Em um dos mais lucrativos garimpos da Amazônia, 70 pessoas são resgatadas da escravidão
Investigação revelou não apenas a exploração brutal dos trabalhadores, mas também a prática de “servidão por dívida”
Mais de 70 trabalhadores em condições degradantes e equiparadas à escravidão foram resgatados de um garimpo ilegal em Maués, no Amazonas, por autoridades federais que uniram esforços em uma operação para investigar denúncias de atividade garimpeira ilegal. A ação foi coordenada pela Polícia Federal, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério Público do Trabalho (MPT).
O garimpo registra uma produção diária superior a 6 quilos de ouro, operando na modalidade de poço, onde os trabalhadores atuam subterraneamente sem qualquer equipamento de proteção individual. De acordo com a PF, este é um dos garimpos mais lucrativos da América Latina.
A investigação revelou não apenas a exploração brutal dos trabalhadores, mas também a prática de “servidão por dívida”, um ciclo desumano onde os trabalhadores são obrigados a trabalhar para quitar uma dívida. O ambiente de trabalho degradante e as condições de vida precárias também foram verificadas durante o resgate.
“Essa ação conjunta visa não apenas coibir atividades ilegais, mas também proteger os direitos dos trabalhadores e preservar o meio ambiente”, declarou a Polícia Federal em comunicado oficial. Os responsáveis pelo garimpo ilegal enfrentarão a rigorosa aplicação da lei, enquanto medidas imediatas serão tomadas para garantir o resgate e a assistência adequada aos trabalhadores encontrados em situação de vulnerabilidade.
A operação permanece em curso até sexta-feira (3), quando um balanço detalhado das ações executadas pela PF na região será divulgado.
Amazônia acumula mais de 80 mil pontos de garimpo ilegal
Uma nota técnica publicada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) mostra que há 80.180 pontos de garimpo na Amazônia brasileira em uma área de 241 mil hectares – mais de duas vezes o tamanho da cidade de Belém, capital do Pará.
As regiões mais afetadas se concentram no noroeste de Roraima, sudoeste e sudeste do Pará, norte dos estados de Mato Grosso e Rondônia, e algumas áreas nos estados do Amazonas, Amapá e Maranhão.
Para os povos indígenas, a situação é ainda mais grave. Cerca de 10,5% dessa área, ou 25 mil hectares, está em 17 terras indígenas diretamente invadidas. Segundo a análise do IPAM, outras 122 estão em bacias hidrográficas garimpadas, totalizando ao menos 139 territórios e seus rios contaminados pela atividade.