Entre o racional e o irracional: os rituais pré-competição dos atletas olímpicos
Entrar com o pé direito, fazer o sinal da cruz, beijar um amuleto – esses e muitos outros rituais fazem parte da preparação em busca da sonhada medalha olímpica
Por Ágata Abreu
Ritual: Na psicologia do esporte, um ritual é a repetição de padrões que visa alcançar certos comportamentos, contribuindo para a eficácia das rotinas competitivas.
Superstição: substantivo feminino; crença em presságio que se tira de acidentes e circunstâncias meramente fortuitas, em situações com relações de causalidade que não se podem mostrar de forma racional ou empírica.
As definições acima, retiradas do dicionário e de textos acadêmicos, embora diferentes, se assemelham na tentativa de explicar hábitos que transformam incertezas em confiança e eficácia. São comportamentos que adotamos sem uma razão específica – simplesmente porque sim, e por que não? Eles nos envolvem em segurança, fazendo com que, sem eles, nos sintamos vulneráveis.
Essa lógica permeia o universo daqueles que se preparam para grandes competições, que podem ser as mais importantes de suas vidas. Em entrevista para a TV Globo, a jogadora Tamires Dias, lateral-esquerda da seleção brasileira, compartilhou que seu ritual inclui sempre calçar a chuteira direita e colocar a caneleira direita primeiro. Antes de entrar em campo, ela decide se vai pisar com o pé direito ou esquerdo, dependendo de sua atuação e de qual pé usou na partida anterior.
Michael Phelps tinha como ritual girar o braço pelo menos três vezes minutos antes de subir no bloco de impulso. Esse gesto não apenas fazia parte de sua preparação física e mental, mas também simbolizava sua busca por concentração e foco antes das competições.
A ciclista britânica Laura Kenny, campeã olímpica em Londres, tem um ritual peculiar antes das corridas: gosta de pisar em uma toalha molhada para ficar com as meias úmidas antes de colocar as sapatilhas de corrida. O hábito começou quando ela venceu uma corrida na categoria júnior, competindo acidentalmente com as meias ainda molhadas.
A ex-tenista Serena Williams, uma das maiores atletas de todos os tempos, costumava levar suas sandálias para a quadra, amarrar os cadarços de maneira específica e bater a bola cinco vezes no chão. Esses pequenos detalhes faziam parte de sua preparação antes de cada partida.
A atleta brasileira de ginástica rítmica Bárbara Domingos segue um ritual preciso antes de suas apresentações: passa a coreografia na cabeça, faz uma breve oração e dobra a toalha de maneira específica antes de entregá-la à técnica. Em um vídeo divulgado pela TV Globo, ela expressou sua convicção de que esses rituais são essenciais para seu desempenho: “Acredito que se eu não fizer isso, não vou conseguir fazer nada”.
Quer façam sentido ou não, os rituais e superstições são quase universais no ambiente esportivo, proporcionando uma sensação de segurança e controle que muitos atletas consideram essencial para um bom desempenho. Esses hábitos, muitas vezes inexplicáveis, ajudam a transformar a ansiedade e o nervosismo em foco e confiança, criando uma mentalidade mais positiva.