Documentários em duas regiões do Brasil retratam desafios para fortalecer a alimentação escolar indígena
Com 14 minutos cada, os filmes documentam iniciativas para o cumprimento de duas diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Texto publicado no site da Fian Brasil por Pedro Biondi
Uma aldeia cercada por “mares” de soja, milho transgênico e cana no Centro-Oeste. Uma comunidade regida pelos tempos e distâncias dos rios amazônicos. Uma população guarani e kaiowá, uma população majoritariamente tikuna. Duas realidades distintas, com desafios próprios e comuns. É o que retratam os minidocumentários A Roça, o Rio e os Degraus: Alimentação Escolar Indígena no Alto Solimões e O Tekoha e o Prato Escolar: O Pnae na Aldeia Te’yikue, realizados pela FIAN Brasil – Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas – com a produtora Extrato de Cinema. Ambos estão disponíveis com legenda em espanhol e inglês, além de português.
Com 14 minutos cada, os filmes documentam iniciativas para o cumprimento de duas diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae): a adequação do cardápio à cultura de cada comunidade; e a prioridade para agricultores familiares indígenas no fornecimento destes alimentos.
As entrevistas com professores/as, cozinheiras, produtores/as rurais e alunos/as também mostram obstáculos como a burocracia que dificulta a documentação, a falta de estrutura nas cozinhas, o avanço dos produtos alimentícios ultraprocessados e as doenças associadas ao aumento no seu consumo.
O Pnae representa uma das principais políticas para a segurança alimentar e nutricional de crianças e adolescentes. Tanto no apoio ao rendimento escolar e na formação de hábitos saudáveis como no nível mais urgente, do combate à fome. Além disso, é um exemplo da possibilidade de uso das compras públicas para atingir objetivos como o desenvolvimento local, a melhoria das condições de vida de populações em vulnerabilidade e o fortalecimento da agroecologia.
A Roça, o Rio e os Degraus foi rodado na comunidade de Belém do Solimões, na Terra Indígena Eware 1, em Tabatinga (AM). Ele traz relatos do dia a dia nas escolas municipais indígenas (EMIs) Eware Mowatcha e Ngetchutchu Ya Mecü, nas quais a produção local tem seu espaço, mas a alimentação escolar é escassa ou falta em vários momentos. O documentário também mostra o trabalho da Mapana, associação de mulheres tikuna, com roçados coletivos e formação, que já passa de 200 associadas.
O Tekoha e o Prato Escolar se passa na Aldeia Te’yikue, em Caarapó (MS), com a comunidade da EMI Ñandejara. A escola introduziu alimentos tradicionais no cardápio e deixou os preparos mais saudáveis, mas depoimentos pedem uma transição mais estruturada, ao lado da compra da produção de moradores. O documentário apresenta dois projetos de educação alimentar e nutricional (EAN): o Sabor da Terra, com preparo de pratos típicos pelas/os estudantes e famílias; e a Unidade Experimental Poty Reñoi, em que crianças e adolescentes plantam, cuidam e colhem – e provam do que cultivaram.
“Essas gravações com as etnias indígenas no Amazonas e Mato Grosso do Sul foram bastante transformadoras”, ressalta o diretor dos filmes, Marcelo Coutinho. “Não só no quesito de experiências profissionais únicas, mas, sobretudo, na importância da difusão da cultura e da resistência política daqueles povos que, mais do que nunca, merecem e precisam da atenção e do respeito da sociedade brasileira.”
A trilha traz faixas musicais de Djuena Tikuna e do projeto Memória Viva Guarani.
Equidade e saúde
Cada minidocumentário liga-se a um estudo de caso, que gerou um diagnóstico e recomendações aos atores envolvidos, em especial o poder público dos dois municípios. “Temos a expectativa de que os materiais produzidos ajudem a superar os gargalos e impactar a realidade local. E que contribuam para a luta de povos indígenas em outras regiões”, diz a integrante da coordenação da FIAN Mariana Santarelli.
Esse trabalho faz parte do projeto “Equidade e saúde nos sistemas alimentares”, que inclui ainda um mapeamento nacional de como as iniquidades se refletem e se agravam nesse campo. A iniciativa conta com o apoio da Global Health Advocacy Incubator (GHAI).
É possível acessar os documentários no site da Fian aqui.
Fichas técnicas
A Roça, o Rio e os Degraus: Alimentação Escolar indígena no Alto Solimões
Brasil, 2023
Realização: FIAN Brasil
Produção: Extrato de Cinema
Apoio: Global Health Advocacy Incubator (GHAI)
Direção: Marcelo Coutinho
Entrevistas: Pedro Biondi
Direção de fotografia: Luis Barbosa
Som direto: Takelson Vasques
Pesquisa: Gabriele Carvalho e Mariana Santarelli (coordenação); Mislene Mendes Ticuna
Montagem: Marcelo Coutinho e Diego Benevides
Colorista: Diego Benevides
Foto still e videografismo: Marcelo Coutinho
Trilha sonora: “Eware”, “Maiyü Wüiguü” e “Marakanandê” (Djuena Tikuna)
Revisão da tradução: Mariam Pessah (espanhol) e Dominique Bennett (inglês)
O Tekoha e o Prato Escolar: O Pnae na Aldeia Te’yikue
Brasil, 2023
Realização: FIAN Brasil
Produção: Extrato de Cinema
Apoio: Global Health Advocacy Incubator (GHAI)
Direção: Marcelo Coutinho
Entrevistas: Pedro Biondi
Direção de fotografia: Diego Benevides
Som direto: Kiki Dailece
Pesquisa: Gabriele Carvalho e Mariana Santarelli (coordenação), Elemir Soare Martins e Emily Miléo Azevedo
Montagem: Marcelo Coutinho e Diego Benevides
Colorista: Diego Benevides
Foto still e videografismo: Marcelo Coutinho
Trilha sonora: “Xekyvy’i”, “Nhamandu”, “Nhamandu Miri” e “Tape Porã” (Memória Viva Guarani)
Revisão da tradução: Mariam Pessah (espanhol) e Dominique Bennett (inglês)