Em podcast, Lewis Hamilton relata detalhes do racismo sofrido na escola e define período como “traumatizante e mais difícil da vida”
O britânico revelou que enfrenta bullying e racismo desde os seis anos de idade, quando viveu experiências traumáticas na escola que tinha quase todos os alunos brancos.
Texto de Tatiana Abreu para NINJA Esporte Clube
Lewis Hamilton, heptacampeão mundial de Fórmula 1, relembrou sua infância, traumas e evolução como pessoa e atleta no podcast “On Purpose”, do britânico ex-monge Jay Shetty. No episódio, que foi ao ar na segunda-feira (23), o piloto de 38 anos contou detalhes sobre os casos de racismo sofridos na infância e definiu a época como “traumatizante e mais difícil da vida”.
O britânico revelou que enfrenta bullying e racismo desde os seis anos de idade, quando viveu experiências traumáticas na escola que tinha quase todos os alunos brancos. “Eu era uma das três crianças negras. Apenas as crianças maiores, mais fortes e valentonas, me atacavam a maior parte do tempo.”, declarou.
Hamilton conta que os ataques além de verbais, também eram físicos “E os golpes constantes, as coisas que são jogadas em você, como bananas, ou pessoas que usariam a palavra com “N” tão tranquilas.”, continuou. Na época, o piloto começou a fazer aulas de karatê para aprender a se defender dos ataques na escola. Ele também relembrou o fato de ter sido sempre o último escolhido em atividades escolares, “mesmo se eu fosse melhor que os outros”.
No episódio gravado em novembro do ano passado, o britânico diz que se sentia acuado por ter poucas pessoas negras do seu lado. “Na minha escola [secundária], havia seis ou sete crianças negras entre 1.200, e três de nós éramos colocados fora da sala o tempo todo”, afirmou.
Hamilton contou que ninguém o ensinou como lidar com os ataques e não dividia o que passava. “Eu não achava que poderia ir para casa e dizer aos meus pais que essas crianças continuavam me chamando com palavrões, ou que fui intimidado ou espancado na escola hoje. Eu não queria que meu pai pensasse que eu não era forte”.
Hamilton percebeu, conforme foi amadurecendo, como a educação pode mudar a vida das pessoas e como isso ainda é um privilégio para muitos. Com 16 anos, ele descobriu que sua capacidade de aprendizado na escola era afetada em virtude da dislexia. “Felizmente eu cruzei com um professor que se importava e que me ajudou a descobrir um pouco mais sobre mim mesmo, como posso ser melhor por meio da educação.”
Desde pequeno, Hamilton já dividia a vida escolar com as competições de Kart, em que colecionou muitos títulos. Desde os 22 anos, o britânico compete na Fórmula 1, em que ele é o único piloto negro. Com desejo de ajudar a fazer da categoria um ambiente mais diverso e inclusivo, o britânico é um grande ativista dos direitos humanos e promove iniciativas para melhorias na vida de pessoas de grupos em vulnerabilidade social, como a criação da instituição Mission 44. Ainda no esporte, o piloto criou a Ignite, em conjunto com a Mercedes, com o intuito de promover a diversidade e a inclusão no automobilismo.
Ainda sob o aspecto social, o apresentador Shetty pergunta ao piloto sobre quais leis mudaria se pudesse. Hamilton revelou que gostaria que houvesse maneiras de controle para impedir o acúmulo de grandes fortunas, enquanto outros passam fome. “Você não deveria poder ter bilhões. Deveria haver um limite para o quanto você pode ter. Porque há o suficiente para todos. Então, de alguma forma, criar uma lei que crie mais igualdade e acesso igual para todos.”, declarou.
Ao relembrar sua trajetória como piloto, Hamilton diz que peça fundamental foi entender seu propósito no esporte. Vencer o deixava feliz, mas ainda assim faltava algo, de acordo com ele. “E era esse propósito, entender qual é esse propósito e entender por que você foi colocado aqui, por que recebeu a plataforma que recebeu. Por que somos as únicas pessoas de cor durante todo o tempo”, comentou.
Prestes a iniciar a sua 17ª temporada, Hamilton foi perguntado sobre como será a sua vida após o fim da carreira na Fórmula 1. Com sete mundiais, o piloto declarou que vai ser “muito, muito difícil quando parar de correr” e completou: “Eu faço isso há 30 anos. Quando você parar, o que vai acontecer para combinar com isso? Nada se compara a estar em um autódromo, estar em uma corrida, estar no auge do esporte e estar na frente do grid ou passar por aquela emoção que sinto com isso.”, concluiu.