Eles não param: conheça trabalhadores que não folgam durante jogos do Brasil
A segunda-feira pode começar muito animada, com expedientes de trabalho terminando mais cedo, mas nem todos os trabalhadores conseguem ter esse privilégio
Por Stefanie Veras
O Brasil tem a fama do país do futebol, isso é inegável. A cada quatro anos, muitas ruas do país são pintadas e decoradas. Amigos e familiares se reúnem para torcerem juntos pela seleção em clima de muita festa, não importa o dia da semana. Até mesmo uma segunda-feira pode começar muito animada, com expedientes de trabalho começando mais tarde ou terminando mais cedo, mas nem todos os trabalhadores conseguem ter esse privilégio em seus empregos.
Durante os confrontos da fase de grupos da Copa do Mundo, muitos escritórios e empresas dos setores de comércio e serviços, na cidade de São Paulo fecharam mais cedo ou suspenderam o expediente durante o horário das partidas da Seleção Brasileira. Escalas e horários diferenciados foram feitos para os funcionários acompanharem os jogos do Brasil. Até as escolas foram afetadas. Na rede municipal, por exemplo, as escolas tiveram permissão para alterar os horários de atendimento mediante reposição de conteúdo e das horas paradas.
Os dias de partidas da Seleção Canarinho são bem conhecidos por baterem recordes de congestionamento na capital paulista e região metropolitana, no período entre duas a uma hora antes do início do jogo. Conforme noticiado no G1, no dia 02 de dezembro, último dia de rodadas da primeira fase, a capital registrou recorde de trânsito, atingindo a marca de 474 km de lentidão às 14h30, uma hora e meia antes do início da partida.
Enquanto muitos trabalhadores puderam sair mais cedo, outros, no entanto, não contam com esse privilégio e precisam se manter em seus postos de trabalho durante o horário dos jogos da seleção. É o caso de muitos porteiros, seguranças, funcionários da saúde, dos transportes e dos setores hoteleiro e gastronômico. Aqueles que o horário de trabalho coincide com o horário dos jogos do Brasil nessa copa, às 13h e às 16h, tiveram que se manter em seus postos de trabalho e se virar como puderam para torcer pela seleção Verde-Amarela.
Nem toda escola fechou
Algumas escolas da capital paulista, mesmo com a possibilidade de flexibilização de jornada, não optaram pela suspensão do expediente durante os jogos do Brasil. A proximidade do fim do ano e a dificuldade em adequar as reposições de aulas e conteúdos no calendário letivo vigente dificultaram na tomada dessa decisão. É o caso da escola municipal onde trabalha a inspetora de alunos Bete*, 58 anos.
Segundo ela, a decisão pela manutenção das aulas foi tomada pelo Conselho de Escola, que é composto por alunos e seus familiares e funcionários da escola. Mesmo com a manutenção das aulas, o clima entre os alunos era de festa. “Muitos vieram com camisa da seleção a semana toda. Quem não tinha a camisa, veio com roupa nas cores da seleção. Teve aluno com peruca, com o cabelo pintado de verde, amarelo e azul, outros trouxeram vuvuzela pendurada no pescoço. Eles ficaram muito ansiosos”, conta a inspetora.
Quando questionada sobre a possibilidade de acompanhar os jogos, Bete comenta que alguns professores fizeram adaptações para projetar os jogos aos seus alunos, e teve quem seguiu as aulas sem interrupção. “Até que conseguimos ver os jogos. Alguns professores assistiram com os alunos pelo telão nas salas, mas nem todos fizeram isso, deram aula normalmente. Professor que não tinha aula naquele horário, viu pelo celular ou pelo computador. Teve jogo que eu vi com uma turma, outro que eu vi pelo celular. Quem quis acompanhar, conseguiu”, ela garante.
Por fim, ela comenta que a rotina de trabalho não atrapalhou no acompanhamento dos jogos e vice-versa. “Teve aluno que decidiu não vir, assim a escola ficou com poucos alunos, cada um na sua sala, foi tranquilo”, relata ela, que se tivesse folgado, veria os jogos em sua casa.
O trabalho em hotéis e restaurantes
Se para quem trabalha em escola, a rotina foi um pouco tranquila e teve até funcionário que assistiu aos jogos junto com os alunos, para alguns trabalhadores do setor de hotelaria e gastronomia, a experiência foi um pouco diferente.
A recepcionista Samara Carvalho, 28 anos, trabalha em um hotel na região da Faria Lima e não teve alteração em seus horários de trabalho, que coincidiu com todos os jogos da Seleção na primeira fase. Segundo ela, não houve mudança de horário para nenhum dos setores e cargos do hotel.
“O hotel onde trabalho transmitiu os jogos para os colaboradores. Como o meu setor estava sem movimento em dois jogos eu consegui acompanhar, mas nesse último eu pude ver só o segundo tempo”, comenta a recepcionista, que se não estivesse trabalhando, veria o jogo em casa com a família. “Não é a mesma coisa, porque querendo ou não, tem que se manter certa postura no trabalho. Mesmo sendo um momento descontraído, você ainda está cercado de chefes”, ela faz a ressalva.
No restaurante do mesmo hotel trabalha o garçom Marcos*, 35 anos, que também afirma ter conseguido ver o jogo. “A rotina de trabalho foi um pouco movimentada devido a algumas reservas, porém foi tranquilo conciliar a atenção entre o trabalho e o jogo” ele relata. Com seu horário de trabalho coincidindo com todos os jogos do Brasil, ele também comenta que se não estivesse trabalhando, veria os jogos em casa ou com os amigos, em algum evento pela cidade.
Fora do centro financeiro de São Paulo, trabalha o garçom Victor Belloni, de 37 anos. Funcionário de uma rede de restaurantes, ele também teve a rotina de trabalho alterada pelos jogos da Seleção Brasileira. A unidade em que o garçom trabalha instalou um telão, elaborou uma programação diferenciada para receber os clientes durante a transmissão dos jogos da seleção e ainda precisou estender o horário de trabalho de alguns de seus funcionários.
Victor comentou que o movimento de clientes foi um pouco maior que o normal e só não aumentou mais por conta das chuvas que atingiram a cidade nas tardes da última semana. A rotina do trabalho não impediu que ele assistisse ao jogo. “Na parte do restaurante onde fiquei, os clientes prestaram mais atenção ao jogo e não fizeram muitos pedidos”, relata o garçom, que se não estivesse trabalhando, veria o jogo em casa ou em algum bar.
Seja no trabalho, em família ou com amigos, é inegável que a Copa do Mundo é um evento que interfere na vida das pessoas, estejam elas trabalhando ou não. Por trás de uma São Paulo conhecida por não parar, mas que parece paralisar durante as partidas do Brasil, estão trabalhadores cheios de expectativa pelos jogos, que não podem acompanhá-los em festas ou reunidos com as pessoas queridas, como desejam.
*Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube