De surpresa em 2012 para favorita em 2024: Como Turquia cresceu tanto no vôlei em uma década
Sem tradição no esporte, a Turquia cresce no vôlei feminino e pode conquistar sua primeira medalha olímpica.
Por Rafael Lisboa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Tendo surpreendido os brasileiros em 2012, a Turquia chegou na disputa pelo bronze do vôlei feminino nas Olimpíadas de Paris de 2024. O país, que hoje é uma das potências da modalidade, também construiu uma forte e competitiva liga, além de ter uma seleção de alto nível.
Conforme o site “Centro Cultural Brasil Turquia”, a história do voleibol no país se iniciou na década de 40, quando o professor de Educação Física Selim Sirri Tarcan liderou e desenvolveu torneios escolares, chamando atenção de clubes desportivos, que passaram a ter equipes de vôlei. Em 1956, oito anos após a criação da liga nacional masculina, a Federação Nacional de Esporte, realiza a primeira edição do torneio feminino, com vitória do Fenerbahçe, tradicional clube que também disputa esportes como futebol e basquete.
Mas, apesar da liga de clubes ser da década de 50, o profissionalismo e o comando por parte da Federação Turca de Voleibol, ocorreu apenas nos anos 80, com a criação de uma nova liga, conhecida atualmente por Sultanlar Ligi. Desde seu início, o torneio vem crescendo em média de público nos ginásios e em audiência por haver o direito de transmissão para diversos países. O Eczacıbaşı, atual clube da sérvia Bošković e da canadense Alexa Gray, é o maior campeão da competição, com 16 títulos. A liga também conta com o VakifBank, clube com quatro títulos mundiais e possui jogadoras de alto nível como as brasileiras Ana Cristina e Júlia Bergmann.
Todavia, uma boa liga não representa uma boa seleção, sem o crescimento e investimento devido no esporte, tendo sido bem executado pelo país eurasiático. Durante o final da década de 2000 e boa parte da década de 2010, o vôlei europeu passou por crises financeiras para manter grandes jogadoras e treinadores que trabalhavam nos melhores clubes do continente. Na contramão desse movimento, a Turquia investiu pesado para tê-los em seu país, atuando nos clubes e apoiando uma nova geração.
Na seleção feminina, o primeiro resultado veio em 2009, quando ficaram em segundo lugar na Liga Europeia de Seleções, resultado repetido em 2011. A Turquia obteve um ótimo terceiro lugar no Grand Prix de 2012, segundo torneio de seleções mais importante da época, terminando atrás apenas de Estados Unidos e Brasil. No mesmo ano, a equipe venceu o torneio qualificatório para os Jogos Olímpicos de 2012, sendo campeã e eliminando a Polônia, país com mais tradição na modalidade.
Pela primeira vez disputando uma Olimpíada, a Seleção Turca de Vôlei Feminino chegou em Londres sem muita expectativa de classificação, mas com a possibilidade de ser uma surpresa, e assim foi. Em um difícil grupo com EUA, Brasil e China, a Turquia terminou a primeira fase eliminada, em 5º lugar no grupo. Apesar disso, a seleção venceu a Sérvia, a Coreia do Sul – que se classificou, e fez um jogo duro com o Brasil, que posteriormente levou o ouro. A partida entre essas duas seleções levou cinco sets e contou com várias viradas antes do resultado de 3 a 2 para o Brasil.
Após um fraco ciclo e o insucesso na classificação para as Olimpíadas de 2016, a Turquia fez um novo investimento e veio com tudo em 2017. Tirando jogadoras de ponta que atuavam na liga russa, passou a existir também uma preocupação em naturalizar jogadoras, como Meliha İsmailoğlu, que se transferiu para Turquia em 2011 e Melissa Vargas, atleta de Cuba, que disputa partidas oficiais pela seleção turca desde 2023, cinco anos após sua transferência para o Fenerbahçe.
Com uma equipe mais forte, vieram melhores resultados. Durante o ciclo olímpico de Tóquio, a Turquia levou uma medalha de prata, em 2018, e uma de bronze, em 2021, na Liga das Nações (competição que substituiu o Grand Prix) e foi vice-campeã do Campeonato Europeu de 2019 para uma forte Sérvia. Em Tóquio, a seleção caiu nas quartas de finais para a Coreia do Sul, mas terminou em 5º lugar, sendo essa a melhor campanha até Paris.
Na trajetória para 2024, a Turquia venceu dois torneios importantes para o voleibol europeu e mundial: o Campeonato Europeu, em uma revanche contra a Sérvia, em 2023, e a Liga das Nações do mesmo ano, para cima da China, colocando o país como favorito para os Jogos Olímpicos do ano seguinte, contando com um forte elenco comandado pelo treinador italiano Danielle Santarelli.
Com Karakurt, Melissa Vargas, Zehra Güneş e outras atletas nas competições mais fortes do mundo, a Turquia enfrentou Itália, Holanda e República Dominicana na primeira fase dos Jogos Olímpicos, avançando em segundo lugar e passando por alguns sustos. Entretanto, a dura e equilibrada partida contra a China, que resultou em vitória para as turcas, levou a seleção a sua melhor colocação na história das Olimpíadas e garantiu a briga por medalha, mesmo com a eliminação para a Itália nas semifinais.
Enfrentando um Brasil forte, mas possivelmente mais abalado pela derrota na fase anterior, a Turquia pode, pela primeira vez, conquistar uma medalha olímpica e mostrar que com o investimento e a boa preparação de base e elenco profissional podem resultar em um ganho esportivo para o país.