Elitização do futebol: Como o esporte mais popular do Brasil está ficando caro
Futebol sempre foi o esporte de identificação do povo brasileiro, cerca de 68% dos brasileiros na faixa dos 18 anos ou mais se consideram fãs do esporte, segundo os estudos Kantar IBOPE Media.
Com os aumentos de preços dos ingressos, o futebol fica mais inacessível para a população de baixa renda.
Por Mariana Martins
Futebol sempre foi o esporte de identificação do povo brasileiro, cerca de 68% dos brasileiros na faixa dos 18 anos ou mais se consideram fãs do esporte, segundo os estudos Kantar IBOPE Media. Mas nas últimas décadas o esporte vem ficando cada vez mais caro para os seus consumidores, com uma nova política de times milionários, o esporte fica cada vez mais longe das classes mais baixas.
É perceptível ao olhar os ingressos das finais da Copa do Brasil, entre Flamengo e São Paulo. Os torcedores dos times ficaram insatisfeitos com os valores cobrados por ingresso. No primeiro jogo que aconteceu no Maracanã, o valor mais baixo para assistir a partida no estádio estava de R$400,00, esse valor é destinado para as pessoas que não eram sócios torcedores do time rubro-negro.
No Morumbi foi visto o mesmo fenômeno, os ingressos ficavam na faixa de R$200 a R$2 mil. No momento que a renda dos pagantes do jogo no Maracanã foi anunciada a torcida do rubro-negro vaiou, o valor chegou na marca de R$26.343.300.
O representante do São Paulo, Júlio Casares, em entrevista ao Roda Viva deu explicações sobre as críticas dos torcedores sobre os abusivos valores.
“Não estou achando que isso é razoável, mas temos que entender que o torcedor do São Paulo que bate todos os recordes, que se tornou a torcida mais popular do Brasil – o São Paulo é hoje também líder nas arrecadações, nós tínhamos que precificar o Morumbi que é muito grande, garantindo o setor popular, que é uma realização da nossa gestão, que tem o valor de 200,00. É pouco? Não, ainda é muito, mas é uma forma de você tentar equilibrar as contas de um clube que chega na final como protagonista”
Já o responsável pelo marketing do Flamengo, Marcos Senna, destacou que mesmo com os valores os ingressos foram vendidos rapidamente.
“Nesta semana, estávamos vendendo ingressos para a final da Copa do Brasil. Pusemos os preços altos, mas em 24 horas vendemos tudo. Isso é bom, mas há outras milhares de pessoas tentando comprar e não conseguiram, então vão às redes sociais e reclamam, reclamam. Há dificuldade de tudo que fazemos pela repercussão”, disse Marcos em entrevista ao “Olé” em Buenos Aires.
A final da Libertadores entre Boca Juniors e Fluminense, que vai acontecer no dia 4 de novembro no Maracanã, também teve preços expressivos. Mesmo sendo uma final continental os ingressos mais baratos para pessoas que não são sócios torcedores variam de R$400 ou R$800, ingressos que já se encontram esgotados.
Para um trabalhador que ganha um salário mínimo, fica inviável assistir seu time do coração pelas arquibancadas, porém os altos preços não ficam somente na venda de ingressos, outros produtos dos times são superfaturados. As camisas originais custam a partir de R$299,90 nos sites oficiais, a mensalidade do sócio torcedor chega aos valores de R$249 ao mês.
Para os torcedores de classes mais baixas, resta ficar à margem, consumindo produtos falsificados e não podendo assistir aos jogos em estádios. O futebol está cada vez menos democrático e acessível para aqueles cuja renda não passa de um salário.
Ontem (12), a Seleção Brasileira jogou contra a Venezuela, na Arena Pantanal em Cuiabá. Os ingressos foram vendidos a partir de R$400 na inteira. No final do jogo o episódio da torcida jogando pipoca em Neymar, foi marcante, pois o preço do alimento dentro da arena estava chegando na faixa dos 15 reais por pacote.
“Nós sentimos o apoio deles. Mas o estádio não estava completamente cheio, e é muito compreensível pelo valor do ingresso. No meu ponto de vista, é um absurdo a meia de um ingresso ser R$ 300. Eu acho que isso tem que ser mudado. Todos nós sabemos da condição do povo brasileiro, e uma entrada inteira custar quase um salário mínimo… acho que é algo a ser pensado por parte da CBF”, disparou o goleiro em entrevista.