Por Clarisse Mantuano

Em 2024 encerra-se a Década Internacional de Afrodescendentes, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para adotar e reforçar os quadros jurídicos nacionais, regionais e internacionais de acordo com a Declaração e Programa de Ação de Durban e da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. Será que os objetivos foram alcançados? O que deu certo? O que ficou a desejar? Como será que os afrodescendentes avaliam esta década?

Para responder a estas indagações, a Rede Afro ambiental reuniu, este ano, novos parceiros em solo português para fazer o movimento da Cúpula dos Povos Afrodescendentes.

A primeira Conferência Livre da Cúpula será em Lisboa, entre os dias 13 e 15 de outubro, sediada pela Casa do Brasil de Lisboa. Reunirá lideranças comunitárias de matriz africana, pensadores, autoridades, gestores públicos e personalidades para marcar o fim da Década. A programação será construída pelo coletivo, que até agora conta com a Casa do Brasil de Lisboa, a Associação AMOR, Mídia NINJA, Plataforma Geni, Bototo Yetu, Afrolis, Afrontosas, União Negra das Artes, o Pontão de Cultura Articula Matriz Africana e o Projeto Cultura Encantada.

Imagem: Divulgação

A Rede Afro ambiental, fundada durante a ECO92, no Rio de Janeiro, por Mãe Beata de Iyemajá (In Memoriam) e Mestre Aderbal Ashogun, tem como bandeira a construção de uma ecologia, cultura e educação baseadas nos saberes tradicionais de matriz africana. A Rede chegou em Portugal em 2019, onde desenvolve o Programa Cultura Encantada, que pretende estreitar pontes culturais entre os países de língua portuguesa.

Aderbal também coordena o Pontão de Cultura Articula Matriz Africana e vem realizando um percurso por todo o Brasil, com as pautas culturais, ambientais e raciais. Ele espera que ainda se somem mais organizações de todo o universo afrocentrado ao movimento da Cúpula. Segundo o Mestre, “ano que vem queremos realizar uma grande Cúpula dos Povos Afrodescendentes, também em Lisboa”.

Os organizadores do evento acreditam que “debater a Década Afrodescendente e celebrar os Povos de Matriz Africana em Portugal traz um simbolismo emblemático, para curar as dolorosas feridas coloniais, que ainda hoje sangram”.

As caravelas estão voltando para o mesmo porto de onde saíram há 500 anos. Só que agora, navegadas pelos Povos Afrodescendentes, que vêm convidar todos os povos do planeta a olhar o mapa por outro ângulo. Conhecer outros saberes e ocupar o Atlântico, desta vez, com afeto e encantamento.