Drauzio Varella – ‘Brasil vai pagar o preço da desigualdade’
Médico oncologista que acompanha há anos população marginalizada e vulnerável acredita que o país já está em crise, mas que o isolamento ainda é a melhor maneira de diminuir o problema. Desigualdade social será entrave e os mais pobres vão sentir muito.
O médico oncologista Drauzio Varella é referência no Brasil por sua atuação na saúde, em especial por popularizar a informação médica. Ele foi uma das primeiras pessoas no país a começar a falar de coronavírus, e com as informações que tinha a época, não imaginava a gravidade do problema que o mundo todo enfrentaria.
Hoje, como todos nós que estamos recebendo minuto a minuto informação, já sabe que viveremos uma grande crise. Mas não perde o foco de que é preciso se prevenir, se cuidar, manter o isolamento e as recomendações da OMS.
Em entrevista à BBC Brasil, o médico afirma que a desigualdade brasileira vai ficar mais evidente e que ela vai exigir estratégias diferentes das utilizadas em outros países. Países com alto número de idosos como a Itália teve muitas mortes mas tem uma estrutura de saúde diferente. Num país de dimensões continentais e que parte da população não tem condições de se manter em isolamento, como isso vai se dar?
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São 13 milhões de pessoas vivendo na periferia, em casas pequenas, onde muitas vezes, dormem mais de 4 pessoas em um mesmo cômodo. Como manter o distanciamento, o isolamento? Como não ir para a rua trabalhar se não vai sobrar dinheiro para a comida?
Ele destaca que nesse momento vamos pagar a conta da desigualdade. Ainda que o vírus atinja ricos e pobres, quem vai ter acesso a tratamentos e leitos?
Com relação a economia, um dos pontos de discussão de se manter ou não o isolamento por conta de uma crise, Drauzio é taxativo: a crise já existe, o que se deve fazer é manter o isolamento para que o número de doentes seja menor e a crise superada mais rápido. Mas evitá-la é impossível.
Drauzio também reforça que o SUS é um sistema muito bom, o problema dele permanece no investimento e gestão. O governo federal que deveria cobrir 50% dos gastos, enquanto estado e municípios arcam com os outros 50%, vem diminuindo e prefeituras não conseguem dar conta, e a estrutura vai se mantendo precariamente.
Ele acredita que vamos sair dessa situação. Mais conscientes da importância do SUS e de que combater a desigualdade social é movimento essencial a ser feito.