A 62ª Sessão da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (SB62), encerrada em 21 de junho de 2025, em Bonn, Alemanha, revelou obstáculos significativos nas negociações preparatórias para a COP30, que será realizada em Belém, Pará, em 2025. As discussões, analisadas por Cinthia Leone, coordenadora internacional do Clima.Info, destacaram a centralidade do financiamento climático e a falta de avanços em temas como transição justa e combustíveis fósseis, considerados “elefantes na sala” das negociações.

Prioridades da presidência brasileira

A presidência brasileira, que liderará a COP30, trouxe três agendas prioritárias para Bonn: adaptação, transição justa e o Global Stocktake (Balanço Global). Na adaptação, o Brasil buscou reduzir os indicadores de adaptação de cerca de 500 para 100, visando maior clareza e praticidade. Na transição justa, o objetivo era superar o impasse da “Regra 16” da COP29, em Baku, que resultou em desacordo. Já o Global Stocktake, estabelecido em Dubai em 2023, marcou a inclusão inédita de linguagem sobre a necessidade de abandonar combustíveis fósseis, mas sua implementação enfrenta resistência.

Foto: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA

Financiamento climático: o grande entrave

O financiamento climático emergiu como o principal obstáculo. Segundo Leone, “não há um lugar específico para discutir o financiamento climático, então ele está por todas as partes”. A ausência de compromissos financeiros concretos, especialmente por parte dos países desenvolvidos, bloqueou avanços em adaptação. Apesar de um pré-acordo promissor no início da semana, a negociação foi travada, com os europeus assumindo o papel de “vilões” na ausência dos Estados Unidos, resistindo a colocar recursos na mesa.

“É difícil falar de adaptação sem falar de questões financeiras”, afirmou Leone. A falta de financiamento também impactou as negociações de transição justa e do Global Stocktake, que não avançaram. Muitos países argumentam que a implementação do Balanço Global depende das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), mas estas carecem de recursos para serem efetivas.

Foto: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA

Combustíveis fósseis e o artigo 9 do Acordo de Paris

Outro ponto crítico foi a ausência de espaço para discutir a eliminação dos combustíveis fósseis, apesar do avanço obtido em Dubai. Leone destaca que “dinheiro e combustíveis fósseis são os dois grandes imbecis” das negociações. Países em desenvolvimento evocaram o artigo 9 do Acordo de Paris, que obriga nações ricas a prover recursos financeiros, e o artigo 2.1, que reforça a provisão de recursos para ações climáticas.

Foto: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA

Perspectivas para a COP30

Apesar dos impasses, Leone mantém esperança em uma solução nas salas de negociação, mas alerta: “Sem uma solução para o financiamento, o resultado aqui é muito ruim”. A COP30, em Belém, herdará a tarefa complexa de resolver essas questões. A presidência brasileira enfrenta o desafio de evitar que o financiamento e a transição energética dominem a agenda sem progresso concreto.

“Estamos levando para Belém a mensagem de que Baku não resolveu o financiamento. Vamos ter que discutir o dinheiro que os países ricos precisam entregar aos países em desenvolvimento”, conclui Leone.