Por Maíra Aragão

O cinema mineiro vive um momento de aproximação com seus futuros espectadores. Ao investir na formação e no acesso de crianças e jovens à sétima arte, festivais no estado demonstram que criar público é também criar caminhos para fortalecer a produção e a difusão do audiovisual.

Um exemplo marcante é o Festival de Cinema de Ribeirão das Neves, que, em sua segunda edição, realizada entre 11 e 17 de agosto, levou oficinas, rodas de conversa e lotou sessões de cinema em diferentes regiões da cidade, engajando estudantes e alcançando especialmente a periferia e o público infantil. Mais do que exibir filmes, o evento construiu pontes entre artistas e moradores, oferecendo atividades de formação com profissionais do audiovisual cujos trajetos e linguagens se aproximam da vivência dos jovens, como o ator Cícero Lucas, premiado por sua atuação no filme mineiro “Marte Um”.

Jovens participam de palestra e oficinas formativas durante o Festival de Cinema de Ribeirão das Neves. Foto: Divulgação/Semifusa

“Ao realizar sessões de cinema em territórios periféricos e aproximar jovens da linguagem audiovisual, plantamos sementes que podem florescer em futuros realizadores e espectadores mais críticos e atentos. Muitas das nossas ações não tinham como público-alvo apenas as crianças, mas o que vimos foi uma participação intensa e entusiasmada delas. As crianças recebem o cinema de forma aberta e espontânea, e isso revela um potencial enorme — tanto social, pela formação de novos olhares e vínculos comunitários, quanto cultural, pela valorização e continuidade do nosso audiovisual.”

A mesma energia de formação de público marcou a 8ª Mostra de Cinema de Fama, realizada entre 14 e 17 de agosto, às margens da Represa de Furnas, no Sul de Minas. A Mostra deu passos importantes ao apresentar o cinema às crianças da região, criando memórias afetivas e incentivando novas gerações a se reconhecerem nas telas.

Na abertura do festival, o público assistiu à estreia do longa “Mortina: Uma aventura que vai fazer você morrer… de rir!”, produção desenvolvida dentro de uma escola em Alfenas (MG). Os alunos se transformaram em atores e atrizes para viver a experiência única de ver sua criação ganhar vida nas telonas.

No encerramento da Mostra, a Mostrinha das Escolas — projeto realizado em parceria com a rede de ensino de Fama — mostrou a força que apresentar o universo do cinema exerce na formação de novos públicos e futuros realizadores. Todas as crianças da cidade, acompanhadas de seus familiares, lotaram o espaço de exibição para assistir aos curtas produzidos por elas mesmas. A emoção tomou conta da população: professores, pais e filhos vibraram diante da grande tela ao ver os pequenos protagonistas em cena.

“Quando as crianças se veem nas telas, elas passam a se sentir capazes de fazer um filme, de ocupar esse lugar. Isso impacta diretamente no desenvolvimento delas. E não é apenas o acesso ao cinema, que no interior é tão difícil — seja pela linguagem cinematográfica ou pela experiência de uma exibição em grande tela. Esse impacto não transforma só a criança, mas reverbera em toda a família”, afirma Marcos Paulo Neves de Faria, um dos realizadores do projeto.

Pequenos realizadores de Fama celebram a experiência de ver seus filmes exibidos na Mostrinha das Escolas. Foto: Maíra Aragão

Essas experiências revelam que a formação de público infantil e juvenil não é apenas um gesto educativo ou cultural, mas também estratégico para o futuro do cinema mineiro e brasileiro. Ao democratizar o acesso às telas e estimular o olhar crítico desde cedo, festivais como os de Ribeirão das Neves e Fama contribuem para a criação de uma base sólida de espectadores e, ao mesmo tempo, para o surgimento de novos realizadores e narrativas.

Com iniciativas descentralizadas e enraizadas nas comunidades, Minas Gerais reafirma-se como um território fértil para o cinema, capaz de transformar a curiosidade das crianças em paixão duradoura pela arte audiovisual.