Por Patrick Simão / Além da Arena

O Santos Futebol Clube, uma das principais referências históricas do futebol feminino brasileiro no século XXI, foi rebaixado neste domingo para a Série A2 do Brasileirão. Esta queda, no entanto, já era previsível desde o início do campeonato, com a debandada das principais jogadoras do elenco do ano passado (que levaram o clube à Libertadores), sem as recomposições devidas.

Uma série de escolhas erradas, junto ao acúmulo de má gestões, levaram as Sereias da Vila à inédita queda. A debandada começou com casos de assédio, denunciados por 19 jogadoras contra o então treinador do clube, Kleiton Lima. Como o grupo era bem qualificado, as Sereias chegaram até a semifinal do Brasileirão, mas, de 2023 para 2024, as condições internas e propostas de outros clubes que evoluíram no futebol feminino fizeram Cristiane, Brena, Yayá, Camila e outros pilares saírem do time.

A nova gestão, além de não repor como devia, manteve a comissão de futebol que defendeu Kleiton Lima em 2023. Também colocaram Modesto Roma, ex-presidente que teve contas reprovadas, na gestão do futebol feminino. O treinador escolhido para 2024 estava no sub-17, sem nenhuma experiência em grandes clubes no nível profissional.

Após os primeiros resultados negativos, o Santos, além de não ter senso de urgência para contratar jogadoras de maior qualidade, conseguiu fazer pior: recontratou Kleiton Lima e tentou defendê-lo em coletivas, com Thais Picarte e com aval do presidente Marcelo Teixeira. Tentaram defendê-lo, argumentando que investigaram internamente as denúncias, algo negado por grande parte das ex-jogadoras, que afirmaram nunca terem sido procuradas pelo clube. Com a óbvia e necessária pressão midiática, Kleiton deixou o cargo.

Era metade do campeonato e o Santos tinha um mês livre para buscar uma retomada, mas seguiu provinciano e amador. Resgatou treinador e jogadoras antigas, em outro momento de suas carreiras, e não teve visão de mercado. Quase todas as novas contratadas vieram do 3B Amazônia, que conseguiu recentemente o acesso para a Série A1.

O resultado não podia ser outro. Com o elenco masculino na Série B, a gestão do profissional feminino foi deixada ainda mais de lado, sem controle de gastos e, constatadamente, sem um trabalho de mercado ou de comissão técnica. Agora, os torcedores precisam lidar com mais um rebaixamento, de um clube que nunca havia caído até 8 meses atrás.

Em nota, o clube tentou argumentar a perda de prestígio no mercado da gestão anterior, de Andres Rueda. No entanto, o clube manteve toda a estrutura do departamento de futebol feminino em 2023 e chegou a recontratar Kleiton Lima. O rebaixamento estava óbvio. Esse resultado é triste também para o futebol feminino: a queda de uma das referências do futebol feminino brasileiro, clube primordial na criação da Libertadores feminina, em 2009, com Marta e Cristiane no ataque.

O clube ainda foi bicampeão continental em 2010 e vice em 2018. Além disso, venceu a extinta Copa do Brasil em 2008 e 2009 e o Brasileirão em 2017, contra o Corinthians. Os títulos e glórias novamente ficam no passado e o amadorismo é ainda maior no futebol feminino do clube.