Por Jonas Moura

Disponível na Netflix, o documentário “As crianças perdidas” é uma interessante abordagem sobre o famoso caso das quatro crianças indígenas que sobreviveram à queda de um avião de pequeno porte e resistiram por 40 dias na floresta amazônica colombiana. O fato ocorreu em junho 2023 e ganhou os noticiários ao redor do mundo, além de ter mobilizado a Colômbia na tentativa de resgatar os irmãos Mucutuy. Na época do acidente, Lesly, Soleiny, Tien e Cristin Mucutuy tinham 14, 9, 4 e 11 meses, respectivamente. E foi durante as buscas que, a pequena Cristin, completou 1 ano.

Dirigida pelo britânico Orlando von Einsiedel, a produção reúne depoimentos de familiares das crianças, de militares e voluntários que participaram da “Operação Esperança”, nome recebido pela missão de resgate que conseguiu o impressionante feito de encontrar os jovens sobreviventes. Também há imagens reais do acampamento onde os missionários ficaram alojados. Assim como registros do momento em que as crianças foram encontradas.

Contudo, para além da narrativa de uma nobre expedição de salvamento, o documentário se arrisca em desvendar outras camadas de uma incrível história de sobrevivência e perseverança. A obra revela marcas de uma Colômbia assombrada por uma guerra civil que atravessa o tempo e envolve o povo indígena, os militares e as forças paramilitares (FARC) que dominam diversos territórios do país. Inclusive, a área em que os irmãos permaneceram durante o tempo em que estiveram perdidos.

Sem dúvidas, o documentário ainda se destaca por dá voz aos povos originários que são um dos principais responsáveis pelo êxito da missão. Em tela, a cronologia acompanha o passar dos dias, transporta o espectador para dentro da floresta, despertando o mesmo sentimento de angústia que todos os envolvidos no episódio sentiram. 

É quase impossível não se sensibilizar a uma busca que vai desvendando relações familiares problemáticas e os conflitos na vida dos principais personagens que estiveram na linha de frente da operação que uniu uma nação e fez a sociedade colombiana refletir sobre a necessidade de uma paz urgente. Um aspecto que humaniza ainda mais o caso e responde perguntas que antes poderiam não fazer sentido.

O resultado é o delicado registro de uma tragédia que rompeu as fronteiras da fé, da cultura e da hierarquia social de um país, promovendo à unanimidade em prol de um único objetivo: salvar vidas. “As crianças perdidas” também funciona como um bom exemplo de crença em um futuro mais justo e igualitário. Afinal, a experiência oferecida ao espectador é capaz de despertá-lo para um sentimento promissor: ainda dá para acreditar na humanidade.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.