Apenas três atletas naturais da região Norte integram a delegação brasileira em Paris
Dos sete estados da região norte, apenas Amazonas e Pará tiveram representantes convocados pelo COB
Por: Emanuele Siqueira e Naiana Gaby
Em 2024 o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) fechou a terceira maior delegação olímpica da história enviando oficialmente 276 atletas à França para participar das Olímpiadas, desse total, apenas três atletas do Time Brasil são naturais da região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).
Representando 1.08% da delegação, Pedro Nunes, do lançamento de dardo, Andreza Lima, da ginástica artística e o pugilista Michael Trindade formam o trio nortista em Paris.
Pedro Nunes – Lançamento de Dardo (Amazonas)
Após 12 anos, o Amazonas, maior estado brasileiro, envia novamente um atleta para representá-lo em Olímpiadas após a convocação do velocista Pedro Henrique Nunes, do lançamento de dardo. Pedro garantiu a vaga pelo ranking classificatório internacional, Road To Paris, onde ficou na 18ª posição. A convocação veio após uma longa história de recordes e medalhas, a mais recente no Campeonato Ibero-Americano de Atletismo onde quebrou os recordes brasileiro, sul-americano e da competição. Pedro é uma das apostas do Brasil para consolidar o lançamento de dardo do país.
Natural de Parintins, no interior do Amazonas, o atleta de 25 anos mora e treina em Manaus, e para avançar no esporte e custear a rotina de treinos é membro do Projeto Amazonas nas Olimpíadas de Paris 2024 e do Bolsa Esporte Estadual do Governo do Amazonas, é Militar do Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) da FAB e faz parte do programa Bolsa Atleta, concedido pelo Ministério do Esporte.
A última vez que um representante do Amazonas foi convocado foi em 2012 com a mesa-tenista Lígia Silva e a última medalha conquistada foi em Pequim, 2008, com o bronze do velocista Sandro Viana.
Andreza Lima – Ginástica Artística (Pará)
Natural de Belém (PA), Andreza Lima é uma das atletas da região Norte que está nas Olimpíadas de Paris. Com apenas 17 anos, a ginasta aparece atualmente na lista de suplentes da equipe de ginástica artística feminina para representar o Brasil durante os Jogos. Ainda criança, Andreza conseguiu integrar o projeto Talentos Esportivos, programa de incentivo do Governo do Estado do Pará e crescer no esporte, participando de campeonatos e alcançando competições de nível internacional.
A convocação para as Olimpíadas aconteceu durante o mês de junho, coroando o bom momento de Andreza, que em maio deste ano conquistou três medalhas no Pan-Americano de Ginástica de Santa Maria, na Colômbia, totalizando duas medalhas de ouro e uma de prata. Atualmente a atleta mora em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde representa o Grêmio Náutico União (GNU).
Michael Trindade – Boxe (Pará)
Nascido em Marituba (PA), o pugilista Michael Trindade, de 23 anos, iniciou no esporte em 2016 por diversão, participou de projetos da Prefeitura de Marituba, destacando-se ao longo do tempo. Michael foi tetracampeão paraense de boxe entre os anos de 2017 e 2020, em 2021 foi convocado para integrar a Seleção Brasileira de boxe olímpico e em 2022 foi vice-campeão brasileiro da modalidade.
Nos Jogos Pan-Americanos de 2023, realizados em Santiago, Chile, o paraense chegou à final da categoria 51kg, garantiu a medalha de prata e mais uma vaga para a equipe de boxe brasileira nas Olimpíadas de Paris. Atualmente Michael mora em São Paulo onde treina e faz acompanhamento com a Seleção Brasileira, e para garantir uma preparação completa o atleta integra o programa Bolsa Atleta, concedido pelo Ministério do Esporte e o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) do Exército Brasileiro.
Incentivo ao Esporte na maior Região do País
Os Jogos Olímpicos são a maior competição esportiva do mundo, a sua chegada traz à tona uma série de temáticas envolvendo as dificuldades encontradas pelos atletas para alcançar a tão sonhada convocação, como o acesso e o investimento em talentos locais, evidenciando o desafio que o Brasil enfrenta para o desenvolvimento esportivo na Amazônia e em outros estados do norte do país.
Em julho deste ano a Serasa, em parceria com o instituto de pesquisa Opinion Box, divulgou o estudo “Esporte para todos? O impacto do dinheiro na formação de atletas no Brasil”, que mostra que 42% dos brasileiros tinham o sonho de ser um atleta profissional, mas somente 10% conseguiram alcançar o objetivo.
A pesquisa aponta ainda que 74% dos esportistas brasileiros não contavam com nenhum incentivo financeiro na infância, o que dificultou muito na formação de atletas. Quando fazemos o recorte para a região Norte, o dado aumenta: 77,3% não receberam nenhum tipo de apoio durante os primeiros anos de vida.
Reafirmando a mesma premissa, o Ministério do Esporte divulgou que 89,17% dos atletas brasileiros convocados para as Olimpíadas de Paris 2024 fazem parte do programa Bolsa Atleta, totalizando 247 esportistas. De acordo com o Governo Federal o programa “garante condições mínimas para que atletas se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e a competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas.”
Apenas 392 atletas da região norte recebem o patrocínio do Bolsa Atleta, o menor quantitativo por região. Entre eles o trio olímpico Pedro, Andreza e Michael. Atualmente, apenas Pedro Nunes reside e treina em seu estado natal, Andreza e Michael migraram para outras regiões em busca de melhores estruturas e apoio para seguir a carreira no esporte.