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Do passado ao presente: o caminho do cinema latino até o Oscar 2025
O cinema latino conquista espaço no Oscar, mas enfrenta desafios para maior representatividade e reconhecimento global.
Por Cath Martins
Embora os filmes latinos tenham conquistado espaço em premiações internacionais, a presença da América Latina no Oscar ainda é limitada. Com ‘Ainda Estou Aqui’ entre os indicados deste ano, a discussão sobre representatividade ganha força.
A trajetória do cinema latino no Oscar tem sido marcada por avanços e desafios. Embora cineastas da América Latina tenham conquistado prêmios e reconhecimento ao longo das décadas, a presença da região na maior premiação do cinema mundial ainda não reflete sua relevância cultural e artística. Em 2025, com ‘Ainda Estou Aqui’ entre os indicados, a questão da representatividade latina volta a ganhar destaque, trazendo à tona um histórico de exclusão e os caminhos que levaram até aqui.
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O cinema latino no Oscar
Desde a criação da categoria de Melhor Filme Internacional em 1957, filmes latino-americanos foram indicados diversas vezes, mas poucos saíram vencedores. Apenas quatro levaram a estatueta: A História Oficial (Argentina, 1985), O Segredo dos Seus Olhos (Argentina, 2009), Uma Mulher Fantástica (Chile, 2017) e Roma (México, 2018). Fora dessa categoria, a presença de filmes latinos em outras áreas da premiação ainda é escassa, o que reforça a dificuldade em romper barreiras dentro da indústria cinematográfica.
Estudos indicam que, apesar de os latinos representarem quase 19% da população dos Estados Unidos, apenas 3% dos papeis de fala em grandes produções de Hollywood são destinados a atores latino-americanos. O mesmo ocorre nos bastidores: diretores, roteiristas e produtores latinos ainda enfrentam dificuldades para emplacar suas histórias em espaços dominados pelo cinema norte-americano e europeu.
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A ascensão dos cineastas latinos em Hollywood
Nas últimas décadas, alguns cineastas latino-americanos conseguiram furar o bloqueio da indústria e se destacar no Oscar. Diretores como Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro – apelidados de “Os Três Amigos” – abriram caminho para novas gerações ao vencerem múltiplas estatuetas e dirigirem produções que extrapolam os limites da América Latina.
No entanto, a maioria de seus filmes premiados são produções norte-americanas, rodadas em inglês e financiadas por grandes estúdios de Hollywood. Isso levanta uma questão importante: o cinema latino só consegue ser reconhecido quando se adapta aos moldes da indústria americana?
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O impacto de ‘Ainda Estou Aqui‘
Neste ano, ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles, chega como um dos principais representantes da América Latina no Oscar, concorrendo em categorias como Melhor Filme, Melhor Filme em Língua Não Inglesa e Melhor Atriz para Fernanda Torres. O filme, que retrata a ditadura militar no Brasil a partir da trajetória de Eunice Paiva, reforça a importância de contar histórias que dialogam com a memória histórica do continente.
A recepção positiva do longa nos festivais internacionais e sua indicação ao Oscar mostram que há espaço para o cinema latino em narrativas globais. Mas a presença de um único filme da região na premiação deste ano ainda é um reflexo das dificuldades enfrentadas por produções latinas para alcançar o mesmo reconhecimento de filmes europeus e norte-americanos.
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O futuro
A presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Janet Yang, afirmou recentemente que a inclusão de filmes latinos na premiação é uma questão de tempo. Com um número crescente de membros internacionais na Academia e uma mudança na forma como o público consome cinema, a tendência é que produções faladas em espanhol e português ganhem mais espaço nos próximos anos.
Entretanto, o reconhecimento no Oscar não é o único termômetro para a relevância do cinema latino. Filmes como Roma, A Memória Infinita e ‘Ainda Estou Aqui’ demonstram que há uma produção de peso na América Latina, que precisa ser valorizada não apenas pelo olhar de Hollywood, mas pelo próprio público latino-americano.
O caminho até o Oscar 2025 tem sido longo, e a cada vitória se estabelece um marco na história do cinema, mas o verdadeiro desafio é garantir que essa visibilidade se transforme em um espaço duradouro e igualitário na indústria global.
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