Por Maria Luiza Caleffi dos Santos para NINJA Esporte Clube

No interior de Minas Gerais, em Passos, um gesto raro desafiou o tempo, a gravidade e o esquecimento. Foi em 1987, vestindo a camisa do Clube Esportivo de Futebol, que Elder dos Santos marcou um verdadeiro gol de placa do futebol brasileiro contra o Corinthians. Quase quatro décadas depois, seu gol de bicicleta virou um curta-documentário através das lentes de Tássio Lopes e ainda reverbera como símbolo do futebol mineiro. 

6 de dezembro de 1987. Era um amistoso do Esportivo contra o Corinthians. Contra esse gigante do futebol brasileiro, Elder se jogou no ar e marcou um dos gols que jamais seria esquecido. Não era nenhuma final, nenhuma decisão, mas a demonstração do futebol em sua mais pura essência: no dom de ser arte, além de jogo. Ali houve expressão, houve beleza eternizada na bicicleta.

Revelado na Usina Rio Grande, Elder dos Santos só foi ganhar destaque a partir de 1984, no Clube Esportivo de Futebol, potência de Passos, Minas Gerais. Lá, foi artilheiro e campeão da Segunda Divisão do Campeonato Mineiro. Também atuou em clubes como Atlético Mineiro e Santa Cruz, e, no exterior, jogou pelo Universitário, do Equador. Mesmo assim, é reconhecido por sua importância no futebol do interior mineiro, lembrado, principalmente, por seus jogos, gols e destaques no Verdão de Passos – como é carinhosamente chamado o Esportivo.

Duas décadas depois, Tássio Lopes retoma o gol de placa para narrar mais que uma jogada. Em seu curta-documentário “Elder dos Santos – A História de um Gol de Placa”, o cineasta reconstrói aqueles segundos no ar com muito mais que imagens, trazendo o afeto, a paixão e a vigência do futebol para Passos, naquela época. Ele revela, então, mais do que a câmera pode mostrar, carregando toda a importância cultural que o Esportivo representava para a comunidade do interior de Minas.

O filme mostra, ainda, como o tempo pode desafiar as leis vigentes e se tornar uma memória que reverbera até hoje, e ainda emocionar como se tivesse sido ontem.

Elder diz: “Passos era um celeiro de futebol. Hoje a gente não vê jogadores saindo de Passos para ir para outros lugares igual na época” e Ivanildo, seu companheiro de time na década de 80, completa: “Era uma época muito boa. O Esportivo deixava a gente emocionado, principalmente quando a gente chegava aqui no estádio e via a multidão de gente, o povo como se fosse lua de mel”. 

Com os relatos de ex-jogadores do Verdão, torcedores e moradores de Passos, entendemos um pouco mais da conexão emocional que aquele grupo no interior de Minas tinha com o clube, e Tássio faz um excelente trabalho ao remontar essas vivências, fazendo-as parecer atuais, com um quê de nostalgia.

Em um país em que a memória do futebol é muitas vezes seletiva, o gol de Élder dos Santos é uma exceção que precisa virar regra: celebrar os gestos extraordinários que marcaram um povo de maneira intrínseca, até hoje comentada e memorada.

O documentário de Tássio Lopes nos convida a revisitar um momento que desafia o esquecimento. O gol de bicicleta de Elder dos Santos não é apenas uma jogada — é um gesto emocional, porque há histórias que não devem ficar presas ao passado. Elas devem ser revisitadas uma, duas, três vezes, em câmera lenta, frame por frame, e passadas à frente como mitos.

Assista ao filme completo no youtube