É preciso haver integração entre América Latina e Caribe para garantir a segurança alimentar
Em entrevista ao El Mercurio, Mario Lubetkin, representante regional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) na América Latina e Caribe, disse que hoje estamos tendo consciência da crise alimentar mais severa
Por Maria Vitória de Moura
Em entrevista ao El Universal, Mario Lubetkin, representante regional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) na América Latina e Caribe, disse que hoje estamos tendo consciência da crise alimentar mais severa, uma vez que não podemos dissociar a alimentação da crise energética, climática e econômica. “Em 2014 e 2015 você poderia dizer ‘temos que garantir um prato de comida para as pessoas’. Hoje, aquele prato de comida não se resolve nem se garante se um conjunto de aspectos não for atendido”, disse Lubetkin.
Segundo ele, a fome é um problema que vem se arrastando há anos na América Latina e Caribe, mas que com o pós pandemia e a Guerra na Ucrânia, esse cenário se intensifica e a piora é uma tendência cada vez mais provável. Em 2021, havia 56,5 milhões de pessoas passando fome na América Latina e 828 milhões globalmente. Lubetking coloca que as projeções para 2022 eram de um aumento de 650 mil a 700 mil pessoas em insegurança alimentar grave.
O representante enfatizou na entrevista a importância de fomentar a estabilidade econômica e social, tendo em vista que, em 2018 e 2019, a insegurança alimentar se expressava, principalmente, pelo desequilíbrio social muito forte na região latina e caribenha. O que ocorreu a partir desses anos foi algo que não se via há 100 anos, as consequências da pandemia na cadeia de produção alimentícia, o que tornou uma crise já existente na crise mais severa já vista. Mas nem tudo é culpa da pandemia e da Guerra na Ucrânia, relembra ele. Anteriormente a isso, haviam fatores que perduram até hoje e que contribuem para esse cenário. Os desequilíbrios sociais, a falta de atenção dos políticos locais para a necessidade de intervir na mitigação desses desequilíbrios, processos de transformação econômica e, claro, outras guerras ao redor do mundo que não apenas a da Ucrânia.
Para mitigar os impactos globais na segurança alimentar dos povos latinoamericanos e caribenhos Lubetking reforça a necessidade de que os governantes se voltem para a necessidade de tomar medidas independente de posições políticas. “Por isso, deve haver uma integração entre América Latina e Caribe para garantir a segurança alimentar”, enfatiza o representante.
A entrevista também levantou a dúvida de como grandes economias da América do Sul, como Brasil e Argentina, podem apresentar níveis tão altos de insegurança alimentar e pobreza, uma vez que no Brasil 33 milhões de pessoas passam fome e na Argentina o nível de pobreza já chegou a 40%. Sobre o Brasil, Lubetking relembrou que esse havia saído do mapa da fome em 2014, após a implementação de uma série de medidas no governo Lula, em 2002. Com isso, ele ressaltou que combater a fome leva tempo, mas que ao abaixar a guarda ela reaparece rapidamente.
Quando perguntado se hoje o combate à fome se faz mais dificil do que há 20 anos atrás, ele respondeu que não, uma vez que hoje há mais maturidade sobre o tema e que há grande disposição dos governantes latinoamericanos em entender esse capítulo e enfrenta-lo. “É por isso que tenho muita esperança de que na CELAC possam ser gerados mecanismos sinérgicos para melhorar os atrasos em um ou outro aspecto que um ou outro país não resolveu”. A CELAC é a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhas, cuja VII cúpula ocorreu no dia 23 de janeiro, em Buenos Aires, marcando o retorno do Brasil para a comunidade de cooperação regional.