Por Mariana Iacono e Flavio Rapisardi

“Uma pessoa com HIV é uma despesa para todos aqui no Brasil”, diz Bolsonaro. Uma despesa para o Brasil é ter um presidente que não queira mais investir em saúde, educação ou trabalho.

Não deixa de surpreender que o presidente conservador de direita do Brasil amplie seus comentários contra todas e todos aqueles e aquelas que, ainda conforme o livro que ele afirma respeitar (A Bíblia), são objeto de amor cristão. Os comentários de Bolsonaro, seus filhos e vários funcionários desse infeliz governo não surpreendem mais. Apenas preocupa que ele receba em resposta um silêncio consensual, a não-mobilização e críticas leves das empresas de mídia.

Mas, além das considerações teológicas que no próprio Brasil se produzem a partir de igrejas verdadeiramente comprometidas com o amor e a comunhão que o cristianismo prega (vale sempre a pena ler a pastora luterana e teóloga Lusmarina Campos), queremos dizer algo a esse estúpido com poder: a despesa é seu governo inoperante que, por sua má imagem, faz o Brasil perder mercados; a despesa é a corrupção da qual seu governo é parte, como o pagamento de um ministério ao sr Moro pelos serviços prestados. A despesa são os filhos que gostam de tirar fotos com rifles que sabemos que não são baratos. A despesa é você e suas políticas que produzem pobreza e tiram direitos, o que devolverá como um ônus ao Estado para o crescimento das despesas em educação e saúde pública. A despesa é quando você ataca uma das coisas mais preciosas dessa terra: suas manifestações culturais. A despesa é você, sua língua comprida e seu cérebro pequeno que toda vez que você o faz funcional (disfuncionalmente) faz do Brasil um destino menos desejado para milhões de turistas que querem sair de férias para esta terra maravilhosa. A despesa é você, sr Bolsonaro, porque retrocede o Brasil para os tempos anteriores a Getúlio Vargas e está sempre a pensar no bem que podemos fazer no futuro voltando ao nosso passado.

Não somos uma despesa para o Brasil, nem o PT nos perverteu. Não nos use como desculpa para perseguição política e destruição da democracia. Existimos antes dos partidos políticos. É pedir demais para você ler um pouco da história? O Brasil foi um modelo para todo o continente no acesso aos medicamentos para o HIV e no combate à discriminação contra pessoas com HIV. Com você presidente, as pessoas com HIV no Brasil vivem em constante alerta porque não sabem se suas vidas estão em risco. Sim, a vida deles. Como a discriminação mata, a destruição da saúde pública os condena ao extermínio. E saiba, senhor, que também há pessoas com HIV em seu partido, ou você acha, Jair, que está tão impune da sua opinião quanto da biologia?

Jair Bolsonaro, você entrará na história como uma grande despesa, porque está destruindo o Brasil, tornando-o mais pobre, matando suas riquezas, tornando a função pública um cabaré para seus standups que se pagam com o dinheiro dos impostos de todos os brasileiros. Não temos medo de você. Pessoas como você tivemos muito na história e estão no panteão dos ridículos e/ou cruéis.

Ter um programa de abstinência sexual é sentir que estamos viajando três séculos atrás. O desejo sexual não é controlado por um programa do governo.

Mais do que nunca, nós, pessoas com HIV de todo o continente latino-americano, mulheres, trans, travestis, gays, trabalhadoras e trabalhadores sexuais, usuários de substâncias, todas as pessoas que você deseja que não estejam na face da Terra, estamos constantemente alertas para denunciar ao mundo todas as violações de direitos humanos que estão acontecendo no Brasil desde que você assumiu a presidência.

Exigimos a cura do HIV já e também exigimos a cura para o Brasil.

Mariana Iacono é feminista argentina, ativista social e militante pelos direitos das pessoas com HIV/Aids. Flavio Rapisardi é jornalista argentino, doutor em Comunicação e militante pelos direitos LGBT.