Em apenas 23 minutos, ‘Travessias’ desafia a conexão emocional no cinema
Ana Graziela Aguiar dirige um retrato poético e transformador de Justin e sua relação com a própria liberdade
Por Isabella Vilela
No cinema, quanto tempo leva para o espectador se conectar com o personagem principal? Seguindo a estrutura tradicional da ‘jornada do herói’, geralmente precisamos de cerca de 30 minutos para nos familiarizarmos com a figura central que guiará a narrativa. No entanto, os curtas-metragens sempre encontram uma forma de desafiar essa percepção.
Disponível no catálogo da SEDA PLAY, “Travessias”, dirigido por Ana Graziela Aguiar, ilustra perfeitamente essa questão. Em apenas 23 minutos, o espectador é convidado a conhecer e se conectar profundamente com Justin, um homem trans em processo de transição. Ana utiliza um olhar poético e autorreferencial para explorar os sentimentos e transformações de alguém próximo, em uma jornada cheia de dúvidas e inquietações que culmina no encontro com Justin. Ele guia tanto a diretora quanto o espectador nessa busca de autoconhecimento.
O filme acolhe de coração aberto a leitura da carta de amor entre o Brasil e Cuba, que Ana faz ao longo da narrativa. Suas palavras colocam o telespectador dentro das memórias que ela teve ao passar um período de tempo com o cubano e sua companheira, seguindo o dia a dia de renascimento dele em sua nova vida.
Mas a verdade é que bastam 10 minutos de filme para você se conectar com Justin. Além de carismático, ele é decisivo e extremamente protetor em relação à sua própria liberdade. Sua história de renascimento tem como base o próprio conceito de liberdade, compartilhado no final do filme, além do suporte que sua companheira lhe oferece, como mostrado em um dos registros da lente de Ana, regada a afeto e amor.
O curta desafia a noção de que a profundidade e a conexão emocional exigem longas durações. “Travessias” prova que, dentro de uma direção sensível e uma narrativa sincera está a melhor receita para criar uma obra impactante e transformadora, mesmo em um formato reduzido.
Estreante na direção de curtas, Ana Graziela conduz o espectador por uma viagem geográfica entre Brasil e Cuba através de uma travessia interna, questionando e expandindo nossas concepções sobre identidade, amor e resiliência.
Para conferir este e outros títulos presentes na mostra online da Semana do Audiovisual 2024, acesse a plataforma da SEDA PLAY, que acaba de ser prorrogada até o dia 21 de julho.
