Fotos e entrevista Ana Coutinho

No dia 6 de dezembro aconteceu a 12ª edição do Dia da Beleza Indígena, na Terra indígena Jaraguá, na aldeia Pyau. O dia surgiu para fortalecer a autoestima das crianças, jovens, adultos e anciãos e falar mais do nhandereko, o modo de vida guarani, e da cultura do povo para a sociedade. Na programação, além do tradicional desfile, a degustação de comidas, palestras falando da cultura tradicional, dos desafios das comunidades indígenas pelo Brasil, espaço para pintura corporal, venda de artesanato, e apresentações musicais com o coral Guarani e a dança do Xondaro. O tema deste ano foi o “novo tempo”, e mostra um processo de transição que o evento está vivendo.

Jaci Martins é fundadora do Beleza Indígena e conta que desde sempre ele foi organizado pelos adultos, com ajuda de outras pessoas da comunidade estendida como profissionais de saúde, e em 2024, o evento foi todo organizado pelos jovens da aldeia. “Entregar este evento para os nossos jovens da tekoa (terra) é uma responsabilidade que eles abraçaram de um jeito tão lindo, e tão importante para a divulgação da nossa cultura.” Eles participaram também da programação, nos desfiles e com jovens que fizeram apresentação musical.

Ela conta que quando começou a produzir, os jovens que hoje estão à frente eram crianças: ‘’Quando eu comecei esse evento eles eram muito pequeninos, eram minhas cobaias na pintura, na demonstração de argila, de plantas medicinais, e ver hoje esses jovens fazendo é uma satisfação de que eu fiz um trabalho perfeito, um trabalho certo e eu plantei a semente que a gente precisa resistir dentro de São Paulo.’’

Para Jaci, é importante também que o Beleza aconteça de forma aberta por dois motivos: para o povo da aldeia, é uma forma de mostrar para a comunidade indígena que há beleza ali dentro, e que ela não precisa ser branca para ser bela; e para fora da aldeia, para mostrar para a população não indígena que ainda existe uma cultura que resiste, e que precisa ser vista e preservada. Ela também aponta que, por conta da diferença que existe do padrão e das vivências, a comunidade sofre bastante com o racismo e a discriminação. Lixo é despejado no lugar, animais mortos, desrespeitando o território sagrado do povo que ali vive. 

Ciara Martins, modelo indígena é filha de Jaci, e organizou o Beleza Indígena desse ano. Para ela, o desfile é muito importante pela simbologia que carrega: “Aqui no território tem 8 aldeias e cada uma delas participa e espera muito por esse evento. Cada vestimenta é feita pela própria pessoa que vai desfilar.” E para quem não participa dos desfiles, tem a preparação dos artesanatos expostos e outras formas de participação. Foi num dos desfiles produzidos no território que Ciara viu que a passarela é algo que ela quer fazer na vida, e acredita que isso pode incentivar outras meninas e meninos a se aventurar no mundo da moda. 

E as vestes também são vitrine de protesto dos povos, e este ano, algumas delas traziam frases como ‘’S.O.S Guarani Kaiowá’’ e ‘’São Paulo é Terra Indígena’’.

Wera Popygua, agente de saúde indígena e também organizador do evento reforçou a importância da juventude se apropriar do lugar da luta indígena: ‘’O tema desse ano foi o Ara Pyau, o tempo novo, e a gente fez isso para querer mostrar o tempo novo, o que são as coisas novas pra gente, o que a gente deve fazer para proteger a floresta que o não-indígena quer só a riqueza de derrubar e construir.’’