De Tóquio a Paris 2024: o ciclo olímpico vitorioso
Ouro no Solo, prata no Salto e no Individual Geral e bronze por Equipes, a ginasta artística faz história ao somar seis medalhas pelo Brasil e deixar legado na competição.
Por Danilo Lysei e Renan Cuel, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Rebeca Andrade, a recordista olímpica mundial.
É o nome marcado na história do Brasil.
A ginasta artística de excelência e recordista brasileira deixa legado ao chegar no pódio por seis vezes em Olimpíadas. Um feito jamais alcançado por um atleta brasileiro, em 128 anos de história da competição na era moderna.
O país tem uma ídola nacional e reconhece a excelência do trabalho técnico da atleta e toda sua equipe.
Após apresentações apoteóticas na Arena Bercy, a passagem da atleta nas Olimpíadas de Paris 2024 cravou quatro medalhas: ouro no Solo, com 14.166, superando todas as expectativas; prata no Salto, com média 14.966, atrás apenas da norte-americana Simone Biles (15.300), em um dos dias mais lotados do ginásio e esperados na modalidade; prata no Individual Geral, com 57.932 pontos somados nos quatro aparelhos, também contra Biles, que ficou com o primeiro lugar (59.131); e bronze por Equipes, conquistado junto às companheiras de equipe Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, que somaram 164.497 pontos no total.
Todos os feitos de Rebeca em Paris após o destaque europeu e as manchetes em jornais ao redor do mundo são amplamente conhecidos e não há dúvidas que você tenha conhecimento. Mas o que ela demonstra é que essas entregas são resultados de um trabalho árduo, resiliente e de excelência técnica. De Tóquio 2020 à Cidade Luz, a atleta de Guarulhos, São Paulo, com apenas 25 anos, mostrou o fruto de seu esforço físico e mental, entregando um ciclo olímpico inédito e elevando o nome do Brasil no cenário mundial da ginástica artística.
Na capital francesa, a atleta brilhou com dois saltos incríveis em seu aparelho de domínio: o Cheng (meia volta para a mesa + uma pirueta e meia) com dificuldade D5.6 e nota E9.500, e o Amanar (Yurchenko com dupla pirueta e meia) com dificuldade D5.4 e nota E9.433. Esses saltos garantiram a ela a medalha de ouro no Mundial de Ginástica em Antuérpia 2023. Na competição, ela se destacou não só por vencer no Salto (seu segundo ouro após Kitakyushu 2021), mas também por superar Simone Biles e dividir o pódio com Flávia Andrade, que conquistou seu primeiro bronze. Além disso, conquistou pratas no Individual Geral e por Equipes, e bronze na Trave.
Consagrada pelo ‘Baile de Favela’, o Solo da atleta do Flamengo precisou ser renovado e veio com força neste último mundial, recheado de coreografias artísticas sob os sons de referências à altura, como Beyoncé e Anitta. A apresentação rendeu a ela medalha de prata em 2023, superando o bronze de Liverpool 2022. Diferente de Kitakyushu 2021, onde a brasileira consciente da temporada intensa e dos níveis exigidos decidiu pela não realização do Solo, em 2022 Rebeca subiu no pódio, em um mundial de ginástica marcado por confronto com a arbitragem e recurso sobre descontos dados pelos jurados.
Mas foi no Japão, nas Olimpíadas de 2020, que Rebeca pôs pela primeira vez os pés na competição olímpica. E foi lá onde cravou seu nome dentre as lideranças para o ciclo.
Realizada no ano seguinte (2021), a brasileira disputou a prova de Salto na competição e conquistou a medalha de ouro, tornando-se campeã – título inédito para o Brasil na modalidade e no aparelho em si. Não suficiente, conquistou também a medalha de prata no Individual Geral, ficando atrás da norte-americana Sunisa Lee. O Individual geral é o desafio destaque por avaliar quem é a ginasta mais completa do mundo, somando os 4 aparelhos. Com isso, Rebeca tornou-se a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha olímpica.
E foi com tamanho feito na época, que a ginasta e o Brasil tiveram uma crescente significativa nos anos seguintes até chegar em Paris 2024.
Hoje, após este ciclo mais que significativo, a bicampeã mundial se despede de sua segunda participação olímpica com a certeza do nome cravado no hall da fama do Olimpo. Em número de medalhas, a ginasta superou atletas renomados, como os velejadores Robert Scheidt (dois ouros, duas pratas e um bronze) e Torben Grael (dois ouros, uma prata e dois bronzes).
Agora, para o próximo ciclo até Los Angeles 2028, ainda que deixe sua herança, Rebeca Andrade pretende não competir mais no Individual Geral. Na França, reiterou que o foco será em aparelhos específicos e treinar como especialista. E, quem sabe, arrebatar sua 3ª medalha olímpica pelo Salto.
“Fazer o individual geral exige muito do meu corpo, principalmente dos meus membros inferiores. Mas eu falo que o futuro a Deus pertence. Vai que do nada dá um ‘tchan’ na minha cabeça e meu corpo melhora. Mas já trabalhei isso na minha mente. Queria muito que hoje fosse uma competição especial porque para mim, será meu último individual geral” disse ela, em entrevista ao Repórter Gabriel Gentile do Olimpíada.
A ídola nacional
Degrau por degrau, as entregas nos anos de 2021 a 2024 renderam para a Rebeca peso na ginástica e perspectiva de pódio sempre que entrava em um ginásio. Mas a caminhada de campeã e subidas aos pódios, começou logo aos 18 anos – onde depois nunca mais saiu.
Após os legados de Dayane dos Santos e Daniele Hypolito e a maior popularização da modalidade, a pupila passou a estabelecer o protagonismo na ginástica desde 2015, quando passou a colecionar medalhas em Copas do Mundo – com as pratas no salto em São Paulo 2015/ Anadia 2016 e ouros em Koper 2017 e Cottbus 2018. Quando tudo parecia ser escalada, a atleta interrompeu a jornada para enfrentamento de três lesões no joelho direito.
Nada que abalasse o objetivo e sonho olímpico, realizado após recuperação de cirurgias e uma pandemia mundial. De lá para cá, foram 9 medalhas somadas em Mundiais (três ouros, três pratas e três bronzes) e agora, após esta temporada magnífica em Paris 2024, 6 medalhas em Olimpíadas.
A maior medalhista desse país independe de gênero.
Parabéns, Rebeca Andrade, o agradecimento é nosso.