
De ‘Vitória’ a ‘Nomadland’: Como o cinema retrata a força e a resiliência feminina
Histórias de mulheres que desafiaram normas e resistiram em meio às adversidades
Por Juliana Gomes
O cinema tem sido uma poderosa ferramenta para contar histórias de mulheres que desafiam as normas, enfrentam desafios e encontram força na resiliência. O filme “Vitória”, estrelado por Fernanda Montenegro, é um exemplo recente desse retrato, mas está longe de ser o único.
Ao longo das décadas, diferentes cinematografias ao redor do mundo apresentaram personagens femininas complexas, capazes de transformar suas dores em potência. Seja enfrentando preconceitos estruturais, desafios pessoais ou buscando sua própria identidade, essas histórias são espelhos de muitas realidades. Mas qual é o impacto dessas representações? O que esses filmes nos dizem sobre a sociedade e as mulheres reais que inspiram essas narrativas?
No cinema brasileiro, “Central do Brasil” (1998) mostrou a jornada de Dora (Fernanda Montenegro), uma mulher solitária que encontra um novo sentido para sua vida ao ajudar um menino a encontrar seu pai. Já em “Que Horas Ela Volta?” (2015), acompanhamos o embate entre gerações e classes sociais através da relação de uma empregada doméstica e sua filha. O filme escancara o conflito entre serviço e autonomia, amor e distanciamento, privilégio e exclusão. Em “A Vida Invisível” (2019), o machismo estrutural separa duas irmãs, revelando a brutalidade de um sistema que silencia mulheres e, muitas vezes, apaga suas trajetórias da história. “Benzinho” (2018), por sua vez, emociona ao retratar uma mãe de classe média lidando com a iminente saída do filho de casa, explorando a maternidade como um ato de resistência e amor incondicional.
Fora do Brasil, a força feminina também ganhou destaque. “Nomadland” (2020) retrata a resiliência de uma mulher que enfrenta a perda e encontra liberdade na estrada. Mais do que um filme sobre sobrevivência, é uma obra sobre recomeços e sobre a busca por um espaço no mundo, mesmo quando tudo parece ruir. “As Sufragistas” (2015) relembra a luta de mulheres da classe trabalhadora pelo direito ao voto no início do século XX, evidenciando como batalhas passadas pavimentaram caminhos para os direitos que temos hoje. “Histórias Cruzadas” (2011) mostra como mulheres negras nos anos 1960 desafiaram o racismo estrutural, enfrentando opressão e mudando paradigmas com coragem e sororidade. Já “O Piano” (1993) apresenta uma protagonista que, mesmo sem voz, usa a música como forma de resistência e expressão, desafiando sua própria condição e as limitações impostas pela sociedade.
Esses filmes não só contam histórias poderosas, mas também moldam a percepção do público sobre o que significa ser mulher em diferentes tempos e espaços. Em muitos casos, essas obras resgatam narrativas que foram silenciadas ou ignoradas, dando visibilidade àquelas que sempre existiram, mas nem sempre foram vistas. E mais do que isso: inspiram mudanças.
A arte tem um papel fundamental na construção do imaginário coletivo e na representação de figuras que muitas vezes não encontram espaço em outros meios. Quando vemos mulheres na tela superando desafios, enfrentando o mundo de cabeça erguida ou simplesmente existindo em sua plenitude, também nos vemos ali.
O que une todas essas obras é a maneira como elas retratam a força feminina em suas múltiplas formas. Algumas mulheres encontram coragem na luta, outras na resiliência silenciosa. Algumas desafiam sistemas, outras reinventam suas próprias trajetórias. O cinema, como reflexo da sociedade, continua a contar histórias que inspiram, questionam e fortalecem. O que essas protagonistas nos mostram é que resistir, em qualquer contexto, é um ato revolucionário.