Depoimento de Barra Torres aperta o cerco a negacionismo de Bolsonaro
Presidente da Anvisa criticou aglomerações, defendeu o uso de máscara, álcool em gel, distanciamento, vacina e disse não concordar com uso de cloroquina para covid.
O depoimento nesta terça-feira (11) de Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), deixou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mais isolado ainda em seu negacionismo científico na pandemia.
Em fala técnica, Barra Torres criticou aglomerações provocadas por Bolsonaro, defendeu o uso de máscara, álcool em gel, distanciamento e vacina; disse que estudos apontam que cloroquina não funciona, e por fim causou a ira de Jair Bolsonaro.
Ele afirmou à CPI da Covid que a médica Nise Yamaguchi defendeu alterações na bula da cloroquina para que o medicamento fosse usado para tratar Covid. Torres também confirmou reunião sobre o tema, no Palácio do Planalto, com ministros de Bolsonaro.
“Esse documento, ele foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi. Isso provocou uma reação talvez deseducada, deselegante minha. Porque, talvez vossa senhoria não saiba, mas aquilo não poderia ser, porque só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele país, disse Barra Torres.
Críticas à cloroquina
Em diversas ocasiões, Barra Torres não fez meias palavras para criticar a defesa da cloroquina pelo governo Bolsonaro.
“Estudos apontam a não eficácia (da cloroquina) em estudos. Até o momento as informações vão contra o uso”, disse Barra Torres.
Para ele, o medicamento não deveria ser adotado no tratamento de Covid.
“Minha reação sobre tratamento precoce não contempla esse medicamento, mas contempla testagem em massa e vacinação”, afirmou o presidente da Anvisa.
Defesa da vacina
Barra Torres afirmou à CPI da Covid que “discordar de vacinas não guarda uma razoabilidade histórica”. Ao longo da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou contra a vacinação.
“Eu penso que a população não deva se orientar por condutas dessa maneira. Ela deve se orientar principalmente pelo que está sendo preconizado pelos órgãos que têm linha de frente no enfrentamento da doença”, disse.
“Discordar de vacinas não guarda uma razoabilidade histórica”, concluiu.
Sputnik V
Imunizante já contratado por governadores do Nordeste, inclusive do Maranhão, o presidente da Anvisa foi bastante cobrado por senadores, principalmente do Nordeste. Ele disse que o processo de aprovação da Sputnik V está parado por falta de documentos da União Química.
“Essa é uma questão regulatória. Não está em questão a relação entre Brasil e Rússia. Não espero de maneira nenhuma que impacte o entendimento entre os países”, disse Barra Torres.
“É muito importante que se entenda que esse processo de interrupção da análise da vacina, que ocorreu de forma excepcional, não deve somar à essa marca Sputnik V nenhum sentimento negativo.”
Impacto do depoimento
Amigo do presidente Jair Bolsonaro, o depoimento do presidente da Anvisa e almirante da Marinha surpreendeu senadores. Diferente do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Barra Torres não se conteve ao responder às perguntas dos congressistas.
Barra Torres também fez questão de levar toda a equipe de diretores da Anvisa para a CPI, numa sinalização de que estava disposto a defender a ciência e não a politização do combate à pandemia.