por Júlia Neves e Mica Pereira para a Cobertura Colaborativa NINJA COP30

Mais de 1.900 km de distância separam Alagoas de Belém do Pará, sede da COP30. Apesar dos muitos quilômetros, essa foi a primeira vez que uma cidade brasileira recebe o maior evento global sobre o clima, levando muitos ativistas do país e do mundo a se deslumbrarem com a possibilidade de participar. Entre eles estavam Flávio Henrique, Jaiane Bruna e Carlos André. Os três jovens alagoanos, engajados na pauta do meio ambiente, contaram para a nossa equipe de cobertura como foi essa experiência..

Flávio Henrique

Para o comunicador e estudante de Relações Públicas, natural de Colônia Leopoldina, Flávio Henrique Santos (20), a notícia de que estaria na COP chegou com alguns meses de antecedência, ainda em maio. Isso ocorreu por meio de uma seleção entre os membros da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (RENAJOC), coletivo do qual faz parte. Dois meses após a confirmação, o estudante iniciou os preparativos para a sua participação no evento, entrando na Residência Educomunicativa Rumo à COP30, que proporcionou um percurso formativo a mais de 80 jovens, com formações em comunicação, justiça climática e outras linguagens comunicativas.

Uma das metas de Flávio era utilizar a comunicação como ferramenta para democratizar mais as discussões que acontecem na Conferência – já que, para ele, trata-se de um lugar onde um grupo minoritário é quem toma as decisões. “Minha principal expectativa com a COP é fazer da minha produção comunicativa um meio para democratizar as discussões que acontecem, levando-as a todos aqueles a quem as decisões mais interessam e que ainda são pouco escutados”, disse.

O comunicador ainda ressaltou a importância da participação da juventude para pensar nas formas de promover justiça social e ambiental, acreditando que são mais conscientes, engajados e mobilizados no combate às tentativas de destruição das formas de viver.

Sereia Climática

Jaiane Bruna (24), mais conhecida como Sereia Climática, é natural de União dos Palmares e ativista da organização de lideranças jovens ‘’Engajamundo’’. Participando pela segunda vez da Conferência das Partes – esteve na COP28, em Dubai – ela conta sobre o pioneirismo do seu coletivo em levar jovens para o grande evento. “O Engajamundo tem um histórico de 10 anos nas conferências de clima e fomos a primeira organização a levar uma delegação de juventudes para esse espaço, que não é feito para a sociedade civil, muito menos para nós, jovens. Começamos com o objetivo de colocá-los dentro desse espaço, mas hoje nossa missão é mostrar que somos técnicos também, que sabemos e entendemos o que está sendo negociado “, relembrou.

Para a ativista, a COP30 possui um caráter histórico por estar sendo sediada em um país democrático – o que possibilita a maior participação das pessoas, diferente do ano anterior. “O que eu tenho escutado é que a COP30 está sendo a COP do povo, porque o brasileiro tem gosto de participar das coisas… Todos os espaços fora da Blue Zone estavam sempre ocupados pela população de Belém e, mesmo que nas outras COPs existissem eventos paralelos envolvendo o público, ainda não se compara a proporção que tem sido no Brasil”, afirmou.

Ainda, Jaiane disse que o fato de empresas responsáveis por desastres ambientais, como a Vale e a Braskem, estarem participando e até patrocinando o evento, não faz com que os crimes cometidos sejam esquecidos. Muito pelo contrário, a reivindicação é que eles vejam e saibam que todo mundo está “de olho”. “Eles podem estar do outro lado do mundo ou em casa, mas não esqueceremos o que fizeram e o que estão fazendo. Nossa reivindicação sempre é incomodar e mostrar que não deixaremos essa empresa criminosa em paz, já que eles também não deixam nosso povo em paz”, falou.

Nesse sentido, Sereia Climática reiterou a importância do ativismo dentro dos espaços da ONU e da mídia como aliada para garantir que o debate do clima ultrapasse os muros dos espaços oficiais; e afirmou que atos como a Marcha Mundial pelo Clima passam uma mensagem aos governantes de que não aceitarão, de forma passiva, que decidam seus futuros.

Carlos André

Carlos André Monteiro (19), também natural de União dos Palmares, iniciou seu envolvimento no ativismo ambiental há dois anos, meio por acaso. Um dia, viu o anúncio de um sarau literário que aconteceria na sua cidade e, coincidentemente, quem estava na organização era Jaiane Bruna, já ativista ambiental. Curioso com aquilo tudo, o jovem Carlos quis logo saber o que era e como funcionava o Engajamundo. “Ela me explicou o que era e disse que era ativista ambiental. Na hora, sem pensar duas vezes, falei que queria muito fazer parte daquilo. Um ano depois, entrei no coletivo”.

Antes de estar na COP, o ativista pôde representar o grupo na Conferência de Clima das Juventudes (RCOY), no ano passado, compondo o time de comunicação. Para ele, não é possível discutir mudança climática sem ouvir quem mais é e ainda será afetado por ela e, por isso, considera fundamental a participação da juventude ativista nesse processo. “Trazer a juventude para o centro do debate é mais que necessário: é fazer com que líderes do Sul e do Norte Global nos enxerguem não como peões do seu jogo, mas como cidadãos que precisam ser ouvidos”, indagou Carlos.

Ao pensar nas questões ambientais que atravessam seu estado, o ativista disse sentir revolta ao saber que os responsáveis pelo afundamento do solo de vários bairros em Maceió estão participando da COP para falar sobre sustentabilidade. “Além de ter causado um dos maiores desastres ambientais do Brasil, a empresa continua falando de transição e sustentabilidade como se não tivesse destruído a vida de milhares de pessoas que até hoje seguem desamparadas pelos mesmos responsáveis”,  relembra o acontecido.

Além disso, Carlos André salientou a relevância de ver os avanços do país no debate climático e afirmou o papel significativo que os povos originários têm nesse processo, ao não se calarem e seguirem firmes e fortes em suas reivindicações.

Os(as) três jovens voltam para Alagoas não apenas com as lembranças do que vivenciaram em Belém, mas com a certeza de que a luta pelo clima é, acima de tudo, uma luta coletiva e urgente para todos(as). Além de demonstrar que não é preciso um assento oficial do governo para fazer a diferença, a jornada deles(as) lembra que, embora as soluções sejam negociadas em palcos internacionais, a verdadeira revolução climática acontece no dia a dia, quando jovens decidem se levantar e proteger o próprio futuro.