Em 5 dias, chuva em Porto Alegre deve superar média de maio dos últimos 30 anos
São 100 mortes confirmadas, 131 desaparecidos e 372 feridos. Mais de 200 mil pessoas estão desabrigadas
As previsões meteorológicas para os próximos dias trazem alertas para a capital gaúcha e áreas da região metropolitana, enquanto uma onda de chuvas sem precedentes continua a assolar Porto Alegre e seus arredores. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a estimativa é de que as chuvas acumuladas nos próximos cinco dias ultrapassem os 125 milímetros, excedendo a média mensal para maio registrada desde 1991 até 2020, que é de 113 milímetros.
Além disso, os números continuam a aumentar, com o último boletim da Defesa Civil relatando 95 mortes confirmadas, 131 desaparecidos e 372 feridos. Mais de 200 mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas, com vastas áreas do estado enfrentando problemas relacionados ao temporal.
Os números apontam uma crise climática em andamento por mais tempo, com os 12 primeiros dias de maio projetados para alcançar quase três vezes a média histórica, com volumes que podem atingir impressionantes 333,1 milímetros. Esse cenário é agravado pelas chuvas que já atingiram a marca de 208,1 milímetros apenas na estação do Jardim Botânico, de 1º a 7 de maio.
Mergulhada em crise
Porto Alegre, uma cidade normalmente vibrante, está agora mergulhada em uma crise de infraestrutura sem precedentes. Principais rotas de acesso e saída estão bloqueadas, e a água invadiu a pista do aeroporto Salgado Filho, forçando o fechamento indefinido das operações. A Rodoviária de Porto Alegre também está fora de operação, deixando muitos passageiros em situações precárias.
A situação de emergência é agravada pela interrupção dos serviços básicos. Na manhã desta quarta-feira (8), aproximadamente 85% da capital estava sem acesso à água potável em suas residências.
Vento de até 100 km/h
Enquanto isso, os meteorologistas advertem sobre a possibilidade de mais temporais e frio no estado, a partir de quarta-feira (8). Rajadas de vento de até 100 km/h são esperadas, juntamente com chuvas intensas em todo o Rio Grande do Sul. O governador Eduardo Leite alertou para a possibilidade de fortes inundações em áreas já afetadas, especialmente a Serra e o Vale do Taquari, pedindo à população que evite retornar às áreas atingidas.
No Vale do Taquari, as cidades estão irreconhecíveis após a devastação causada pelos temporais. O Rio Taquari ultrapassou os 30 metros, atingindo níveis históricos.
Enquanto as águas continuam a se mover para o Sul, representando uma ameaça iminente para os municípios ao longo da Lagoa dos Patos, as autoridades alertam para a possibilidade de tempestades extremas devido à formação de um ciclone e uma frente fria que se aproximam.
Responsabilidades
Mudanças na legislação ambiental, que foram lideradas pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), é um dos fatores que contribuiu para o agravamento da crise climática no Rio Grande do Sul, apontam especialistas, como o climatologista Carlos Nobre.
A gestão de Leite liderou uma iniciativa que resultou na eliminação ou alteração de 480 pontos da legislação ambiental estadual, em um processo marcado pela celeridade e pela controvérsia.
O projeto de Leite, apresentado em setembro de 2019 e aprovado pela base governista na Assembleia Legislativa em apenas 75 dias, foi duramente criticado por grupos ambientalistas e pela oposição. Entre as principais mudanças estão: a flexibilização das exigências e a concessão de auto licenciamento em determinados casos, em uma evidente tentativa de favorecer os interesses empresariais.
Ambientalistas e técnicos apontaram diversas falhas e retrocessos no novo código, que, segundo eles, desmantelou décadas de avanços na proteção ambiental no estado. Francisco Milanez, presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), descreveu o projeto como “desestruturante, destruidor e prostituinte”, ressaltando que representava um retrocesso de 40 anos na legislação ambiental gaúcha