por Vanessa Vieira

No coração de Belém, entre os camarotes privados e as arquibancadas cada vez mais caras e disputadas, surge um espaço onde o povo periférico volta ao centro do Círio. No lugar dos cartazes tradicionais, no primeiro piso do edifício Manoel Pinto — prédio histórico da cidade —, vê-se uma faixa de aparelhagem que anuncia: “Laje da Naza: Gaby Amarantos e a Galera da Laje saúdam a Rainha da Amazônia.”

A cena é de emocionar qualquer cético. Idealizada por Gaby Amarantos, a iniciativa transformou o local — com vista privilegiada da principal procissão do Círio, na passagem da Berlinda para a Basílica Santuário, que há alguns anos enfrenta um processo de gentrificação e embranquecimento — em um palco coletivo de celebração, resistência e pertencimento.

Assessoria Gaby Amarantos

Em entrevista, Gaby reforçou a importância de uma laje nesse local:
“Tá levantando uma discussão que eu acho muito saudável, muito boa, que sim, a periferia tem que ocupar todos os espaços de poder. É superimportante a gente estar em todos os espaços. A gente quer estar no chão, a gente quer estar na corda, mas a gente também quer estar nos espaços de poder. E a Laje é a periferia em um espaço de poder.”

Artistas locais e nacionais, ativistas e agitadores culturais acompanharam a passagem da Berlinda a caminho da Basílica, em uma procissão com música, fé e festa — ressignificando quem tem direito de ver e viver o Círio de perto. Em 2025, a Laje da Naza contou com vários homenageados, entre eles a cantora de tecnobrega Keila Gentil, que todos os anos cumpre a promessa de cantar para Nossa Senhora de Nazaré:
“Marcando presença na Laje da Naza, junto com a Gaby, junto das embaixadoras, porque a gente representa fortemente a periferia com muito orgulho. A periferia neste lugar de poder, no lugar de assistir ao Círio de Nazaré de cima — um lugar que por muito tempo nos foi negado, por muito tempo foi um lugar distante para que nós estivéssemos presentes.”

Assessoria Gaby Amarantos

Não é por acaso que o Círio de Nazaré é considerado o Natal dos paraenses. Ele é a apoteose de todas as manifestações e códigos culturais — com suas faltas e contradições, mas também com o levante, a ocupação e a retomada do poder.