A concessão da Medalha do Mérito Indigenista ao expoente máximo dos ataques aos direitos indígenas, Jair Bolsonaro repercutiu negativamente e gerou revolta. Por considerar que a honraria perdeu toda sua razão de ser, o ex-presidente da Funai e etnógrafo, Sydney Ferreira Possuelo, devolveu nesta quinta-feira (17), a medalha que recebeu 35 anos atrás. Por muito conhecimento, é considerado uma autoridade em relação aos povos isolados.

Em carta endereçada ao ministro da Justiça, Anderson Torres, que dentre outras personalidades controversas, concedeu o prêmio a si mesmo, Sydney descreve que lhe causou espanto a notícia de que Bolsonaro havia sido agraciado.

“Quando deputado federal o senhor Jair Bolsonaro em breve e leviana manifestação na câmera dos deputados afirmou que ‘a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente sim foi a cavalaria norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país’”.

Ressaltando até mesmo o desapego de Bolsonaro ao que lhe parece tão caro, que é a carreira militar, Sydney ressalta que ao expressar sua crença e seus desejos, ofendeu a memória do Marechal Rondon e por extensão, do Exército Brasileiro.

“Dediquei minha vida ao trabalho de defender os direitos humanos de uma parcela da humanidade que vive em outro tempo histórico, mas que compartilha com a sociedade envolvente o mesmo tempo cronológico”.

Ele relata ao atual ministro, que se orgulha da tarefa que recebeu em 1991, do então ministro Coronel Jarbas Passarinho, de demarcar em nome do governo brasileiro, a Terra Indígena Yanomami. Meus companheiros e eu, da Fundação Nacional do Índio (Funai), a cumprimos”.

E conclui, dizendo que a concessão do Mérito Indigenista a Bolsonaro é uma contradição em relação a tudo que viveu.

“E a todas as convicções cultivadas por homens de estatura dos irmãos Villas Boas. Por essas razões, senhor ministro, devolvo ao governo brasileiro por seu intermédio, a honraria que, no meu juízo de valores, perdeu toda razão pela qual em 1972 foi criada pelo presidente da República”.

Leia a carta na íntegra:

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