‘Entrelinhas’ chega aos cinemas retratando a brutalidade da tortura e a resistência estudantil na ditadura militar
Longa conta a história real de Ana Beatriz Fortes, estudante paranaense torturada pelo DOPS em 1970
Por Isabella Vilela
Nesta quinta-feira (22), chega aos cinemas o longa “Entrelinhas”, uma produção da GP7 Cinema em parceria com a distribuidora Elo Studios. O filme, que garantiu os prêmios de Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Montagem, Direção de Arte e Edição de Som no Festival Cine PE 2023, traz ao público uma narrativa baseada em fatos reais durante a ditadura militar, um dos capítulos mais sombrios da história brasileira.
Dirigido por Guto Pasko, o longa se passa em 1970, no auge da repressão militar, ao contar a história de Ana Beatriz Fortes, uma estudante de 18 anos que foi brutalmente torturada pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) após ser acusada de colaborar com movimentos estudantis “subversivos”. Ana Beatriz se torna o centro de uma narrativa que, além de recontar fatos históricos, busca despertar reflexões necessárias na sociedade brasileira atual.
Durante a coletiva de imprensa realizada esta semana, Pasko compartilhou sobre a complexidade envolvida na criação do roteiro. “O grande desafio que enfrentamos é como contar essa história em um filme. É uma história real e muito forte e o desafio é decidir a partir de que recorte ela será apresentada à sociedade de forma que passe a mensagem necessária agora”, comentou. Ele também ressaltou o cuidado da equipe e do elenco em evitar o didatismo, buscando se comunicar com o público através de metáforas e referências sutis. “Toda a história está nas entrelinhas, com pequenas referências e muitas metáforas. Por exemplo, o final do filme, eu espero também que funcione como uma metáfora para a era mitológica brasileira que vivenciamos recentemente”.
Gabriela Freire, que dá vida à protagonista, falou sobre a relevância de trazer essa história à tona, especialmente no contexto atual do Brasil. “Acho que trazer essa história agora é importante para aproximar as pessoas e levantar várias camadas de discussão”, afirmou a atriz. “Uma delas é entender que a Beatriz é uma pessoa real que vive conosco hoje e carrega essas memórias. É importante reconhecer que a ditadura não é algo totalmente superado”.
A atriz também comentou sobre o desconhecimento de muitos sobre a duração e as implicações da ditadura militar no Brasil. “Muita gente comentando que não sabia que a ditadura foi até 1985, o que não foi há tanto tempo. O discurso e a representação da Beatriz também são temas ainda presentes nas discussões atuais. Espero que o filme seja recebido como um convite à reflexão, para entender que essa é uma luta que ainda precisamos continuar”.