
Emerald Hill encara o caos urbano em seu novo single “Dia de Cão”
Banda encara o caos urbano em seu novo single “Dia de Cão”.
Por Noe Pires
A banda de João Pessoa Emerald Hill (@emerald.hill), formada por Vitor Figueiredo (voz e guitarra), Gabriel Novais (voz e baixo) e Catarina Serrano (bateria), inaugurou uma nova fase. O trio lançou em 29 de agosto o single “Dia de Cão”, faixa que abre o caminho para o terceiro álbum, À Queima-Roupa, previsto para setembro de 2025.
Com pouco menos de dois minutos, “Dia de Cão” é um retrato cru da vida adulta na cidade: intensa, direta e impregnada pelo espírito pós-punk. Inspirada no poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, a música nasceu como uma “versão livre” escrita por Gabriel Novais e atravessou diversas transformações até encontrar sua forma final. O resultado carrega a sensação de maturidade da banda, que agora troca a rebeldia juvenil por um olhar mais realista sobre o sistema, o trabalho e as frustrações cotidianas.
A sonoridade reflete esse peso com riffs secos e arranjos esparsos. Vitor descreve como “uma bagunça bem estruturada”, enquanto Catarina prefere chamar de “uma bagunça mais direta”. Gravada pela primeira vez em estúdio profissional, no Music Obsession, a faixa contou com produção conjunta de Marcos Sena e do próprio trio, deixando para trás a estética caseira que marcou os trabalhos anteriores.
Além da música, a faixa também dialoga com imagens. Catarina conta que tinha em mente o quadro O Grito, de Edvard Munch, e o clima de colapso urbano evoca referências que vão de IDLES e Dead Kennedys a Bauhaus e ao clássico Um Dia de Fúria, estrelado por Michael Douglas. Para reforçar a atmosfera caótica, a gravação ainda incorporou latidos reais de cachorros, adicionando um detalhe inusitado à construção do som.
“Dia de Cão” chega com uma ficha técnica que reflete a força da cena independente: mixagem de Julia Soares, masterização de Fernando Bones e identidade visual de Joanna Maciel, que traduz em imagens a sensação de impotência que atravessa a faixa.
Formada em 2015 e com passagem por festivais como Grito e Parahyba Experimental, a Emerald Hill já rodou cidades pelo Nordeste e lançou trabalhos que transitam entre o shoegaze, o emo, o rock alternativo e o pop. Agora, com À Queima-Roupa, o trio consolida uma fase mais coesa e direta, mirando o futuro sem abandonar a inquietação que sempre marcou sua trajetória.
O S.O.M “sistema operacional da música”, o canal de música da mídia NINJA trocou uma ideia com a banda Emerald Hill.
S.O.M: A trajetória da banda mostra uma constante busca por expansão sonora. Quais foram as principais referências e experimentações que moldaram o som atual da Emerald Hill?
Gabriel Novais: Acho que o grande “pulo do gato” desse álbum foi o fato de termos composto todas as músicas juntos dentro do estúdio! Nós outro trabalhos tínhamos um processo de composição muito mais solitário e nesse disco quisemos explorar os caminhos que uma composição coletiva poderia nos levar. foi um grande aprendizado. e a influência foi o punk rock! o fugazi, o idles, o ratos do porão e a Charli xcx…
S.O.M: Como vocês enxergam a cena independente hoje e o espaço que a Emerald Hill ocupa dentro dela?
Gabriel Novais: eu acredito que não nos recuperamos ainda do baque que foi a pandêmia. a cultura passou por um processo de tentar se reinventar, mas muitas portas ainda estão fechadas. as pessoas não querem mais formar bandas. bandas são uma experiência coletiva e isso não está alinhado com ultraindividualismo que vivemos hoje em dia. o mercado está nas mãos dos djs e das bandas covers. composições autorais acabam sendo uma coisa muito rara. eu acredito que seja um reflexo do tecnofeudalismo que vivemos nos dias de hoje. a internet deu errado. o spotify venceu.
S.O.M: Depois de tantas etapas na caminhada da banda, o que ainda move vocês a continuar criando e levando o som da Emerald Hill para novos públicos?
Gabriel Novais: teimosia e amizade. Acho que temos uma ideia fixa que a Emerald Hill é algo que vale a pena insistir e o principal motor disso é a nossa amizade! A gente se ama e a banda é um espaço de encontro e de convivência da nossa amizade. é claro que a música atua na gente como um processo de sublimação das nossas angústias e isso cura a gente! acreditamos que nossas músicas podem tocar o coração do nosso público também! Mas, hoje digo com muita clareza que o principal motivo para continuarmos tocando como banda é nosso amor como amigos.
S.O.M: O single “Dia de Cão” marca um novo passo na trajetória da Emerald Hill. De que forma essa música dialoga com o momento atual da banda e com a cena independente?
GN: essa música fala sobre trabalho, sobre vício, sobre se ver sem saída e ter muita raiva das coisas como elas são. e acho que isso representa muito bem como a gente se sente enquanto banda e do nosso lugar na “cena” independente. acho que representa bem nossa frustração e a vontade de mudar. de fazer diferente. a gente sempre quis ser mais que uma banda. a gente queria mudar o mundo. essa música e o disco como um todo, dão voz a frustração de três jovens que perceberam que a música não vai mudar o mundo. mas temos esperança que talvez possa salvar uma vida, do mesmo jeito que músicas de outras bandas salvaram a nossa.