‘Desse ano você não passa’: Lola Aronovich sofre novas ameaças de morte e de estupro
Blogueira feminista publicou no Twitter o conteúdo das ameaças enviadas por e-mail
Blogueira feminista publicou no Twitter o conteúdo das ameaças enviadas por e-mail
A professora e blogueira feminista Lola Aronovich sofreu mais uma ameaça de morte e estupro por e-mail. Em seu perfil no Twitter, Lola divulgou o print com a ameaça. A Polícia Federal investiga o caso.
“Já tenho todas as suas informações, em breve vou viajar até sua cidade, te estuprar e depois vou cortar sua cabeça. Vou filmar isso tudo e jogar nas redes sociais. Será o ato mais belo desse ano de 2023, pode acreditar que desse ano aqui você não passa. Vamos te matar. Pode aguardar por nós, sua gorda porca”, diz a mensagem criminosa.
As ameaças de morte contra mim (não por eu ser Lola, mas por ser mulher e feminista) já têm + de 12 anos e nunca pararam. Aqui, uma enviada por email 2a passada (havia tds meus dados, como CPF e endereço residencial, q mascus divulgam há anos). Esta foi deixada no meu blog hj. pic.twitter.com/nMNDDq2uJ1
— Lola Aronovich (@lolaescreva) February 27, 2023
Lola integra o grupo de trabalho criado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, do governo Lula (PT), que busca criar políticas públicas de combate aos discursos de ódio e de extremismo, principalmente nas redes sociais. O influenciador digital Felipe Neto também integra o grupo, liderado pela ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB).
À reportagem da Folha de São Paulo, Aronovich explicou que no GT ela vai usar a experiência de mais de uma década como alvo predileto de grupos extremistas “para discutirmos o que pode ser feito para combater o ódio”.
“Em dezembro, um grupo de onze mulheres, entre elas eu, elaboramos um relatório sobre como impedir massacres em escolas para o núcleo de Educação do governo de transição. Espero que ele seja útil também”, destacou.
Lola Aronovich, professora de Literatura Inglesa na Universidade Federal do Ceará (UFC) e blogueira feminista no Escreva Lola Escreva, no qual faz reflexões sobre as desigualdades de gênero. É ela quem dá nome à Lei Lola, após ser alvo de ataques pelo conteúdo do seu blog, que entrou no ar em 2008.
Os ataques se ampliaram em 2011, quando Lola criou o termo “mascu” para se referir aos supremacistas masculinos que participam de fóruns e organizam redes de misoginia na internet, incentivando práticas violentas como o estupro e feminicídio, como publicou o Catarinas.
Apesar das graves ameaças, que são recorrentes em sua vida há mais de uma década, Lola Aronovich afirma não ter medo. “Sou ameaçada por quadrilhas misóginas de extrema direita no mínimo desde 2011”, relatou.
Sindicato repudia ameaça
A ADUFC-Sindicato repudiou veementemente as ameaças de morte e estupro sofridas pela Profª. Lola Aronovich, do Departamento de Letras Estrangeiras da UFC. Prestamos irrestrita solidariedade à docente, que, em seu perfil nas redes sociais, denunciou, na última segunda-feira (27), os mais recentes ataques que recebeu, via e-mail, de grupos masculinistas. As ameaças vividas por Lola infelizmente não iniciaram agora. Ela já é alvo de perseguição de grupos extremistas há pelo menos 12 anos, o que a levou a integrar o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Exigimos, pois, investigação imediata do caso e julgamento dos envolvidos.
Além de ameaças como “decapitação” e “estupro”, outros xingamentos misóginos foram proferidos contra a professora da UFC, que revelou que os criminosos continham dados de seus documentos, endereço e detalhes pessoais. Autora do blog “Escreva Lola, Escreva”, a docente é pesquisadora, escritora e tem destacada militância feminista. Recentemente, passou a compor o Grupo de Trabalho criado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para propor políticas públicas de combate aos discursos de ódio e extremismos que ameaçam a democracia brasileira.
Vivemos em um país em que a cada dia duas mulheres são mortas por feminicídio, vítimas do machismo. É inadmissível que uma mulher tenha a dignidade e a vida ameaçadas em razão de sua atuação social e política. Não podemos naturalizar esses episódios de violência de gênero, que sempre existiram, mas notadamente foram impulsionados, nos últimos quatro anos, por um governo federal fascista. Reiteramos a necessidade de uma resposta célere e eficiente das autoridades e dos órgãos competentes.
Ameaças dessa natureza, que configuram crime de ódio, têm a evidente tentativa de silenciar as mulheres e levá-las a uma vida com medo. Não aceitaremos retroceder de nossos direitos e liberdades alcançadas até aqui. Iniciando o mês de março, que marca a Luta Internacional dos Direitos das Mulheres, exigimos respeito à Profª. Lola Aronovich e a todas as mulheres que não se calam e não recuarão.