Desigualdade social também é refletida nas olimpíadas
Países desenvolvidos têm mais incentivos e melhores resultados; nações pobres enfrentam desvantagens.
Por: Karizia Marques
Você já parou para pensar como as questões geopolíticas podem influenciar os jogos olímpicos? Pois bem, muitas vezes quando assistimos alguma disputa entre um atleta que vem de uma superpotência e outro que vem de um país pequeno e subdesenvolvido, já sabemos quem é o favorito. Normalmente os países mais desenvolvidos conseguem levar atletas de melhor desempenho para as Olimpíadas e consequentemente acumulam mais vitórias.
Nas Olimpíadas de Londres, em 1908, surgiu o lema “O importante não é vencer, mas competir”, popularizado pelo barão de Coubertin. Acontece que todos os atletas têm o desejo de ganhar, mas alguns já sabem que são capazes de vencer, enquanto outros, apenas competir. Isso acontece porque em países mais com padrão de vida maior, existem políticas públicas e incentivo ao desporto que preparam desde cedo os jovens para esportes de alto nível.
Já em países subdesenvolvidos isso não é uma realidade. Além da falta de incentivos e políticas na formação de atletas, o IDH baixo de uma região, dificulta desde até mesmo o desenvolvimento físico da população. É o que foi avaliado pela universidade britânica Imperial College, para a revista The Lancet. No estudo concluiu-se que a estatura média de homens e mulheres é menor em países mais pobres, o que os deixa em desvantagem em alguns esportes.
Vemos que as nações mais desenvolvidas são as que possuem melhor desempenho e consequentemente maior número de medalhas. O Comitê Olímpico Internacional (COI) revela que os países com maior número de medalhas acumuladas até 2020 são: EUA (2567), Reino Unido (1057), URS (1010), Alemanha (783) e França (762). Dentre elas, quatro estão no G7 (grupo dos países mais ricos do mundo): Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha.
Além disso, são os países mais ricos que possuem as maiores delegações. Quando somamos os 5 comitês com maior número de atletas em Paris (EUA, França, Austrália, Alemanha e Japão), elas são correspondentes a 23% dos atletas olímpicos. No total são 11,216 atletas, divididos em 206 comitês olímpicos.
Essa diferença também é perceptível na quantidade de membros na equipe técnica. Quando vemos no ao vivo o tamanho da equipe de suporte e preparação, é notável como para ganhar não é necessário somente talento, mas também recursos e planejamento. É aí que a diferença entre os países ricos e pobres fica mais nítida.
O fato de nas olimpíadas terem os melhores atletas de cada país, não significa que todos estão igualados em preparação para estar ali. A realidade de cada lugar é diferente, por isso, muitos deles além de terem poucos representantes, a equipe técnica é menor e consequentemente não atingem a performance de atletas de países em melhores condições.
Para representar essa desigualdade em números, na última olimpíada de Tóquio, dos 204 comitês, menos da metade levou alguma medalha para casa. Segundo o COI, foram 93 que levaram pelo menos uma das 1.080 medalhas, e destas, 669 foram divididas em apenas 24 países. As 111 delegações restantes que não obtiveram nenhuma vitória foram justamente das regiões mais subdesenvolvidas de cada continente: 41 África, 26 da América Latina, 20 da Ásia, 14 da Oceania e 10 da Europa.
Apesar disso, algumas nações pequenas ainda conseguem se destacar em algum esporte específico, que já é tradicional naquele lugar, como: Jamaica, no atletismo; Cuba, em lutas e atletismo; e Etiópia, também no atletismo.
Com esse cenário, onde é claro que as questões de desigualdades geopolíticas interferem nos jogos, o Comitê Olímpico deveria tomar alguma atitude para minimizar a situação. Ao invés de ignorar o problema, seria o momento para debater a promoção de medidas de equidade, desde a preparação dos jogos, para olimpíadas cada vez mais competitivas.
Casos que fogem desse panorama
A China é um exemplo de país que vem mudando esse cenário e se destacando nas Olimpíadas. Ela só começa a participar no ano 1952, e à medida que o país foi se desenvolvendo mais, ela passou a ter maior notoriedade nos jogos, sendo medalhista em diversas categorias. As Olimpíadas de Pequim 2008, retratam bem isso. Foi quando o país ultrapassou os EUA e garantiu o maior número de medalhas de ouro e hoje está no top 10 no ranking mundial.
Já no Brasil, apesar da desigualdade dentro do país ainda deixar a desejar em questão de acesso ao esporte, isso vem mudando aos poucos nos últimos anos. Como forma de desenvolver políticas públicas para inclusão de atletas fora da elite, o governo promove desde 2005, o programa do bolsa-atleta para patrocinar os talentos do país. Apesar de não ser o valor ideal para um esportista se desenvolverem mais, é uma tentativa para diminuir a situação.
Outras mudanças, foram a distribuição de vencedores olímpicos pelo Brasil. Antes os principais medalhistas vinham do eixo sul-sudeste, região mais desenvolvida, e nas últimas Olimpíadas em Tóquio, o Nordeste teve uma participação mais expressiva levando a maioria das medalhas de ouro individuais do país. Mais detalhes sobre esse feito, confira a matéria NEC.