Departamento de Serviços Gerais da Universidade Federal do Paraná é ocupado
Hoje, no dia 10 de abril, a Frente de Apoio a Luta dos Trabalhadores Terceirizados, sob a face da campanha “Tem Sangue no Feijão que te Alimenta” ocupou o Departamento de Serviços Gerais da UFPR
Publicado originalmente no CWB Resiste
Nota da Frente de Apoio a Luta das Trabalhadoras e Trabalhadores Terceirizados
A Frente de Apoio a Luta das Trabalhadoras e Trabalhadores Terceirizados vem por meio desta nota anunciar a ocupação do Departamento de Serviços Gerais (DSG), órgão da Universidade Federal do Paraná incumbido do pagamento dos contratos das empresas terceirizadas e das licitações em geral!
Convocamos todos os estudantes, técnicos, professores, terceirizados e todos aqueles que apoiam a luta dos trabalhadores terceirizados a comparecerem na frente da ocupação do DSG, ao lado do prédio Dom Pedro II no complexo da Reitoria!
Antes de entrarmos no mérito da fundamentação desta ação política é essencial realizarmos um breve resgate dos fatos que se operaram nas últimas semanas em relação aos trabalhadores terceirizados do Restaurante Universitário.
Não é de hoje que a FALTT e a campanha “Tem Sangue no Feijão Que Te Alimenta” denuncia as atrocidades e arbitrariedades cometidas contra os trabalhadores dos restaurantes universitários. Desde que o RU reabriu no dia 19, os trabalhadores sentiram o impacto das decisões da administração da UFPR em conjunto com a Empresa Blumenauense. No início da prestação do serviço houve uma redução de mais da metade do quadro de funcionários que resultou no gigantesco aumento do ritmo de trabalho e a uma saturação e desgaste físico e mental produzindo diversos acidentes de trabalho, computando 4 em uma única semana e instabilidade emocional dos trabalhadores e trabalhadoras.
Além disso uma série de outros problemas foram denunciados como a obrigação dos trabalhadores de levarem para lavar em casa seus EPI’s; a falta de cozinheiros que foram substituídos por auxiliares de cozinha, um exemplo dos desvios de função, além de uma série de outros desvios; corte do benefício da insalubridade no RU Central justificado pela instalação de um exaustor, que porém não estava em funcionamento segundo o relato dos trabalhadores; diminuição do salário base; corte no valor do vale alimentação que passou de 330 para 191 reais; jornadas de trabalho exorbitantes excedendo inclusive a regulamentação legal de 10 horas; problemas de higiene como o de limpeza do ambiente de trabalho, panos de chão sendo lavados junto com panos de prato; e por fim assédio moral sistematizado por parte de representantes da Universidade Federal do Paraná e da Empresa Blumenauense na figura de muitas nutricionistas, ligados principalmente ao processo de mobilização reivindicativa da categoria e contato com a comunidade acadêmica, onde afirmavam categoricamente que “trabalhador que falar com estudante vai ser demitido”.
Frente a essa situação desesperadora, os trabalhadores em conjunto com os estudantes que se solidarizavam com sua causa buscaram realizar uma paralisação das unidades do Restaurante Universitário no dia 12 de março, a fim de realizar uma assembleia com a presença dos terceirizados de todos os RUs para debaterem sobre como resolver a situação. Entretanto, na segunda-feira de madrugada, quando os estudantes da FALTT compareceram às 5h da manhã nos RUs do Central, Politécnico e Botânico para somar força aos trabalhadores em sua paralisação, lá apareceram representantes engravatados da Reitoria, junto aos representantes da empresa e membros do DCE, filmando e fotografando os estudantes e intimidando os trabalhadores e estudantes ali presentes.
Em todo esse processo foram tentadas a realização de duas assembleias da categoria que foram esvaziadas em decorrência da desmobilização encabeçada por representantes da empresa e da universidade. Assim mesmo quando são convocadas assembleias com aprovação do sindicato, assembleias legítimas por lei, para os trabalhadores poderem se reunir e discutir sobre seus rumos, a empresa aparece antes no local de trabalho para coagir os trabalhadores a não participarem das assembleias com frases de “pode ir, mas quem for vai sofrer consequências”, tendo da Reitoria completo aval para isso acontecer, já que isso acontece continuamente sem consequências à empresa. Mesmo os trabalhadores que sequer vão para as assembleias são parados por nutricionistas e supervisores e são assediados com questionamentos e cobranças de “quem aqui foi para assembleia?” e colocados contra a parede.
Como resultado de toda essa pressão contra a universidade e a empresa Blumenauense, estes se viram obrigados a contratarem um maior número de funcionários que veio a resolver parcialmente os problemas referentes as fervoroso ritmo de trabalho. O que é importante ter claro é que não foi por “boa vontade” de uma empresa boazinha ou da UFPR cuidadosa que essas contratações ocorreram, elas não caíram do céu mas foram resultado da luta política.
Quando se podia acreditar que a situação poderia estar caminhando para uma melhora e os trabalhadores passarem a ser tratados com o respeito que merecem por tornarem a universidade o que ela é, novas demissões ocorreram na semana passada, em um total de 13 trabalhadores e trabalhadoras.
E quem eram esses trabalhadores?
São aqueles que assumiam uma posição mais firme frente o assédio moral que eram acometidos, aqueles que participaram da greve vitoriosa da categoria em outubro de 2017 e que assumiam um papel de mobilização da categoria, aqueles que mais atrapalhavam o sono dos burocratas institucionais e ameaçavam os bolsos dos donos da empresa.
