Dois anos do crime da Vale em Brumadinho marcados por impunidade e descaso
“A Vale prefere gastar um rio de dinheiro pagando pra quem quer que seja, para burlar, e não reparar e recuperar o território”, opina a pescadora em Cachoeira do Choro Eliane Marques.
Essa semana completam dois anos, em 25 de janeiro, do rompimento da barragem mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. O crime da Vale que é o maior na área ambiental no país e tem dimensão de tragédias humanitárias deixou mais de 270 vítimas fatais e uma série de danos à natureza que são sentidos até hoje.
O rompimento em janeiro de 2019 despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração na bacia do rio Paraopeba. A lama percorreu mais de 300km, afetando 18 municípios e atingindo 944 mil pessoas. Centenas de famílias que tiveram vítimas fatais. Até hoje o corpo de bombeiros opera buscas na região para tentar encontrar os corpos de 11 soterrados. Mais de 600 mil pessoas tiveram o abastecimento de água comprometido em 8 municípios onde o Paraopeba é responsável pelo abastecimento, inclusive da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A cidade de Brumadinho, onde fica o distrito de Córrego do Feijão, convive com sete das 46 barragens com elevada probabilidade de ruir, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM)
A barragem que se rompeu não recebia mais rejeitos desde 2015. Em dezembro de 2018, porém, após a Vale solicitar uma licença de operação, a Câmara de Atividade de Minerária do Conselho Ambiental de Minas Gerais permitiu que a empresa recuperasse o minério de ferro disposto entre os rejeitos.
O desacaso da Vale
A empresa responsável pela barragem rompida e pelas mortes causadas segue impune. A dimensão do crime cometido pelo descaso e negligência do alto escalão da mineradora deveria obrigar uma reparação plena e íntegra aos atingidos, o que não aconteceu até hoje, mas ela segue lucrando. No período entre 2008 e 2017, acumulou um lucro aproximado de US$ 57 bilhões, quase R$ 220 bilhões.
“A Vale prefere gastar um rio de dinheiro pagando pra quem quer que seja, para burlar, e não reparar e recuperar o território”, opina a pescadora em Cachoeira do Choro Eliane Marques.
Ao longo dos últimos meses, mesmo no contexto da pandemia, os atingidos estiveram em luta em frente ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para cobrar justiça e participação social em meio a negociações em que a Vale, mesmo sendo ré, permanece ditando as regras perante o governo do estado.
A Fundação João Pinheiro, órgão oficial de pesquisa e estatísticas do Estado, estima em R$ 26 bilhões as perdas econômicas com o rompimento da barragem e R$ 28 bilhões para o pagamento de indenizações às famílias das vítimas e demais atingidos. Segundo noticiado na imprensa, o governador Romeu Zema (Novo) aponta que a maior parte desse valor poderia ser gasto em obras em Belo Horizonte ao invés de ser utilizado na infraestrutura dos locais afetados pelo crime.
Enquanto isso, a cada etapa da negociação a mineradora Vale rebaixa ainda mais a proposta de valor pago para os cofres de Minas Gerais.