Por: Maria Clara Tavares

Os jogos olímpicos sempre geram debates sobre os uniformes femininos e com isso fica o questionamento: por que há uma legislação tão rígida quanto às vestimentas que só implicam na performance da própria atleta?

As meninas normalmente não são incentivadas a ter relações com o esporte quando comparadas aos homens. Com isso, o esporte feminino é menosprezado, o que gera uma banalização do trabalho das atletas que ainda são enxergadas como um mero objeto de contemplação masculina, os quais são colocados como heróis enquanto as atletas, são apenas musas.

Uma pesquisa da revista Contraponto indica que antes da sensualidade feminina ser vista de forma positiva, culturalmente falando, as roupas das atletas buscavam ao máximo esconder o corpo feminino, mesmo que isso atrapalhasse a performance esportiva.

Foto: Helen Wills Moody (1929), German Federal Archives

Com o passar dos anos, a mulher passou a ser mais hiper sexualizada, e cada vez mais explorada pelos homens, que buscavam símbolos sexuais para “admirar”. Nesse contexto os uniformes diminuíram muito. O vôlei foi fortemente marcado por isso nas décadas de 1980 e 1990, onde os uniformes, mesmo dos esportes de quadra, eram formados por sunquínis.

Foto: Acervo Gazeta

A popularização e exploração da imagem de mulher atleta era muito voltada a uma visão fetichista masculina. Com o avanço de pautas feministas, as atletas começaram a se sentir mais confortáveis de questionar a disparidade entre os uniformes masculinos e femininos, já que, até então, as peças eram usadas por mulheres, mas eram pensadas visando agradar o olhar dos homens.

Um caso muito marcante ocorreu em 2021, quando a seleção feminina de handebol de areia norueguesa se recusou a usar biquínis e colocou shorts durante a competição europeia. A Federação Europeia de Handebol multou as jogadoras por não utilizarem o uniforme padrão. O caso teve repercussão internacional e até a cantora norte-americana PINK se ofereceu para pagar a multa. Depois de muita pressão pública, a Federação Internacional desobrigou o uso dos biquinis.

Nas olimpíadas de Tokyo, a delegação feminina alemã de ginástica artística escolheu utilizar roupas que cobrem o corpo, deixando de lado os tradicionais maiôs. A roupa utilizada é classificada como um traje religioso, destinado a atletas que por motivos religiosos não podem mostrar o corpo.

As alemãs optaram por utilizar este uniforme por motivos não religiosos, o que causou bastante repercussão. Enquanto isso, na equipe de ginástica masculina, os uniformes oficiais contam com opções entre bermudas e calças.

Mesmo com os protestos das atletas, e avanços das pautas feministas ainda acontecem muitos casos de assédio, tanto com as atletas quanto com mulheres que se interessam ou trabalham com esporte, o que faz com que muitas mulheres optem por uniformes mais cobertos.

A Mizuno produziu uniformes para as equipes femininas de vôlei, atletismo e tênis, com uma tecnologia que impede o registro de câmeras infravermelhas, que fotografam o corpo e as roupas intimas das atletas. A atitude foi tomada depois que um homem utilizou tais câmeras numa partida de vôlei feminino em 2021, cujo conteúdo foi vendido em sites pornográficos.

Nestas olimpíadas, discussão sobre as roupas de atletismo da equipe dos Estados Unidos, já geram debates; As roupas femininas são, como sempre, mais expostas que a dos homens. Com isso, a Nike, responsável pelas peças, vem sendo acusada de machismo.

Seguindo esta linha de raciocínio, de que as roupas não são pensadas no conforto feminino, apenas na copa de 2023, a seleção feminina brasileira de futebol, conseguiu bermudas com tecnologias absorventes para evitar acidentes e permitir maior confiança durante o ciclo menstrual das atletas.

Questões importantes para a performance esportiva ainda são deixadas de lado, enquanto questões puramente estéticas e sexistas ainda são prioridades no mundo esportivo.