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Cooperativa Grande Sertão une 60 famílias produtoras, 5 cooperativas e empreendimentos da economia solidária do norte de Minas Gerais para ajudar 2 mil famílias, de 20 municípios, que enfrentam dificuldades de se manter em quarentena
 Por Laura Murta
Por Laura Murta
Estamos no momento mais adverso do nosso século, uma guerra global contra o coronavírus escancarando ainda mais as mazelas brasileiras. Nossas desigualdades nos colocam sob a mesma tormenta, mas não no mesmo barco. Há pequenas embarcações em risco iminente de naufrágio, o que fazer? Sermos bote, nos lançar na tempestade, fazer a diferença.
Até o mais incrédulo dos homens reconhece uma oportunidade de aprendizagem nesse cenário desolador da COVID-19. Já para os sertanejos mais crentes, “Deus não permitiria o mal se não pudesse tirar desse mal um bem infinitamente maior” é com essa crença, uma espécie de esperança-ação, que a Cooperativa Grande Sertão – fundada em 2003, inicialmente com 30 cooperados e que hoje reúne 263 associados e beneficia indiretamente cerca de duas mil famílias, de 350 comunidades rurais do Norte de Minas – se alia à Fundação Banco do Brasil, ao Banco do Brasil, ao BB SEGUROS, ao Banco Votorantim e a COOPEFORTE, na construção de rede de apoio a pequenos produtores e produtoras da agricultura familiar, cooperativas e empreendimentos da economia popular solidária, para levar comida de verdade, produzida sem veneno por mãos sertanejas, para as mesas de famílias em situação de vulnerabilidade social e de segurança nutricional, no Norte de Minas Gerais.
Essa articulação em rede permite beneficiar 60 famílias produtoras, cinco cooperativas e empreendimentos da economia solidária da região, que estão produzindo, mas encontrando dificuldades para escoar suas produções durante a pandemia. Do outro lado, temos duas mil famílias, de 20 municípios, que enfrentam dificuldades de se manter em quarentena, sem alimentos. Para estreitar essa distância, somaram-se à Cooperativa Grande Sertão, organizações como a Cáritas, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, Mesa Brasil entre outras associações, organizações sociais e voluntários, fortalecidos em rede, que juntos farão chegar, em forma de cestas básicas, 144 toneladas de alimentos agroecológicos, saudáveis, produzidos sem o uso de insumos químicos, respeitando homem e natureza.

Foto: Indi Gouveia / Mídia NINJA
Cada uma das duas mil famílias selecionadas receberá duas cestas básicas compostas por 11 itens, e com aproximadamente 20 kg, contendo: arroz, feijão, café agroecológico, açúcar mascavo, óleo de pequi, óleo de buriti, farinha de mandioca, polvilho, rapadura, queijo ou requeijão, abóbora e frutas da estação. A primeira leva de cestas será distribuída entre os dias 13 a 15 de maio e após 15 dias, as famílias receberão uma nova cesta.

Foto: Indi Gouveia / Mídia NINJA
Esse aporte nutricional, que conta com o apoio financeiro de mais de R$400 mil reais, representa as condições necessárias para suportar o tempo de isolamento social estimado pelas autoridades e pesquisadores da saúde no Brasil, apontando que a curva de transmissão do novo coronavírus deve atingir o seu pico nos próximos 15 a 20 dias.
Esse esforço coletivo e responsável em acudir as duas pontas dessa engrenagem, aqueles de produzem e não tinham como vender suas produções e os que têm fome, nos coloca em condições de responder a uma pergunta feita pelo maior amante do sertão e do sertanejo, João Guimarães Rosa: “… eu desejaria saber ensinar a solidariedade a quem nada sabe sobre ela. O mundo seria melhor. Mas como ensiná-la?” praticando Rosa, vivenciando-a profunda e verdadeiramente!
 
                            


