Por Alexandre Almeida

No cenário do futebol brasileiro, onde a paixão pelo esporte e o amor ao clube se misturam à intensa rivalidade, um movimento significativo tem sido construído nas arquibancadas brasileiras. Os coletivos e torcidas LGBT+ tem se tornado cada vez mais presentes no cenário futebolístico atual. Tendo como norte a inclusão e diversidade no esporte e na sociedade, essa organização de pessoas em torno da pauta LGBT+, embora já tenha representantes que remontam à década de 80, tem ganhado força e visibilidade nos últimos anos. 

Um exemplo marcante desse movimento é o Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ, inicialmente conhecido como Canarinhos Arco-Íris, fundado em novembro de 2019 e renomeado em junho de 2021. Esta iniciativa pioneira visa congregar torcidas, coletivos e movimentos LGBT+ de diferentes clubes, combatendo a LGBTfobia através de ações concretas e propostas de inclusão.

Desde sua criação, o Canarinhos LGBTQ tem se destacado por sua atuação proativa. Em fevereiro de 2020, lideraram o envio de sugestões de políticas antidiscriminatórias à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), órgãos judiciais e legislativos, além de clubes de futebol. Esta iniciativa marcou o início de uma série de esforços para promover um ambiente mais seguro e acolhedor nos estádios. Além disso, o grupo realizou iniciativas educativas, como o curso sobre Letramento LGBTQ+, que visa oferecer uma abordagem inclusiva sobre o tema.

Apesar dos avanços, os desafios persistem. A homofobia e a discriminação ainda são uma realidade frequente nas arquibancadas, como testemunhado por vários membros destas organizações, que relatam ameaças virtuais e pessoais contra membros dos coletivos. Muitos dos membros sequer utilizam roupas e acessórios que identifiquem o seu coletivo por medo de agressões de sua própria torcida. Por isso, ainda que sejam um forte movimento, principalmente nas redes sociais, muitas torcidas LGBT+ não se sentem seguras para frequentar estádios de maneira organizada. A resistência enfrentada por esses grupos reflete não apenas a persistência do preconceito, mas também a necessidade urgente de medidas concretas por parte dos clubes e das autoridades esportivas.

Entretanto, existem clubes que já entenderam a importância da pauta e se apropriaram do debate. Clubes como Bahia e Vasco têm se destacado pelo apoio efetivo aos seus coletivos LGBT+, promovendo ações de conscientização e adotando políticas internas contra a discriminação, inclusive contando com a participação dos torcedores dos coletivos LGBT+ no planejamento das ações. O Vasco, por exemplo, lançou um uniforme comemorativo e recebeu apoio público de suas torcidas organizadas mais tradicionais em manifesto contra a homofobia nos estádios. Entidades esportivas também têm papel fundamental nesta luta. A recente aprovação da Nova Lei Geral do Esporte, que estabelece punições para atos discriminatórios, representa um passo crucial na busca por mais tolerância.

Enquanto o caminho rumo à inclusão no futebol brasileiro ainda é desafiador, o movimento liderado pelos Canarinhos LGBTQ e outros coletivos demonstra que a mobilização social pode ser uma poderosa aliada na transformação de uma cultura esportiva marcada por décadas de exclusão e preconceito. A luta deste movimento dentro dos estádios não é apenas uma questão de justiça esportiva, mas também um reflexo do desejo por um esporte mais justo, diverso e inclusivo para todas as pessoas. As torcidas organizadas e coletivos LGBT+ continuam a desafiar as normas estabelecidas e lutar por seu espaço nas arquibancadas brasileiras e na sociedade.