatriz Fortes e Elisabeth Franco Fortes, que foram presas durante a ditadura militar em Curitiba. E onde Ana Beatriz, aos 17 anos, foi torturada por dez dias acusada de pertencer ao movimento estudantil, considerado subversivo, e a integrar uma guerrilha armada que lutava contra o regime, a VAR-Palmares, conforme diz a sinopse do filme.

A história, que ocorreu em 1970 nas cidades de Curitiba e Foz do Iguaçu, chegou nas mãos do cineasta em 2005, quando estava produzindo um documentário: Eu estava na Ucrânia gravando um documentário chamado “Made In Ucrânia”, e no dia 24 de agosto de 2005, dia da Independência do país, após um dia inteiro de filmagens na Capital Kyiv (Kiev), ao retornar com a equipe para o hotel onde estávamos hospedados, encontrei, por acaso, um amigo do Brasil chamado Vitório Sorotiuk, que é o presidente da comunidade ucraniana brasileira. Fomos jantar juntos naquela noite e neste dia, ele me falou que tinha uma história que daria um filme e me contou a história real das duas irmãs. E ao narrar a história na mesa de um restaurante no leste europeu, percebi que ali de fato havia uma história potente para um filme”, nos conta Guto Pasko.

Ainda segundo ele, Vitório Sorotiuk conheceu uma das irmãs, a Elisabeth, pois ambos foram presos pelo regime militar durante um congresso estudantil. E ele, que também é retratado no longa, foi o elo de encontro com as irmãs para o início do processo de pesquisa do filme. “Elas foram muito generosas e abriram todos os fatos reais ocorridos com elas. Gravei entrevistas com elas e esses relatos embasam o argumento para o roteiro”, completa Guto.

Foto: Still/Natasha Dursk

Em 2012, com o argumento em mãos e escrito por ele próprio, o cineasta vivenciou um processo de 10 anos até o roteiro final. Inicialmente, convidou os roteiristas Tiago Lipka e Rafael Monteiro para o processo de elaboração do roteiro. Foram sete tratamentos escritos por eles, quando por outros compromissos não puderam seguir adiante. A partir daí, Guto resolveu assumir essa função escrevendo da 8ª à 11ª versão, e esta última, foi selecionada para o laboratório de desenvolvimento de roteiros da Fundação Carolina em Madrid na Espanha. Lá, o roteiro passou por duas etapas de supervisão, sendo a última, com tutoria do cineasta chileno Sebástian Claro, e assim finalizando o 13º tratamento como roteiro final do projeto.

O cineasta afirma que não houveram resistências para que ele tivesse acesso às informações e materiais sobre essa história. Até porque muito do que é retratado já se encontra, hoje, disponível publicamente graças à comissão da verdade criada no governo Dilma Rousseff.

Durante o processo de pré-produção, a produtora do filme, GP7 Cinema, movimentou as redes sociais com a seleção do elenco. Foram 2,1 mil atores participando dos testes em quatro etapas distintas durante oito meses de processo de seleção até o anúncio dos 39 atores que compõem todo o elenco do filme.

“Não podíamos errar, sobretudo na escolha da jovem protagonista. Temos atores de diversos lugares do Brasil escalados para o filme. A protagonista, a atriz Gabriela Freire, por exemplo, é do Maranhão, afirma Guto.

Em dezembro de 2022, o filme foi selecionado para a seção FIP – Films in Progress do Ventana Sur, na Argentina, que é considerado o evento de mercado audiovisual mais importante da América Latina. Segundo Guto, essa participação estabeleceu conexões importantes com curadorias de festivais e para vendas do filme no mercado internacional.

O longa, que tem distribuição da Elo Studios, tem previsão para lançamento nacional em maio de 2024. Já a estreia internacional está prevista que aconteça até o final deste ano num importante festival, mas essa informação ainda sigilosa, só será divulgada pela curadoria do mesmo.

“Acredito que a contribuição que o filme vai trazer é uma reflexão para esse momento político que o Brasil atravessa, em que parte significativa da sociedade deseja a volta de um governo militar. A partir de uma história real que aconteceu em 1970, estamos falando do Brasil de hoje. Essa foi a minha principal motivação para fazer esse filme de época tão desafiador”, finaliza Guto.

Ficha Técnica

Direção: Guto Pasko
Roteiro: Guto Pasko, Tiago Lipka, Rafael Monteiro e Sebástian S Claro.
Produzido por: Andréia Kaláboa e Guto Pasko
Produção Executiva: Amarildo Martins
Direção de Produção: Jefe Miranda
Direção de Arte: Isabelle Bittencourt
Direção de Fotografia: Alziro Barboza
Montagem: Lucas Cesario Pereira
Edição de Som: Kiko Ferraz e Christian Vaisz
1a. Assistente de Direção: Kelly Bill
Diretor Assistente: Sebástian S Claro
Elenco Principal: Gabriela Freire, Leandro Daniel, Daniel Chagas, Eduardo Borelli, Carlos Vilas Boas, Renet Lyon, Mauro Zanatta, Patrícia Saravy e Lais Cristina.

Pôster oficial do filme. Foto: Divulgação