A Universidade Federal do Paraná, principalmente na figura da pró-reitoria de administração, junto a Empresa Blumenauense, cometem ato claramente anti-sindical frente as possibilidades de organização da categoria. Estas demissões não foram ocasionais, ordinários mas sim DEMISSÕES POLÍTICAS de caráter abertamente discriminatórios, ofendendo qualquer vestígio de garantis de seus direitos trabalhistas.
Como afirmamos na última nota na página da FALTT: “Não devemos duvidar do caráter conservador dessa Reitoria, que se pinta de progressista, com seus eventos e discursos demagógicos, mas fecha os olhos para exploração dos mais vulneráveis, pois é sabido que os homens e as mulheres não se julgam pelo que dizem de si mesmos, mas pelo que efetivamente fazem.”.
Devemos compreender que o que acontece com os trabalhadores terceirizados no momento não é uma situação isolada, mas apenas um dos sintomas mais escancarados da precarização das universidades públicas do nosso país. Porém, diferentemente do que pensam os engravatados da Reitoria, não será jogando os trabalhadores terceirizados contra a avalanche que será barrado o desmoronamento da UFPR e da Universidade Pública. A saída não é aceitar de cabeça baixa e deixar que os cortes golpeiem antes os mais vulneráveis. A solução é a unidade de todos os setores combativos da universidade, por meio de uma luta incansável contra todos aqueles que colocam seus interesses politiqueiros acima da luta coletiva, vendendo-se por migalhas orçamentárias, facilidades, cargos comissionados, que usam a universidade como trampolim político. Apenas através de uma nova postura será possível construir uma luta nacional para verdadeiramente deter a destruição do ensino público. E dessa luta também fazem parte os trabalhadores terceirizados.
Por todo o Brasil, o desmonte da universidade pública se mostra cada dia mais claro, como denunciamos nessa mesma semana a demissão em massa de 270 trabalhadores terceirizados da limpeza na Universidade de Brasília. Essa demissão em massa na UnB não passa batido, e lá os estudantes estão tomando lado apoiando os trabalhadores terceirizados numa grande mobilização.
O que acontece hoje com os trabalhadores terceirizados da UFPR não é um caso isolado, pois vem se intensificando as medidas de corte do orçamento nas universidades públicas federais e estaduais. O primeiro elo da cadeia que as administrações públicas decidem atingir são os terceirizados, isso ocorre na UFPR, UNB, USP e diversas outras instituições, que utilizam inclusive os cortes como argumento de sua defesa. Pedimos licença para mais uma vez afirmar que a solução não são medidas que atinjam as categorias mais vulneráveis e precarizadas mas a luta política incansável da unidade dos setores combativos da universidade pública que não se dobram frente as políticas sujas do governo federal e estaduais e, para que isso ocorra devemos levantar a bandeira contra as personalidades que se esguiam da luta coletiva como o caminho para se utilizar da universidade como palanque de interesses politiqueiros.
Hoje, no dia 10 de abril, a Frente de Apoio a Luta dos Trabalhadores Terceirizados, sob a face da campanha “Tem Sangue no Feijão que te Alimenta” realizou uma ação de ocupação política ao Departamento de Serviços Gerais (DSG), responsável pelo pagamento dos contratos das empresas terceirizadas da Universidade Federal do Paraná.
A UFPR é responsável pela fiscalização da efetivação dos direitos trabalhistas das categorias que lhe prestam serviço, seja da limpeza, da conservação, dos restaurantes universitários, da recepção entre as diversas outras categorias, que por mais que sejam ignorados pela administração da universidade e não fazem parte da “comunidade acadêmica”, são responsáveis pela Universidade Federal do Paraná ser o que ela é, pela manutenção de milhares de estudantes na universidade pública.
A Frente de Apoio a Luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras Terceirizadas buscou ao longo de 2016 e 2017 insistentemente denunciar os problemas que ocorriam em diversas categorias da universidade, em reuniões com a pró-reitoria de administração, porém nada mudava, apenas batiam em nossas costas querendo que fossemos seus aliados como pretensos “representantes” do movimento estudantil, porém as coisas só mudaram quando ações concretas foram tomadas e os trabalhadores cruzaram os braços em frente aos restaurantes universitários. Se a luta é o que é preciso para a universidade acordar e resolver os absurdos problemas que envolvem as categorias terceirizadas, então luta é o que será feito.
Diante desse cenário, os estudantes da UFPR precisam tomar lado: ou estão com os trabalhadores terceirizados ou estão com a Reitoria. É necessário tomar um lado, ou se está ao lado de um movimento combativo, junto aos trabalhadores terceirizados, junto àqueles que trabalham, lutando contra a destruição da universidade pública que está em curso, ou se está ao lado daqueles que se vendem, ao lado da Reitoria, submissa e ajoelhada perante o sujo governo federal e da Empresa que só pensa em conta bancária.
A ocupação será mantida até que a universidade cumpra com suas competências de fiscalização das abusividades trabalhistas e exija a reintegração dos trabalhadores demitidos por motivos políticos. A ocupação do Departamento de Serviços Gerais não tem previsão de desocupação até que os trabalhadores sejam reintegrados.
Pela imediata reintegração dos trabalhadores terceirizados do Restaurante Universitário da Universidade Federal do Paraná, demitidos por motivos políticos.
Convocamos todos os estudantes, técnicos, professores, terceirizados e todos aqueles que apoiam a luta dos trabalhadores terceirizados a comparecerem na frente da ocupação do DSG, ao lado do prédio Dom Pedro II no complexo da Reitoria!