Por Lidiane Barros

Dedicando-se a uma série de projetos que visam estreitar os laços com a sociedade, a Academia Mato-grossense de Letras agora foca no acolhimento da população invisibilizada, que tem no Centro Histórico de Cuiabá (MT), seu abrigo e refúgio. Os acadêmicos sabem que têm à frente um grande desafio, mas veem na iniciativa uma via de promoção de cidadania.

A nova aposta é um curso de educação patrimonial, o “Identidade Cuiabana: Conhecendo o Patrimônio Histórico”, voltado à população em situação de rua. A iniciativa tem como parceiros a Defensoria Pública do Estado e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Na primeira incursão, representantes das instituições foram ao Beco do Candeeiro para concretizar o encontro. A presidente da AML, Luciene Carvalho destacou a importância da ação que rompe as fronteiras da sede tombada que ocupa, a Casa Barão de Melgaço.

“Abrir as portas para a sociedade implica em tratar com a população mato-grossense de uma forma geral”. Ela explica que o objetivo é a capacitação sobre o patrimônio material e imaterial pensada para o povo de rua. “Porque o povo de rua é cidadão, é povo mato-grossense e deve ser respeitado como tal. Então a gente elaborou uma cartilha especial para ministrar o conteúdo. Ao final, eles recebem certificados”.

A analista do Iphan, Gabriela Silgueiro enfatiza o entrelaçamento. “A gente veio aqui até o Beco do Candeeiro, um lugar histórico e tombado nacionalmente, que tem tudo a ver com essa população, com seus usos e pela ancestralidade do povo de rua que permanece aqui”.

Já o ouvidor-geral da Defensoria Pública do Estado, Getúlio Pedroso, destaca que ações como essa ressignificam vidas. “É uma forma, a partir da cultura, de levar um pouco de dignidade para esse povo e especialmente, de dizer que não estão sozinhos”.

Com a iniciativa a AML quer mostrar para a sociedade que a relação entre o povo de rua e o Centro Histórico é complexa e multifacetada e merece um olhar afetivo. E, que mesmo que sejam grandes os desafios, a abertura de diálogo com pessoas socialmente vulnerabilizadas, vítimas da estimagtização e da ausência de políticas públicas inclusivas, aponta que com a oferta da formação, há caminhos possíveis para mudar a realidade do abandono.

“Ao todo 20 pessoas foram certificadas. Elas foram acolhidas, tivemos momentos de escuta afetiva e mostramos um pouco do contexto histórico do local que ocupam. É certamente um espaço de sociabilidade especial, onde desenvolvem laços de apoio mútuo”, observa a presidente da AML.

O exercício de aproximação, pode representar até mesmo, uma oportunidade de trabalho informal para aqueles que vivem em trajetória de rua. Condição essa que pode ser temporária. Afinal, quando há oportunidade para essas pessoas que ocupam os espaços públicos por diversos motivos, emprego e moradia são os próximos passos para a sobrevivência. “Queremos participar ativamente das ações estratégicas e coordenadas para garantir a proteção e inclusão social dessa população”, diz Luciene.

A cartilha, com linguagem descomplicada, ensina sobre o conjunto arquitetônico e paisagístico de Cuiabá e traz ainda informações sobre dependência química, enfatizando que é uma doença sem cura, mas tratável e passível de controle. Traz ainda informações sobre tratamento e indicações de instituições de apoio. O próximo passo é estender as ações do projeto a outros núcleos de pessoas socialmente vulnerabilizadas.