Deputadas de Minas denunciam ataques e estratégia da extrema-direita para impor retrocessos
“Não vamos tolerar esse tipo de violência política e também de divulgação de fake news”, afirmou a deputada Bella Gonçalves, que tem sido alvo de ataques
Minas Gerais enfrenta um cenário alarmante, com pelo menos seis parlamentares progressistas recebendo ameaças anônimas de estupro corretivo. Além das deputadas Bella Gonçalves e Lohanna França, as vereadoras Iza Lourença (PSOL-Belo Horizonte), Cida Falabella (PSOL-Belo Horizonte), Claudia Guerra (PDT-Uberlândia) e Amanda Gondim (PDT-Uberlândia) também têm sido alvos de ameaças. Estupro, assassinato e repreensão – em todas as ameaças fica evidente o conteúdo político, mas também misógino.
Há cerca de 70 dias, as parlamentares estão recebendo escolta armada. A sessão da última quarta-feira (25), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais teve que ser interrompida, após a divulgação de um vídeo nas redes sociais pelo deputado bolsonarista Caporezzo (PL), no qual questionava o uso de escolta parlamentar da deputada ameaçada Bella Gonçalves durante sua participação em um evento.
“Não vamos tolerar esse tipo de violência política e também de divulgação de fake news. Nós temos projetos de proteção às mulheres, e é por isso que temos que ter condições de exercermos nosso mandatos sem sermos ameaçadas”, falou Bella durante a sessão legislativa.
“Quando, em 2023, recebi novas ameaças de morte mudei a rotina, diminui viagens e concentrei mais no espaço físico da Assembleia, local em que me sentia segura. Depois desta semana, não sinto mais. Dentro da Assembleia existe o gabinete do ódio e a milícia digital. Recebem do dinheiro público para praticarem misoginia, intimidação, incentivarem violência política contra mulheres e sequer passam pelo detector de metais. Nada acontece para parar isso”, afirmou a deputada Beatriz Cerqueira.
O Partido dos Trabalhadores emitiu uma nota denunciando a atitude de parlamentares que atacam e questionam a legitimidade das deputadas receberem escolta. “É de extrema preocupação o ocorrido na última semana na ALMG, no qual parlamentares usam como estratégia provocações e ataques às mulheres da legislatura na tentativa de impedir o exercício de seus mandatos e silenciá-las nas comissões”, disse a nota. O PSOL também divulgou uma nota semelhante de apoio às deputadas.
“Qualquer ameaça contra deputadas e deputados desta Casa é uma ameaça ao parlamento e à sociedade mineira. É por isso que essa Casa tomará, com certeza, medidas enérgicas para que isso não aconteça. Não só para a proteção das deputadas, que infelizmente estão sob ameaça e sob escolta neste momento, mas também para que exageros não aconteçam nesta Casa”, afirmou a Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
A bancada feminina da casa, liderada pela deputada Macaé Evaristo, alerta que as medidas de proteção podem se tornar insuficientes, caso continue sendo inflamada por parlamentares bolsonaristas a cultura do ódio contra deputadas progressistas. Macaé pede que tanto o governo de Minas Gerais quanto a Assembleia Legislativa fortaleçam as medidas de proteção.
Em setembro, um grupo de parlamentares de Minas foi até o Ministério da Justiça e Segurança Pública denunciar ao ministro Flávio Dino a série de ameaças. O governo federal se comprometeu em acompanhar as investigações que estão sendo executadas pela Polícia Civil de Minas Gerais.
O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) e as policiais Civil e Militar chegaram a cumprir mandados de busca e apreensão contra suspeitos de ameaçar as deputadas em uma operação no fim de setembro. Batizada de Operação Di@na, a investigação teve início após as parlamentares receberem as primeiras ameaças nos e-mails da ALMG, mas não foram suficientes para cessar os casos de intimidação.