Enquanto as maiores cidades do mundo voltam atrás na privatização do serviço de água e esgoto, o governo de São Paulo insiste no modelo de privatização da Sabesp, apesar de fortes críticas ao modelo.

A cidade de Berlim decidiu reestatizar sua companhia de água e esgoto. Esta decisão é uma resposta direta às críticas e à insatisfação da população em relação à privatização do serviço, que ocorreu em 1999. Na época, a empresa estatal Berliner Wasserbetriebe foi parcialmente vendida para empresas privadas, prometendo melhorias na eficiência e na qualidade do serviço. No entanto, o resultado foi um aumento significativo nas tarifas e uma percepção de piora na qualidade dos serviços prestados.

A reestatização foi impulsionada por um referendo realizado em 2011, onde a maioria dos berlinenses votou a favor da retomada do controle público sobre a companhia de água. O processo de reestatização foi concluído em 2013 e, desde então, a cidade tem trabalhado para reduzir as tarifas e melhorar a infraestrutura. A principal motivação para a reestatização foi a crença de que a água, sendo um recurso essencial para a vida, deve ser gerida como um bem público, e não como uma mercadoria para gerar lucro.

Berlim não está sozinha

Berlim não é a única cidade a reverter a privatização de seus serviços de água. Paris reestatizou seu serviço de água em 2010, após anos de controle privado que resultaram em aumentos de tarifas e queixas sobre a qualidade. Desde então, a cidade viu uma redução significativa nos preços e uma melhora na gestão dos recursos hídricos. Em Buenos Aires, a privatização do serviço de água na década de 1990 levou a uma série de problemas, incluindo falta de investimento em infraestrutura e má qualidade do serviço. A cidade optou por reestatizar a companhia em 2006 e, desde então, tem feito investimentos significativos para melhorar o sistema.

A reestatização dos serviços de água tem mostrado benefícios tangíveis para a população. Em Paris, a empresa pública Eau de Paris conseguiu reduzir as tarifas em cerca de 8% nos primeiros anos após a reestatização, além de investir mais em infraestrutura e melhorar a qualidade da água. Berlim seguiu um caminho semelhante, com a Berliner Wasserbetriebe conseguindo estabilizar e até reduzir tarifas, além de priorizar investimentos em redes de distribuição e tratamento de esgoto.

Esses exemplos demonstram que a gestão pública dos serviços de água pode ser mais eficaz na promoção do bem-estar da população. A reestatização permite que os recursos sejam reinvestidos na própria infraestrutura e na melhoria dos serviços, ao invés de serem distribuídos como lucros para acionistas privados. Além disso, a transparência e a responsabilidade pública são maiores, uma vez que a gestão está diretamente sob controle das autoridades eleitas.

Enquanto isso, o governo de São Paulo avança com a privatização da Sabesp, enfrentando duras críticas de especialistas e da sociedade civil. As preocupações incluem possíveis aumentos nas tarifas, diminuição da qualidade do serviço e falta de investimentos em áreas menos rentáveis. A experiência de Berlim, Paris e Buenos Aires pode servir como um alerta para São Paulo, mostrando que a água, como um recurso essencial, deve ser gerida de forma a garantir o acesso universal e a sustentabilidade, beneficiando diretamente a população.