Entrevistamos para a Ninja essa lenda para falar sobre samba e política

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Na semana passada o célebre sambista Noca da Portela completou 90 anos e na noite da última segunda-feira (19) recebeu uma homenagem no Renascença Clube, durante o Samba do Trabalhador. Ele, que já foi feirante, militou no Partido Comunista Brasileiro, apresentou programa de rádio e ocupou o cargo de secretário de Cultura do Rio de Janeiro, ao completar quase um século de vida tem recebido reverências Brasil afora.

Osvaldo Alves Pereira, mais conhecido como Noca, é mineiro de Leopoldina mas mora no Rio de Janeiro desde pequeno. Tem uma profunda relação com a Portela, sua escola de samba desde a década de 1960. É autor de mais de 300 músicas, muitas delas famosas, como Caciqueando e Virada, que foi um dos hinos do movimento Diretas Já! Algumas delas foram gravadas por nomes consagrados da música, como Paulinho da Viola, Beth Carvalho e Maria Bethânia.

Durante o evento, entrevistamos para a Ninja essa lenda para falar sobre samba e política. Na conversa, ele fala sobre a nova geração do samba, a política nacional e diz que lançará um DVD no ano que vem. Segundo ele, foi um alívio quando o Lula, seu amigo pessoal, ganhou as eleições para a presidência neste ano.

Você fez 90 anos recentemente e acabou de ser homenageado nesta tradicional casa do samba carioca, qual o sentimento que fica?

Estou sendo homenageado aqui no Rio de Janeiro, mas essas comemorações já ocorreram em vários lugares: São Paulo, Minas Gerais que é minha terra, Porto Alegre, etc. Muita gente me chamando para me homenagear, por isso acho que sou um cara que com 70 anos de música sou reconhecido em todo o país e isso é maravilhoso.

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Você vem de uma escola das antigas, como enxerga a chegada das novas gerações e essa renovação musical?

Confesso que estou meio preocupado, porque muitos dos meus companheiros de batalha, como o Monarco, Candeia e Cartola, já foram embora. E vejo poucos meninos com o amor que nós temos pelo samba e as escolas e com esse talento, de realmente agradecer o samba por tudo que ele fez por nós. Serei eternamente grato ao samba, tudo que a vida me deu é graças a ele.

Ao te homenagearem falaram da sua trajetória antiga no partidão (Partido Comunista), qual a sua análise hoje sobre o cenário político?

Estava com muito medo do Lula não ganhar essa presidência, fiz de tudo e arrumei muito voto. O Lula é meu amigo, o conheci no Sindicato dos Metalúrgicos lá em São Paulo quando o pessoal do partidão me mandou lá pela primeira vez para representá-los. De lá para cá fiquei amigo dele, fui a dois aniversários e ele me condecorou com a comenda do Rio Branco, sou comendador da República. Meu companheiro e camarada Luís Inácio Lula da Silva.

Passei por vários presidentes, sou do tempo de Getúlio Vargas, e na minha opinião de todos até o Collor foi melhor que o Bolsonaro dirigindo o país. Ele fez um governo para 20% só do povo brasileiro, os outros 80% ele deixou no sufoco. Foi um péssimo presidente da República. Minha expectativa agora com o Lula eleito novamente, ele que está indo para o seu terceiro governo porque fez dois ótimos antes, é que o Brasil melhore muito. Ele faz um governo para todos os brasileiros, pobre, rico, preto, branco, todo mundo é igual para ele. Estou torcendo, inclusive porque ele é meu amigo particular, fiz a música de duas campanhas dele. Com toda certeza absoluta, melhor que o Bolsonaro ele será.

E a relação do samba com a política, como você vê?

Tudo é politizado nesse país, o samba também tem que ter política, principalmente nas escolas de samba enredo. Atualmente nas escolas você tem que estar atento à política, se não você faz uma obra prima e não ganha. É totalmente diferente o samba da antiga e o de agora, mas é um progresso.

Mas está ruim? Tem um monte de samba político novo bom por ai….

Tá bom! O samba sempre alimenta o corpo e a alma dos sambistas. Sou um sambista da antiga, 70 deles de samba, e antigamente era reunião que fazíamos nos quintais da zona norte e sul, nas comunidades também, então era totalmente diferente. Músicas de Nelson Cavaquinho, Cartola, Sinhô, Donga e um montão de grandes sambistas do passado. Mas essa geração nova, que vi todos começando, estou feliz. Vou botar todos eles para cantar comigo. Acredito muito nessa geração, porque eles são o que nós fomos em tempos passados, e muitos deles têm capacidade para chegar aonde o Noca chegou.

O que está por vir por aí?

Estou fazendo um DVD chamado Flores e Vida, que a garotada está toda cantando comigo: Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Diogo Nogueira, Péricles, Fundo de Quintal, Velha Guarda da Portela, meu neto Diogão, etc. Todas as cantoras maravilhosas, é um trabalho sensacional produzido pelo meu amigo Ciraninho da Portela. São 14 músicas e vamos lançar no ano que vem com toda a garotada do samba.

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