Enchentes deixam 17 mil desabrigados no Acre; casa de Chico Mendes fica debaixo d’água
Brasiléia, no Acre, tem a maior inundação já registrada na história do município do sul do estado, em região próxima à fronteira com a Bolívia
Símbolo da resistência da luta pela preservação na Amazônia, a casa onde Chico Mendes morou, e que hoje é um museu aberto, pode sofrer danos permanentes após o aumento das enchentes em Xapuri, no Acre. A previsão das autoridades é de que o rio atingirá 17 metros nas próximas horas.
O transbordamento do rio não apenas afetou a infraestrutura da casa de Chico, mas também impactou significativamente a vida da população. Muitas casas e prédios públicos estão debaixo d’água. A casa onde Chico morou, e foi assassinado, foi reaberta há pouco mais de um ano após ter ficado fechada por mais de cinco anos desde a última cheia em 2015.
A prefeitura afirma que cerca de 180 famílias foram desalojadas e desabrigadas. Elas foram levadas para o Instituto Federal do Acre, que possui um campus na cidade e funciona como abrigo temporário.
Diante dessa situação crítica, a prefeitura, em conjunto com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, tem mobilizado esforços para prestar assistência à população afetada. No entanto, a sala de situação da prefeitura e os serviços de auxílio foram suspensos devido à inundação, o que prejudica ainda mais a chegada de ajuda humanitária nestas regiões.
A situação tem sido particularmente difícil para os moradores afetados, como José Evani Barroso, produtor local, que perdeu grande parte de seus pertences devido ao rápido avanço das águas. Ele foi resgatado, mas enfrenta incertezas sobre como reconstruir sua vida após a inundação.
Em meio aos desafios, a solidariedade tem sido evidente, com voluntários se unindo às autoridades locais para fornecer apoio e assistência àqueles que mais precisam.
Brasiléia sob as águas
De acordo com o Corpo de Bombeiros, em Brasiléia, não muito longe de Xapuri, na fronteira com a Bolívia, o nível do rio Acre chegou a 15,56m de altura, ultrapassando a cheia histórica de 2015, quando o mesmo rio alcançou 15,55m. O nível das águas continua subindo em média 2cm a cada 3 horas.
Dados da Defesa Civil estadual mostram que, até o momento, o município é um dos mais afetados pela cheia do rio Acre e que 75% da cidade já foi afetada pelos alagamentos.
Mais de 13 mil pessoas foram atingidas de alguma forma, nos 12 bairros afetados, sendo que 911 pessoas estão desabrigadas e 1.011 estão desalojadas. Para prestar assistência às pessoas atingidas, 15 abrigos da prefeitura Brasiléia estão em funcionamento com a atuação de 500 profissionais.
Na zona rural de Brasiléia, mais de 500 pessoas estão isoladas e 20 pontes foram destruídas pela força das águas.
Para evitar o colapso de água tratada e energia elétrica na cidade, a prefeitura decidiu iniciar uma operação de racionamento, com desligamento da energia por uma hora, durante o dia, nos locais ainda não alagados e reduziu a distribuição de água.
A situação das enchentes é mais grave nos municípios de Jordão e Brasiléia, que estão com cerca de 80% e 75% de seus territórios tomados pelas águas, respectivamente. Ambos estão isolados, via terrestre. As pessoas só conseguem se locomover por embarcações fluviais.
Na capital acreana, Rio Branco, o nível de água do rio Acre continua acima da chamada cota de transbordo (de inundação) e, na manhã desta quarta-feira, chegou a 16,45 metros.
O Boletim Enchentes do governo do Acre, divulgado nesta quarta-feira (28), aponta que, em todo o estado, mais de 14 mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas, quando vão para casa de familiares ou amigos até o nível das águas baixar.
Nas dez cidades com a situação mais crítica devido às enchentes, 5.960 pessoas estão desabrigadas e 8.516, desalojadas.
Ao todo, há 62 abrigos públicos para prestar atendimento à população atingida pelas cheias
A Secretaria de Saúde do município solicitou com urgência, ao Ministério da Saúde, o envio de kits calamidade, compostos por 32 medicamentos e 16 insumos — como anti-inflamatórios, analgésicos e antibióticos, além de luvas e seringas para socorro imediato às famílias afetadas pela enchente. Cada kit tem a capacidade de assistir a 1.500 pessoas por mês.
Equipes de saúde foram deslocadas a todas as cidades atingidas, principalmente para o Jordão, onde o governador do Acre, Gladson Cameli, afirmou que, se houver necessidade, será montado um hospital de campanha.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Secretaria de Defesa Civil Nacional, reconheceu a situação de emergência de 17 municípios, por conta de inundações causadas pela elevação dos níveis dos rios e também igarapés. São eles: Assis Brasil, Brasileia, Capixaba, Cruzeiro Do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Plácido De Castro, Porto Acre, Porto Walter, Rio Branco, Santa Rosa do Purus, Sena Madureira, Tarauacá e Xapuri.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê para o Norte do país, até a próxima segunda-feira (4), pancadas de chuva com mais de 50 milímetros por dia em praticamente toda a região, mas, principalmente, em áreas do Amazonas, Pará, Rondônia e sul de Roraima. As chuvas podem vir acompanhadas de raios, rajadas de vento e trovoadas. Nas demais áreas, não se descartam pancadas de chuva isoladas com menores acumulados.