Energia solar leva luz para noites de 120 aldeias do Xingu
Movimento para o uso da energia solar foi impulsionado durante a pandemia, e impulsiona uso das potencialidades da internet
Sistemas fotovoltaicos têm levado luz e tecnologia a todas as 120 aldeias do território indígena do Xingu, como revela reportagem especial da Folha de São Paulo. Indígenas testemunham que não há prejuízos à cultura e ao meio ambiente.
Aderir ao sistema nacional de energia, isso sim significaria permitir a instalação de linhas de transmissão nos territórios, abrindo passagem para invasores. As obras também levariam ao desmatamento de grandes áreas. A batalha perdida contra a usina de Belo Monte, no rio Xingu, foi por demais traumática.
O movimento para o uso da energia solar foi impulsionado durante a pandemia da covid e proporcionou também um avanço na ocupação da internet. Afinal, com as aldeias fechadas, a troca de informações, a compra de suprimentos e até as assembleias de lideranças indígenas foram transferidas para plataformas digitais, o que exigiu também, essa expansão da internet. E assim, o celular também se popularizou.
As iniciativas vieram de vários lados, como de recursos coletivos. Para instalar miniusina solar, em Samaúma, uma aldeia Kaiabi, a comunidade reverteu a venda de tecelagem e da coleta de sementes para reflorestamento, na instalação de um sistema fotovoltaico para todos os 60 moradores.
As ONGs também foram fundamentais para levar energia limpa ao Xingu. As primeiras experiências foram feitas nos anos de 1990 pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mas a instalação escalou mais recentemente com o ISA (Instituto Socioambiental).
O processo ganhou velocidade em 2015, quando a fundação americana Charles Stewart Mott doou US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões). Batizado de Xingu Solar, o projeto bancou sistemas completos, com placas, conversores e baterias. A implantação incluiu o treinamento de indígenas para atuarem na manutenção dos equipamentos.
Dentre as prioridades de uso da energia, estão os postos de saúde. A energia solar ajuda na refrigeração de medicamentos e no uso de nebulizador, por exemplo. A luz trouxe outros comportamentos. Há mulheres que preferem tecer durante a noite e até comércios dentro das aldeias foram beneficiados com a adoção de refrigeradores.
A reportagem faz parte da série Energia na Amazônia, produzida com apoio da Rede Energia e Comunidades. Leia na íntegra, clicando aqui.