Devastado por enchentes, Paquistão protagoniza debate sobre perdas e danos na COP27
Paquistão não vê possibilidade de cobrir sozinho os prejuízos impostos por eventos climáticos extremos
Por Alex Azevedo, da cobertura colaborativa NINJA na COP
Desde julho de 2022, o Paquistão vem enfrentando inundações sem precedentes. Mais de um terço do país foi atingido pelas enchentes, deixando mais de 1.700 pessoas mortas e outras milhares impactadas. Os prejuízos financeiros podem chegar à ordem de U$$ 30 bilhões, de acordo com o primeiro-ministro Shehbaz Sharif, devido aos danos na infraestrutura e agricultura, que impactou diretamente nos setores de abastecimento de alimentos, habitação, transporte e comunicação.
Já sofrendo por catástrofes climáticas recentes, como ondas de calor, incêndios florestais e outras inundações, além de enfrentar severos problemas econômicos, o Paquistão não vê possibilidade de cobrir sozinho os prejuízos impostos por esses eventos extremos. É o que afirma a ministra de mudanças climáticas do Paquistão, Sherry Rehman, que está indo à COP 27 com o objetivo central de conquistar contribuições mundiais para as perdas e danos causados pelas mudanças climáticas.
O termo “perdas e danos” faz referência ao impacto destrutivo de eventos climáticos sobre populações impossibilitadas de ajustarem o modo de vida às novas condições. Esse tema é debatido na ONU há quase uma década, e embora tenha engendrado uma cadeia de doadores com foco em criar um seguro contra desastres climáticos, na prática há muito pouco avanço concreto desse mecanismo.
Assim, a formulação central de Rehman e outros especialistas climáticos é justamente efetivar um mecanismo de financiamento de perdas e danos, alertando outras nações sobre a escalabilidade do problema.
“O que acontece no Paquistão não ficará no Paquistão”, diz Rehman.
Esse debate não estava inicialmente pautado na agenda da COP 27, mas dada repercussão e requerimentos, conseguiram inclui-lo de última hora. Apesar disso, não são esperadas grandes decisões momentâneas dos países desenvolvidos, e as discussões sobre perdas e danos deve se estender para os próximos anos. De todo modo, o secretário geral da ONU, António Guterres, mantém o otimismo, declarando que “espera que seja possível” que o Paquistão consiga algum beneficiamento por pautar essa agenda.
Discurso do presidente
Nesta terça-feira (8), no terceiro dia da COP, o primeiro-ministro do Paquistão, Shebaz Sharif, fez um apelo emocionado às nações mais ricas para que ajudem os países que estão sofrendo o peso da crise da crise climática.
“Esta COP soa como um alarme para a humanidade, é a única plataforma onde a sobrevivência da raça humana como meta ainda é promissora”, disse ele.
Lembrou que é também o lugar onde os países vulneráveis levam seu clamor aos mais ricos, num chamado pela construção de “um roteiro para redefinições cruciais de políticas necessárias em um mundo que está queimando mais rápido do que nossa capacidade de recuperação”.
E realçou: “Apelamos a todos os que têm o poder financeiro para mudar o rumo da história, em alto e em bom som, e é para isso que esta conferência serve. É agora ou nunca. Para nós, não existe de fato um planeta B.”