Nas últimas semanas, um grupo de deputados bolsonaristas apareceu trajando bonés verde e amarelo e segurando pacotes de café estampados com a frase “comida barata novamente”. O gesto fazia parte de uma campanha que, supostamente, demonstrava preocupação com a alta dos preços dos alimentos e seus impactos na fome da população brasileira.

Diante da pressão, o governo federal anunciou um pacote de medidas para conter a escalada dos preços. Entre as ações estão a isenção do imposto de importação sobre produtos da cesta básica, estímulo à produção de alimentos no Plano Safra, fortalecimento dos estoques reguladores e um pedido aos estados para que reduzam o ICMS da cesta básica.

A resposta desse grupo de parlamentares, no entanto, foi uma guinada no discurso. Depois de defenderem a necessidade de alimentos mais baratos, os mesmos deputados passaram a atacar as medidas, alegando que elas “fragilizam o agronegócio” e prejudicam os produtores brasileiros.

Agora, 26 parlamentares apresentaram à Câmara dos Deputados um requerimento pedindo uma moção de repúdio contra a isenção de impostos para importação de alimentos. O documento, assinado por membros da oposição e até por representantes de partidos da base governista, acusa o governo de “intervenção econômica irresponsável” e de prejudicar a cadeia produtiva nacional.

As medidas também foram criticadas por organizações que defendem o direito à alimentação segura e de qualidade. Para esses movimentos, a isenção de impostos e os incentivos à produção agrícola não resolvem o problema de forma estrutural, pois mantêm um modelo de agronegócio voltado para exportação e lucro, sem garantir a soberania alimentar do país.

Essas organizações defendem alternativas como uma reforma agrária robusta, maior investimento na agricultura familiar e agroecológica e políticas públicas que fortaleçam a produção de alimentos saudáveis e acessíveis à população brasileira.

Enquanto isso, a contradição no discurso parlamentar segue evidente. Embora afirmem se preocupar com a alta dos preços, esses deputados bolsonaristas continuam protegendo um modelo de agronegócio que prioriza monoculturas para exportação e mantém a concentração fundiária—deixando de lado quem realmente coloca comida na mesa dos brasileiros: a agricultura familiar.

Parlamentares que assinaram o requerimento:

Zucco (PL-RS)
Coronel Assis (União-MT)
Zé Trovão (PL-SC)
Junio Amaral (PL-MG)
Sargento Fahur (PSD-PR)
Coronel Chrisóstomo (PL-RO)
Gustavo Gayer (PL-GO)
Osmar Terra (MDB-RS)
Capitão Alden (PL-BA)
Silvia Waiãpi (PL-AP)
Delegado Ramagem (PL-RJ)
Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP)
Delegado Caveira (PL-PA)
Carlos Jordy (PL-RJ)
Evair Vieira de Melo (PP-ES)
Pezenti (MDB-SC)
Rodolfo Nogueira (PL-MS)
Cabo Gilberto Silva (PL-PB)
Rosangela Moro (União-SP)
Mario Frias (PL-SP)
Daniel Agrobom (PL-GO)
Bia Kicis (PL-DF)
Mauricio do Vôlei (PL-MG)
Messias Donato (Republicanos-ES)
Sanderson (PL-RS)
Julia Zanatta (PL-SC)