“Eles estavam brigando por nós e agora nós estamos brigando por eles”, Indígenas do Vale do Javari prestam homenagens a Dom e Bruno
O povo Kanamari, que reconhece Bruno como sendo um dos seus, anunciou que fará as homenagens ao amigo em um ritual indígena.
A terra indígena Vale do Javari é a segunda maior demarcada do país e tem uma população de cerca 6,3 mil indígenas dos povos Marubo, Matís, Mayoruna, Kulina Pano, Kanamari, Tson wük Dyapah e um pequeno grupo de Korubo. Bruno e Dom foram assassinados enquanto lutavam para defender esses povos, enquanto trabalhavam para denunciar os crimes bárbaros aos quais os indígenas dessa região são vítimas.
O esforço do indigenista e do jornalista que tiveram a vida ceifada na floresta não será esquecido. Em coletiva de imprensa realizada na noite de ontem, 15, logo após a confirmação das mortes, Eliesio Marubo, procurador jurídico Univaja, ainda emocionado e consternado com todo o ocorrido, fez questão de fazer uma breve homenagem às duas vítimas, descritos em nota da entidade como amigos defensores dos direitos humanos.
“Os povos indígenas da Univaja se solidarizam muito com a família de Bruno e Dom, nós não podemos imaginar a dor que vocês estão sentindo, mas nós temos a certeza que nós também estamos perdendo parte da nossa história, uma parte da nossa vida com a perda dessas pessoas que muito estavam somando com a proteção dos nossos parentes, com o desenrolar da nossa vida aqui na região.”
Marubo ainda reforça que seguirão na luta, “Bruno e o Dom deixaram sua famílias para virem pra cá, para terem esse desfecho na vida deles, mas isso não vai ser em vão. Eles estavam brigando por nós e agora nós estamos brigando por eles.”
Ao final, Eliesio ainda relembra a imagem que ficou na memória de todos com o vídeo em que Bruno está no meio da floresta cantando junto com outros indígenas. “Aquela música que todo mundo viu cantando, ele representava exatamente isso, é o cuidado do pai com o filho, a tradução daquela música diz que a arara estava cuidando do filho, tá dando alimento na boca do filho como forma de cuidado. Quando Bruno entoou aquele cântico, ele pegava na cabeça de um outro parente e balançava o cabelo como forma de dizer eu tô aqui e nós vamos nos ajudar. Bruno era essa figura, ele sempre vai ser lembrado como essa figura que dedicou sua vida pra causa indígena, pra proteção dos povos indígenas.”
O povo Kanamari, que reconhece Bruno como sendo um dos seus, anunciou que fará as homenagens ao amigo em um ritual indígena. “Vamos esperar que os espíritos da floresta façam a justiça em nome desses bravos homens que tiveram conosoco aqui nessa pequena passagem pela terra e vão ocupar agora o mundo dos encantandos de agora em diante.”, disse Eliesio ao finalizar a coletiva.